Um SUV parou junto à pista. Dois homens com impermeáveis saíram do veículo e encaminharam-se para o avião. Apresentaram-se como Agentes Havens e Trafford do Departamento do FBI de Seattle.
“Vamos levar-vos para o gabinete do Médico-Legista,” Disse o Agente Havens. “O chefe da equipa desta investigação está lá à vossa espera.”
Bill e Riley entraram no carro, e o Agente Tarfford começou a conduzir debaixo de chuva torrencial. Riley conseguiu distinguir os habituais hotéis junto ao aeroporto e nais nada. Ela sabia que ali existia uma cidade vibrante, mas estava praticamente invisível.
Interrogou-se se enquanto ali permanecesse veria Seattle.
*
Mal Riley e Bill se sentaram na sala de reuniões do edifício de Medicina Legal de Seattle, ela pressentiu logo a existência de problemas. Trocou olhares com Bill e sabia que ele também sentiu essa mesma tensão.
O Chefe da Equipa Maynard Sanderson era um homem robusto com uma presença que oscilava entre o semelhante a um oficial militar e um pregador evangélico.
Sansderson olhava para um homem imponente cujo espesso bigode de morsa dava ao rosto o que parecia ser uma desconfiança permanente. Fora apresentado como Perry McCade, o Chefe da Polícia de Seattle.
A linguagem corporal dos dois homens e os lugares que ocuparem à mesa diziam muito a Riley. Seja por que razão fosse, a última coisa que queriam era estar juntos na mesma sala. E Riley também sentiu que ambos os homens não estavam minimamente satisfeitos por ter Bill e Riley ali.
Riley lembrava-se do que Brent Meredith dissera antes de deixarem Quantico.
“Não esperem uma receção calorosa. Nem os polícias, nem os agentes federais ficarão contentes por vos ver.”
Riley interrogava-se em que espécie de campo minado é que ela e Bill tinham penetrado.
Uma complexa luta pelo poder estava a decorrer sem que fosse pronunciada uma palavra. E ela sabia que dali a poucos minutos tudo se iria verbalizar.
Por contraste, a Chefe de Medicina Legal Prisha Shankar parecia afável e despreocupada. A mulher de pele escura e cabelo negro devia ter a idade de Riley e parecia ter um carácter estoico e imperturbável.
Afinal de contas, está no seu terreno, Pensou Riley.
O Agente Sanderson tomou a liberdade de iniciar a reunião.
“Agentes Paige e Jeffreys,” Disse ele a Riley e Bill, “Fico satisfeito por terem vindo de Quantico até aqui.”
Pelo seu tom de voz frio Riley interpretou precisamente o contrário.
“Estamos contentes por poder ajudar,” Disse Bill, não muito seguro de si próprio.
Riley limitou-se a sorrir.
“Meus senhores,” Disse Sanderson, ignorando a presença das duas mulheres, “estamos aqui para investigar dois homicídios. Um assassino em série pode estar a começar a cometer os crimes aqui na área de Seattle. Compete-nos a nós pará-lo antes que volte a matar.”
O Chefe de Polícia McCade pigarreou audivelmente.
“Deseja fazer algum comentário, McCade?” Perguntou Sanderson secamente.
“Não se trata de um assassino em série,” Disparou McCade. “E não é um caso para o FBI. Os meus homens têm tudo sob controlo.”
Riley começava a compreender tudo. Ela lembrava-se de Meredith dizer que as autoridades locais estavam a debater-se com este caso. E agora ela conseguia perceber porquê. Ninguém concordava em nada.
O Chefe de Polícia McCade estava furioso pelo facto de o FBI se estar a intrometer num caso de assassínio local. E Sanderson estava furibundo porque o FBI tinha mandado Bill e Riley de Quantico para por todos na ordem.
A tempestade perfeita, Pensou Riley.
