Riley abanou a cabeça, pesarosa.
“Quem me dera saber,” Disse. “Aprendi a confiar no meu instinto, mas meu instinto não me diz nada. Só sinto um enorme vazio.”
Ryan lhe tocou na mão.
“O que quer que tenha acontecido, não é sua responsabilidade,” Disse ele.
“Tem razão,” Disse Riley.
Ryan bocejou.
“Estou cansado,” Disse. “Vou-me deitar cedo.”
“Eu fico por aqui mais um pouco,” Disse Riley. “Ainda não tenho sono.”
Ryan subiu as escadas e Riley se serviu de outra bebida. A casa estava silenciosa e Riley se sentiu só e estranhamente indefesa – tal como tinha a certeza que April se estava a sentir. Mas depois de outra bebida, começou a relaxar e rapidamente se sentiu sonolenta. Tirou os sapatos e se deitou no sofá.
Um pouco mais tarde acordou e viu que alguém a tinha tapado com um cobertor. Ryan devia ter descido para ver se estava confortável.
Riley sorriu, se sentindo agora menos só. Depois adormeceu novamente.
*
Riley teve um flash de déjà vu quando April se dirigiu à garagem dos Pennington.
Como fizera no dia anterior, Riley dissera.
“April, sai daí!”
Dessa vez, April puxou a fita da polícia antes de abrir a porta.
Depois April desapareceu no interior da garagem.
Riley foi atrás dela e entrou.
O interior da garagem era muito maior e mais escuro do que lhe parecera no dia anterior, parecendo agora um enorme armazém abandonado.
Riley não viu April em lado nenhum.
“April, onde está?” Chamou.
A voz de April ecoou no ar.
“Estou aqui mãe.”
Riley não sabia de onde vinha a sua voz.
Virou-se lentamente, espreitando a escuridão que parecia não ter fim.
Por fim, uma luz se ligou.
Riley ficou paralisada de horror.
Enforcada numa trave estava uma rapariga apenas alguns anos mais velha do que April.
Estava morta, mas os seus olhos estavam abertos e o seu olhar estava fixo em Riley.
E espalhados à volta da moça, em mesas e no chão, estavam centenas de fotografias emolduradas mostrando a moça e sua família em diferentes momentos de sua vida.
“April!” Gritou Riley.
Não obteve resposta.
Riley acordou e se sentou direita no sofá, quase hiperventilando com o terror do pesadelo.
Era tudo o que podia fazer para se impedir de gritar…
“April!”
Mas ela sabia que April estava lá em cima a dormir.
Toda a família estava a dormir – exceto ela.
Porque tive esse sonho? Interrogou-se.
Demorou apenas um instante para saber a resposta.
Percebeu que finalmente o seu instinto tinha entrado em ação.
Ela sabia que April tinha razão – havia algo de muito estranho com a morte de Lois.
E era ela que tinha de agir.
CAPÍTULO CINCO
Riley sentiu um arrepio ao sair do carro na Universidade Byars. E não era apenas porque estava frio. Da escola emanava uma estranha vibração.
Estremeceu profundamente ao olhar em seu redor.
Os alunos andavam pelo campus juntos como que para combater o frio, se apressando para os seus destinos e mal falando uns com os outros. Nenhum deles parecia feliz por ali estar.
Não admira que este lugar faça com que os alunos se queiram matar, Pensou Riley.
O lugar parecia pertencer a um tempo passado. Riley quase se sentiu recuar no tempo. Os velhos edifícios de tijolo tinham sido mantidos num estado impecável. Tal como as colunas brancas, relíquias de tempos em que as colunas eram necessárias a esse tipo de cenário.
O campus era impressionantemente amplo, tendo em consideração que fora construído na capital da nação. É claro que DC tinha crescido à sua volta durante os quase duzentos anos de sua existência. A escola pequena e exclusiva tinha tido sucesso, produzindo alunos bem-sucedidos que depois ocupariam posições de poder nas finanças e na política. Os alunos iam para escolas como aquela para manter elos de ligações que durariam uma vida inteira.
É claro que era demasiado cara para a família de Riley – mesmo com o apoio da bolsa que ocasionalmente se dava a alunos de excelência de famílias com menos posses. Não que ela alguma vez quisesse ver ali April. Ou Jilly.
Riley se encaminhou para o edifício da administração e descobriu o gabinete do reitor onde foi cumprimentada por uma secretária de aspeto rígido.
Riley mostrou o distintivo à mulher.
“Sou a Agente Especial Riley Paige do FBI. Liguei.”
A mulher assentiu.
“O Reitor Autrey está esperando por si,” Disse ela.
A mulher conduziu Riley até um gabinete grande e sombrio, forrado de madeira escura.
Um homem idoso mas elegante se levantou de sua secretária para a cumprimentar. Era alto, tinha cabelo grisalho e usava um fato caro com laço.
“Agente Paige, presumo,” Disse ele com um sorriso arrepiante. “Sou o Reitor Willis Autrey. Se sente, por favor.”
Riley sentou-se em frente à sua secretária. Autrey se sentou e girou a cadeira.
“Não estou certo da natureza de sua visita,” Disse ele. “Algo relacionado com o infeliz falecimento de Lois Pennington, não é verdade?”
“Quer dizer, o seu suicidio,” Disse Riley.
Autrey anuiu.
“Não me parece que seja um caso para o FBI,” Disse ele. “Liguei aos pais da moça, lhes transmiti as mais sinceras condolências da escola. Eles estavam devastados, claro. Foi uma grande infelicidade. Mas não pareciam ter preocupações específicas.”
Riley percebeu que tinha que escolher as palavras com muito cuidado. Não estava ali a tratar um caso para o qual tivesse sido designada – na realidade, os seus superiores em Quantico não aprovariam aquela visita de maneira nenhuma. Mas talvez conseguisse evitar que Autrey o soubesse.
“Outro membro da família se mostrou preocupado,” Disse ela.
Calculou que não houvesse necessidade de lhe dizer que falava da irmã adolescente de Lois.
“Que infelicidade,” Disse ele.
Ele parece gostar de usar essa palavra – infelicidade, Pensou Riley.
“O que é que me pode dizer sobre Lois Pennington?” Perguntou Riley.
Autrey começava agora a parecer aborrecido como se estivesse pensando em outras coisas.
“Bem, nada que sua família já não lhe tenha transmitido, tenho a certeza,” Disse ele. “Não a conhecia pessoalmente, mas…”
Se virou para o computador e digitou qualquer coisa.