Para além de tudo, o momento não parecia o mais adequado. Riley estava preocupada por ter de voar para Seattle naquela mesma manhã. Mas o Bill precisava de ajuda e isso para ela era suficiente. Jilly parecera bem quando conversaram sobre o assunto em casa, mas Riley não sabia muito bem o que esperar naquele momento.
Felizmente, não teve que levar Jilly para a escola sozinha. Ryan tinha-se oferecido para as levar e tanto Gabriela como April também estavam presentes para oferecer apoio moral.
Quando todos saíram do carro no parque de estacionamento da escola, April pegou na mão de Jilly e caminhou com ela na direção do edifício. As duas jovens esguias usavam calças de ganga, botas e casacos quentes. No dia anterior Riley fora fazer compras com elas e deixara Jilly escolher um novo casaco, uma colcha, cartazes e algumas almofadas para personalizar o seu quarto.
Riley, Ryan e Gabriela seguiam atrás das raparigas, e Riley enterneceu-se ao observá-las. Depois de anos de taciturnidade e rebelião, April de repente parecia incrivelmente madura. Riley interrogou-se se April não precisara de algo semelhante desde sempre – tomar conta de alguém.
“Olha para elas,” Disse Riley a Ryan. “Estão a criar laços.”
“Maravilhoso, não é?” Disse Ryan. “Parecem mesmo irmãs. Foi isso que te atraiu nela?”
Era uma pergunta interessante. Quando ela trouxe Jilly para casa, Riley fora surpreendida pelas diferenças entre as duas raparigas. Mas agora apercebia-se cada vez mais de parecenças. April era a mais pálida das duas com olhos cor de avelã como a mãe e Jilly tinha olhos castanhos e uma compleição mais morena.
Mas naquele momento em que as duas cabeças de cabelo escuro se moviam juntas, eram muito parecidas.
“Talvez,” Disse Riley, respondendo à pergunta de Ryan. “Não parei para pensar. Só sabia que ela tinha problemas graves e que talvez eu pudesse ajudar.”
“O mais certo é teres-lhe salvado a vida,” Disse Ryan.
Riley sentiu um nó na garganta. Aquela possibilidade não lhe tinha ocorrido e era um pensamento de humildade. Riley sentia-se tanto entusiasmada como assustada por esse novo sentimento de responsabilidade
Toda a família se dirigiu ao gabinete da orientadora escolar. Carinhosa e sorridente como sempre, Wanda Lewis cumprimentou Jilly com um mapa da escola.
“Vou levar-te já para a tua sala,” Disse Wanda.
“Percebe-se que é um bom lugar,” Disse Gabriela a Jilly. “Vais ficar bem aqui.”
Agora Jilly parecia nervosa, mas feliz. Abraçou-os a todos, depois seguiu Wanda pelo corredor.
“Gosto desta escola,” Disse Gabriela a Ryan, Riley e April quando se encaminhavam para o carro.
“Ainda bem que é do teu agrado,” Disse Riley.
E disse-o com sinceridade. Gabriela era muito mais do que uma empregada. Ela era um verdadeiro membro da família. Era importante que ela se sentisse bem com as decisões da família.
Entraram todos no carro e Ryan ligou a ignição.
“Para onde vamos agora?” Perguntou Ryan com alegria.
“Tenho que ir para a escola,” Disse April.
“Depois casa logo a seguir,” Disse Riley. “Tenho que apanhar um avião em Quantico.”
“Entendido,” Disse Ryan, saindo do parque de estacionamento.
Riley observou o rosto de Ryan enquanto ele conduzia. Parecia realmente feliz – feliz por fazer parte do mundo delas e feliz por ter um novo membro na família. Ele não fora assim durante grande parte do seu casamento. Parecia mesmo um homem mudado. E em momentos como aquele, Riley sentia-se grata.
Virou-se e olhou para a filha que se encontrava no banco de trás.
