"Talvez ele pensou que Cave poderia salvá-lo uma segunda vez?" sugeriu Ray,
"Mas aí está a coisa," disse Keri. "Mesmo que, tecnicamente, Cave tenha sido seu advogado de defesa, em seu último julgamento, no que ele foi condenado, Anderson se defendeu. E supostamente, a defesa foi excelente. Os boatos são de que ele era tão convincente que se o caso não fosse forjado em aço, ele teria saído ileso."
"Se esse cara era um gênio, contrapôs Mags, “como o caso contra ele foi tão forte em primeiro lugar”?"
"Eu perguntei a mesma coisa," respondeu Keri. "E ele concordou comigo que era estranho que alguém tão inteligente e meticuloso como ele fosse pego daquela maneira. Ele não chegou a dizer isso, mas ele essencialmente me indicou que ele quis ser condenado."
"Mas por que nesse mundo?!" perguntou Mags.
"Essa é uma pergunta excelente, Margaret," disse Keri, fechando o notebook. "E é uma que eu pretendo abordar com o Sr. Anderson bem agora."
*
Keri estacionou seu carro na estrutura massiva do outro lado das Twin Towers e caminhou até o elevador. Algumas vezes, se ela precisasse visitar no dia, a massiva instituição de encarceramento do condado estava tão ocupada que ela precisava ir até o décimo andar descoberto para encontrar uma vaga de estacionamento. Mas eram quase 8 da noite e ela encontrou uma vaga no segundo andar.
Ao atravessar a rua, ela repassou o plano. Tecnicamente, por coisa da sua suspensão e da investigação do AI, ela não tinha autorização para se encontrar com um prisioneiro em uma sala de interrogatório. Mas isso ainda não era de amplo conhecimento. Ela estava esperando que sua familiaridade com os agentes da prisão a permitiria blefar seu caminho até lá.
Ray se ofereceu para acompanhá-la para facilitar o caminho. Mas ela se preocupou que isso levasse a questionamentos, potencialmente colocando-o em problemas. Mesmo se não ocorresse dessa maneira, poderia ser requisitado a ele que se sentasse na entrevista com Anderson. Keri sabia que o cara não se abriria sob essas circunstâncias.
Por fim, ela não necessitava de ter se preocupado.
"Como vai, Detetive Locke?" o Oficial de Segurança Beamon perguntou enquanto ela se aproximava do detector de metais no lobby. "Estou surpreso em você de pé e andando por aí depois briga com o psicopata mais cedo essa semana."
"Ah, sim," concordou Keri, decidindo usar seu confronto passado em sua vantagem, "eu também, Freddie. Parece que eu estava em uma luta pelo título, né? Na verdade, eu ainda estou de licença até ficar em forma. Mas eu estava ficando agitada no apartamento, então eu pensei que pudesse dar uma olhada em um caso antigo,. É informal, então eu nem trouxe a arma e o distintivo. É tranquilo se eu entrevistar alguém mesmo se eu estiver fora do horário?"
"Claro, Detetive. Eu só gostaria que você pegasse leve. Mas eu sei que você não vai. Assine. Pegue seu distintivo de visitante e siga para o andar de interrogatório. Você conhece a manobra."
Keri conhecia a manobra e quinze minutos depois ela estava sentada em uma sala de interrogatório, esperando pela chegada do prisioneiro #2427609 ou Thomas "O Fantasma" Anderson. O guarda a avisara que eles estavam se aprontando para desligar as luzes e que poderia levar um tempo extra para trazê-lo. Ela tentou ficar calma enquanto esperava, mas sabia que era uma batalha perdida.
Anderson sempre parecia entrar na pele dele, como se ele estivesse secretamente descascando seu escalpo para revelar seu cérebro e ler seus pensamentos. Várias vezes, ela sentia como se fosse um gatinho de estimação e ele estivesse segurando um daqueles lasers, mandando-a a galope em direções aleatórias ao seu bel prazer.
Ainda sim, foi a informação que ele fornecera, mais do que todas as outras informações, que a fez seguir pelo caminho que a colocou mais próxima de encontrar Evie Fora proposital ou apenas sorte? Ele nunca lhe dera qualquer indicativo de que os encontros deles fossem algo mais além de causalidade. Mas se ele estava tão à frente do jogo assim, por que ele o faria?
