Depois que a Imperatriz visitara a Inglaterra, até os criados passaram a falar incessantemente sobre a real visitante. Aletha ouvia a conversa dos criados, o que a Duque sa certamente desaprovaria se estivesse viva.
Em 1874 a Imperatriz visitara o Duque de Rutland, no Castelo de Belvoir, e pela primeira vez participara de caçadas em solo inglês. Uma das arrumadeiras do Castelo, chamada Emily, viera trabalhar em Ling.
Impressionada com a beleza de Sua Majestade, Emily não se cansava de fazer comentários sobre a Imperatriz, os quais Aletha ouvia com prazer.
O próprio Duque de Buclington fornecia à filha informações sobre a Imperatriz, embora não se desse conta de tal fato. Certo dia Aletha ouviu o pai dizendo a um de seus convidados:
—A Rainha , acompanhada de John Brown, foi visitar a Imperatriz em Ventnor, onde esta alugou uma casa.
—Ouvi mesmo dizer que a Imperatriz estava lá— o convidado respondeu.
—Soube que ela foi para Ventnor a fim de tratar da filha adoentada, a quem os médicos recomendaram banhos de mar.
—Exatamente. Disseram-me que John Brown ficou impressionadíssimo com a beleza da Imperatriz!
Esse comentário do Duque provocou risos. É que o escudeiro John Brown era muito afeiçoado à Rainha, que não escondia seu favoritismo pelo melancólico escocês. Cortesãos e estadistas se ressentiam do fato de, às vezes, serem tratados com certa rudeza, enquanto John Brown era sempre merecedor da simpatia e da preferência de Sua Majestade.
Quando o riso diminuiu, o convidado do Duque observou:
—Soube que John Brown ficou embasbacado com a beleza da Imperatriz , porém a pequena Valéria assustou-se com a Rainha e chegou a dizer: “Nunca vi uma lady tão gorda!”
Mais risadas ecoaram pela sala, porém Aletha, ouvindo a conversa, estava mais interessada nos comentários sobre a linda Imperatriz.
Quando Elizabeth voltou à Inglaterra, dois anos antes houve muitos mexericos sobre ela. Na ocasião, todos associavamseu nome ao do Capitão Bay Middleton. Comentavam que a Imperatriz vivia alegre e animada, não se cansando nunca.
Ela assistiu a todas as steeple-chases e, ao final de uma competição, entregou a taça de prata ao vencedor.
Era tão evidente o entusiasmo de Elizabeth e sua beleza tão marcante que se começou a especular se tudo isso seria resultado das caçadas em si ou da companhia do homem com quem ela caçava.
Aletha tivera oportunidade de conhecer o Capitão Bay Middleton e pôde compreender por que a Imperatriz o admirara tanto. Ele era um homem alto, de trinta anos, moreno, de cabelos castanho-avermelhados, e sobretudo, muito bonito.
O nome “Bay” lhe fora dado em homenagem ao famoso cavalo vencedor do Derby de 186.
Quando Bay Middleton foi convidado para ir caçar em Godollo, ao norte de Budapeste, o Duque de Buclington também recebeu o mesmo convite da Imperatriz.
Quando o pai partiu para a Hungria, Aletha desejou ardentemente poder ir com ele e pediu a Deus que um dia tivesse a oportunidade de conhecer aquele país.
Agora a Imperatriz estava realmente decidida a vir a Ling! Nada podia ser mais excitante não só para o Duque, mas também para ela, os da casa e aqueles que moravam na vasta propriedade.
Quanto ao Sr. Heywood, sem dúvida ficou entusiasmado ao receber a incumbência de ir à Hungria comprar cavalos para o Duque .
—Eu ia mesmo falar com Vossa Alteza sobre uma venda especial a ser realizada no Tattersall’s esta semana— o administrador disse ao patrão—, mas, se vamos adquirir puros-sangues na Hungria, não há necessidade de compra alguma naquele mercado de cavalos.