Sanderson voltou-se para a Chefe de Medicina Legal e disse, “Dra. Shankar, talvez não se importasse de resumir o que sabemos até ao momento.”
Parecendo indiferente às tensões subjacentes, a Dra. Shankar clicou num comando para mostrar uma imagem no monitor de parede. Era uma foto de carta de condução de uma mulher de aspeto bastante normal com cabelo liso de cor castanha.
Shankar disse, “Há um mês e meio uma mulher chamada Margaret Jewell morreu em casa durante o sono de um aparente ataque cardíaco. Queixara-se no dia anterior de dores nas articulações, mas de acordo com a cônjuge, tal não era incomum. Ela sofria de fibromialgia.”
Shankar clicou novamente no comando e mostrou outra foto de carta de condução onde surgia um homem de meia-idade com um rosto bondoso mas melancólico.
Shankar disse, “Há alguns dias, Cody Woods entrou pelo seu próprio pé no Hospital South Hill a queixar-se de dores no peito. Também se queixava de dores nas articulações. Mais uma vez, a situação não tinha nada de surpreendente porque o paciente sofria de artrite e fora sujeito a uma cirurgia ao joelho na semana anterior. Algumas horas depois de dar entrada no hospital também ele morreu do que parece ter sido um ataque cardíaco.”
“Mortes não relacionadas,” Murmurou McCade.
“Então quer dizer que nenhuma destas mortes foi homicídio?” Perguntou Sanderson.
“A Margaret Jewell terá sido,” Disse McCade. “O Cody Woods nem pensar. Estamos a deixar que ele nos distraia. Estamos a turvar as águas. Se deixasse o caso ser resolvido por mim e pelos meus homens, resolveríamos isto em dois tempos.”
“Já passou um mês e meio desde o caso de Jewell,” Atirou Sanderson.
A Dra. Shankar sorriu de forma algo misteriosa enquanto McCade e Sanderson prosseguiam a sua disputa. Depois clicou novamente no comando. Surgiram mais duas fotos.
O silêncio apoderou-se da sala e Riley ficou surpreendida.
Os homens em ambas as fotos pareciam provenientes do Médio Oriente. Riley não reconheceu um deles, mas reconheceu perfeitamente o outro.
Era Saddam Hussein.
CAPÍTULO OITO
Riley olhou para a imagem no ecrã. Onde quereria chegar a Chefe de Medicina Legal ao mostrar uma foto de Saddam Hussein? O líder deposto do Iraque fora executado em 2006 por crimes contra a humanidade. Qual seria a sua ligação com um possível assassino em série em Seattle?
Depois de instalado o efeito das fotos, a Dra. Shankar falou novamente.
“Estou certa que todos reconhecemos o homem à esquerda. O homem à direita era Majidi Jehad, um dissidente da Shia contra o regime de Saddam. Em Maio de 1980, foi concedida permissão a Jehad para viajar até Londres. Quando parou numa esquadra de polícia de Bagdade para recolher o seu passaporte, ofereceram-lhe um sumo de laranja. Ele deixou o Iraque, aparentemente são e salvo. Morreu pouco depois de chegar a Londres.”
A Dra. Shankar mostrou muitos mais rostos do Médio Oriente.
“Todos estes homens tiveram destinos semelhantes. Saddam liquidou centenas de dissidentes da mesma forma. Quando alguns eram libertados da prisão, era-lhes oferecida uma bebida para celebrar a sua libertação. Nenhum viveu muito tempo.”
O Chefe McCade assentiu.
“Envenenamento por tálio,” Disse ele.
“Exato,” Disse a Dra. Shankar. “O tálio é um elemento químico que pode ser convertido num pó solúvel incolor, inodoro e sem sabor. Era o veneno predilecto de Saddam Hussein. Mas não foi ele que inventou a ideia de assassinar os seus inimigos com ele. Por vezes é denominado de ‘veneno do envenenador’ porque atua lentamente e produz sintomas que