A porta se abriu e ele andou por ela, aparentando exatamente como ela se lembrava. Anderson, em meados dos seus cinquenta, estava mais para baixo, cerca de um metro e setenta, com uma silhueta quadrada bem construída, que sugeria que usava a academia da prisão regularmente. As algemas em seus antebraços musculosos pareciam apertadas. Ainda, ele parecia mais magro do que ela se lembrava, como se tivesse perdido algumas refeições.
Seu cabelo espesso estava partido rigorosamente, mas para grande surpresa, não era o preto carvão do qual ela se recordava. Agora era mais uma combinação de sal e pimenta. Nas beiradas do macacão da prisão, ela ainda podia enxergar as porções das múltiplas tatuagens que cobriam o lado direito do corpo dele até o pescoço. Seu lado esquerda ainda estava imaculado.
Enquanto ele era direcionado para a cadeira de metal do outro lado da mesa, seus olhos cinzentos nunca a deixaram. Ela sabia que ele estava a absorvendo, estudando-a, medindo-a, tentando aprender o máximo que ele podia sobre a situação dela antes que ela dissesse uma palavra.
Depois que ele estava sentado, o guarda tomou um posto ao lado da porta.
"Estamos bem, Oficial... Kiley," disse Keri, mirando seu crachá.
"Procedimento, senhora," o guarda disse bruscamente.
Ela o encarou. Ele era novo... e jovem. Ela duvidava que ele já estivesse na lista, mas ela não poderia arcar com qualquer pessoa, corrupta ou limpa, escutando essa conversa. Anderson sorriu ligeiramente para ela, sabendo o que estava por vir. Isso provavelmente seria divertido para ele.
Ela se levantou e olhou para o guarda até que ele sentisse os olhos dela e olhasse para o lado.
"Em primeiro lugar, não é senhora. É Detetive Locke. Em segundo lugar, não dou a mínima sobre seu procedimento, novato. Quero falar com esse prisioneiro em particular. Se você não pode acomodar isso, então eu preciso conversar com você em particular e não vai ser um papo confortável."
"Mas..." Kiley começou a balbuciar enquanto alternava de um pé para o outro.
"Mas nada, Oficial. Você tem duas escolhas aqui. Você pode me deixar falar com esse preso em particular. Ou podemos ter aquela conversa! Qual vai ser?"
"Talvez eu devesse chamar meu superv─"
"Que não está na lista de escolhas, Oficial. Sabe de uma coisa? Vou decidir para você. Vamos lá fora para que eu possa conversar com você um pouco. Alguém poderia pensar que derrubar um fanático religioso pedófilo me daria passaporte pelo resta da semana, mas eu acho que agora eu tenho que instruir um agente carcerário também."
Ela chegou para a maçaneta da porta e começou a puxar quando Oficial Kiley finalmente perdeu o que restava da sua coragem. Ela ficou impressionada com quanto tempo ele durou.
"Deixa para lá, Detetive," ele disse apressadamente. “Vou esperar do lado de fora. Apenas por favor, tenha cuidado. Este prisioneiro tem uma história de incidentes violentos”.
"Claro que sim," disse Keri, sua voz agora toda com mel amanteigado. "Obrigado por ser tão amável. Tentarei ser breve."
Ele saiu e fechou a porta e Keri voltou ao seu lugar, cheia de confiança e energia que estavam faltando há apenas trinta segundos.
"Isso foi divertido," disse Anderson suavemente.
"Tenho certeza," respondeu Keri. "Pode apostar que eu espero informações preciosas em retorno por fornecê-lo com entretenimento de tal qualidade."
"Detetive Locke," disse Anderson em um tom de indignação zombeteira, "você ofende meus sentimentos delicados. Passaram-se meses desde que nos vimos e, ainda sim, seu primeiro instinto ao me ver é exigir informações? Sem olá? Sem como você vai?"
"Olá," disse Keri. "Eu perguntaria como você está, mas está claro que você não está ótimo. Você perdeu peso. O cabelo ficou grisalho.