—E por que não compramos alguns belos animais no Tattersal `s além de outros na Hungria? Você somente partirá para este país quando eu embarcar para a Dinamarca. Haverá tempo suficiente para deixarmos os puros-sangues perfeitamente adestrados até a vinda da Imperatriz.
—Ótimo, Alteza! Não há nada que me dê mais prazer do que gastar seu dinheiro em belos animais!
O Duque riu.
A notícia de que a Imperatriz, viria para Ling no outono espalhou-se como um rastilho dé pólvora pela propriedade, pelas vilas e por todo o condado.
Nos dias seguintes, visitantes e mais visitantes foram a Ling para saber se era mesmo verdade que a Imperatriz Elizabeth viria passar alguns dias na propriedade do Duque. A todos Aletha repetia que realmente estavam aguardando a visita de Sua Majestade.
Para ela era um divertimento ver a surpresa, o entusiasmo e até a inveja nos olhos dos visitantes.
Apesar de a filha assegurar que a suíte a ser ocupada pela Imperatriz não precisava ser redecorada, o Duque de Buclington, fez questão de fazer alguns reparos nos luxuosos aposentos, a começar pelos retoques nas folhas de ouro do forro e dos entalhes.
—Quanto tempo irá ficar na Dinamarca, papai?— Aletha perguntou quando o Duque começou a separar o que pretendia levar na viagem.
—Receio ter que ficar ausente pelo menos duas semanas, minha querida. Gostaria muito de poder levá-la comigo— o pai respondeu ao retirar do cofre suas medalhas e condecorações.
—Seria tão bom! Tudo aqui fica tão aborrecido sem você, papai.
—Sua prima Jane virá lhe fazer companhia.
Ao ouvir isso, Aletha fez uma careta, porém não comentou nada. Jane já era idosa, contava mais de sessenta anos e não ouvia bem.
Morando a apenas umas poucas milhas de Ling e sendo prestativa, a prima estava sempre disposta a passar algum tempo em Ling fazendo companhia a Aletha e lhe servindo de chaperon.
Contudo, apesar de toda a sua boa von tade, Jane não deixava de ser uma mulher entediante. O próprio Duque procurava evitar sua presença sempre que ele se achava em casa.
O consolo de Aletha era que podia escapar das constantes reclamações e queixas da prima sobre doenças, indo cavalgar.
Certa vez Aletha havia sugerido ao pai que convidasse uma outra parente mais jovem para servir-lhe de chaperon, porém
logo constatou que a lady em questão era péssima cavaleira e ficara melindrada por ter ficado para trás, sozinha, quando cavalgara com outras pessoas.
Bom mesmo, Aletha pensava, era cavalgar ao lado do pai, e quando ele se achava em Ling havia sempre pessoas interessantes e divertidas que vinham visitá-los dia após dia.
O Duque também costumava organizar corridas ponto a ponto e steeple-chases, das quais tomavam parte seus convidados e os moradores vizinhos.
—Não se demore muito, papai— Aletha pediu ao Duque.
—Ficarei ausente apenas o tempo necessário, nem um minuto mais, minha filha. Por mais que eu goste dos dinamarqueses, acho seus cerimoniais infindáveis e os discursos extremamente cansativos!
—Será que a Rainha não teria outra pessoa para ir em seu lugar?— Aletha sugeriu sem esconder seu mau humor.
Os olhos do Duque ganharam um brilho travesso.
—Sua Majestade quer ser representada por pessoas de talento e ela aparência!
A filha riu.
—Nesse caso, não há um nobre capaz de substituí-lo, papai! Chego a recear que você deixe para trás um grande número de dinamarquesas com o coração partido.
—Não sei de onde você tira tais ideias! — o pai replicou, porém sentiu-se envaidecido com o elogio.
À véspera de sua partida, o Duque acertou com o Sr. Heywood os últimos detalhes sobre a missão deste último na Hungria. Ambos