“Estás a lidar com tudo isto muito bem,” Disse Riley.
April pareceu surpreendida.
“Estou a empenhar-me,” Disse. “Ainda bem que notaste.”
Por um momento, Riley foi apanhada de surpresa. Estava ela a ignorar a filha por estar preocupada em instalar devidamente o novo membro da família?
April calou-se durante uns instantes e depois disse, “Mãe, ainda estou contente por a teres trazido para casa. Acho que é tudo mais complicado do que eu pensava que seria ter uma nova irmã. Ela passou muito mal e por vezes não é fácil comunicar com ela.”
“Não quero que isto seja difícil para ti,” Disse Riley.
April sorriu fracamente. “Fui dura contigo,” Disse ela. “Eu sou suficientemente dura para lidar com os problemas da Jilly. E a verdade é que começo a gostar de a ajudar. Nós vamos ficar bem. Não te preocupes connosco.”
Riley ficou mais tranquila por perceber que deixaria Jilly ao cuidado de três pessoas em quem confiava absolutamente – April, Gabriela e Ryan. Ainda assim, incomodava-a ter que partir naquele preciso momento. Esperava que não fosse por muito tempo.
*
O chão afastou-se quando Riley olhou pela janela do pequeno avião da UAC. O avião subiu acima das nuvens em direção ao nordeste pacífico – quase seis horas. Dali a poucos minutos, Riley já via a paisagem a rolar debaixo deles.
Bill estava sentado a seu lado.
Ele disse, “Voar pelo país desta forma faz-me sempre pensar em outros tempos em que as pessoas tinham que caminhar, cavalgar ou andar de comboio.”
Riley anuiu e sorriu. Era como se Bill tivesse lido os seus pensamentos. E não era raro isso acontecer entre eles.
“O país devia parecer enorme para as pessoas nessa altura,” Disse ela. “Os colonos demoravam meses a atravessar o país.”
Um silêncio familiar e confortável caiu entre eles. Ao longo dos anos, ela e Bill tinham tido a sua conta de desentendimentos e discussões, e houvera momentos em que a sua parceria parecia à beira do fim. Mas agora ela sentia-se mais próxima dele por causa desses tempos difíceis. Ela confiava totalmente nele e sabia que da parte de Bill era recíproco.
Em momentos como aquele, ela ficava feliz por ela e Bill não terem cedido à atração que sentiam um pelo outro. Momentos houve em que tinham estado perigosamente próximos.
Teria estragado tudo, Pensou Riley.
Tinham sido inteligentes em se manterem afastados desse perigo. A perda da sua amizade seria muito difícil de imaginar. Ele era o seu melhor amigo.
Passado um bocado, Bill disse, “Obrigado por vires Riley. Preciso mesmo da tua ajuda desta vez. Acho que não conseguia lidar com este caso com outro parceiro. Nem mesmo a Lucy.”
Riley olhou para ele e não disse nada. Ela não teve que lhe perguntar em que pensava. Ela sabia que ele lhe ia finalmente dizer a verdade sobre o que tinha sucedido com a mãe. Então ela compreenderia quão importante e perturbador aquele caso era para ele.
Ele olhava em frente, recordando-se.
“Aconteceu quando eu tinha nove anos,” Disse ele. “Já te tinha dito que o meu pai era professor de matemática do liceu e que a minha mãe trabalhava como caixa num banco. Com três filhos, vivíamos sem dificuldades. Tínhamos uma vida feliz até que…”
Bill parou por um momento.
“Aconteceu quando eu tinha nove anos,” Prosseguiu. “Mesmo antes do Natal, o pessoal no banco da minha mãe deu a sua festa de Natal anual, trocando presentes e comendo bolo e todas aquelas coisas normais nestas situações. Quando a minha mãe voltou para casa nessa tarde, parecia que se tinha divertido e estava tudo bem, mas à medida que a noite avançou, ela começou a ter um comportamento estranho.”
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