Riley não respondeu. Demorou um momento para Riley registar que as palavras de Roston eram a mais pura verdade. Para ela, Shane Hatcher já não era um aliado. Na verdade, era um perigoso inimigo. E tinha que ser parado antes que fizesse mal a algum ente querido de Riley.
Para tal, ele tinha que ser apanhado ou morto.
“Diga-me mais coisas,” Disse Riley.
Roston acomodou o queixo à mão e debruçou-se na direção de Riley.
“Vou dizer algumas coisas,” Disse ela. “Gostaria que ouvisse sem falar. Não negue nem concorde com aquilo que vou dizer. Limite-se a ouvir.”
Riley anuiu com algum desconforto.
“A sua relação com Shane Hatcher prosseguiu depois da fuga de Sing Sing. Na verdade, tornou-se mais intensa do que nunca. Comunicou com ele mais do que uma vez – várias vezes, tenho a certeza, pessoalmente de forma ocasional. Ele ajudou-a em casos oficiais e ajudou-a em situações mais pessoais. A sua relação com ele tornou-se – como é que se diz? Simbiótica.”
Riley teve que se conter bastante para não reagir ao que era dito.
É claro que era tudo verdade.
Roston prosseguiu, “Tenho a certeza que tinha conhecimento da sua presença na cabana. Na verdade, o mais provável é ter concordado. Mas a morte de Shirley Redding não foi um acidente. E não fazia parte do acordo. Hatcher está fora de controlo e não quer ter mais nada a ver com ele. Mas tem medo dele. Não sabe como cortar a ligação.”
Instalou-se um silêncio inquietante entre Riley e Roston. Riley interrogou-se como é que ela sabia tudo aquilo. Parecia estranho. Mas Riley não acreditava em telepatia.
Não, é só uma grande detetive, Pensou Riley.
Esta nova agente era extremamente esperta e os seus instintos e intuição pareciam ser tão fortes como os de Riley.
Mas o que é que Roston estava a tentar fazer agora? Estaria a montar uma armadilha, a tentar obrigar Riley a confessar tudo o que tinha sucedido entre ela e Hatcher?
O instinto de Riley dizia-lhe o contrário.
Mas atrever-se-ia a confiar nela?
Roston sorria enigmaticamente outra vez.
“Agente Paige, pensa que não sei como se sente? Pensa que não tenho os meus próprios segredos? Pensa que não agi erroneamente e fiz um pacto com quem não devia? Acredite em mim, sei exatamente com o que está a lidar. Arriscou e às vezes as regras têm que ser quebradas. Por isso quebrou-as. Não são muitos os agentes que têm essa coragem. Quero muito a sua ajuda.”
Riley estudou o rosto de Roston sem responder. Foi novamente atingida pela sinceridade da nova agente.
Riley detetou um sorriso soturno a formar-se nos cantos da sua boca. Parecia que algo obscuro se insinuava em Roston, tal como acontecia com Riley.
Roston disse, “Agente Paige, quando comecei a trabalhar no caso Hatcher, deu-me acesso a todos os ficheiros de computador relacionados com ele, exceto um denominado ‘PENSAMENTOS’. Estava listado no índice, mas não o consegui encontrar. Disse-me que o apagou. Disse que eram apenas algumas notas sem importância e escritos redundantes.”
Roston recostou-se na cadeira, parecendo relaxar um pouco.
Mas Riley estava tudo menos descontraída. Tinha eliminado o ficheiro denominado PENSAMENTOS de forma precipitada, um ficheiro que continha informação vital sobre as ligações financeiras de Hatcher – ligações que o permitiam manter-se em fuga ao mesmo tempo que detinha considerável poder.
Roston disse, “Tenho quase a certeza de que ainda tem esse ficheiro.”
Riley conteve um estremecimento de alarme. A verdade era que ela guardara o ficheiro numa pen. Muitas vezes pensara em simplesmente apagá-lo, mas não o conseguia fazer. A influência de Hatcher sobre ela fora poderoso. E talvez ela pensasse que poderia utilizar aquela informação algum dia.
Em vez de o apagar, mantivera-o por uma questão de indecisão.
Encontrava-se na mala de Riley naquele preciso momento.
“Tenho a certeza de que esse ficheiro é importante,” Disse Roston. “Na verdade, pode conter informação de que preciso para prender Hatcher de uma vez por todas. E ambas queremos que isso aconteça. Tenho a certeza.”
Riley engoliu em seco.
Não devo dizer nada, Pensou.
Mas será que tudo o que Roston dissera não fazia perfeito sentido?
Aquela pen podia muito bem ser a chave para libertar Riley das garras de Shane Hatcher.
A expressão de Roston suavizou-se mais.
“Agente Paige, vou fazer-lhe uma promessa solene. Se me facultar essa informação, ninguém jamais saberá que a reteve. Não direi a ninguém. Nunca.”
Riley sentiu a sua resistência a ruir.
O seu instinto dizia-lhe que podia confiar na sinceridade de Roston.
Pegou silenciosamente na sua mala, retirou a pen e entregou-a à agente mais nova. Os olhos de Roston dilataram-se ligeiramente, mas não proferiu uma palavra. Apenas assentiu e colocou a pen no bolso.
Riley sentiu uma necessidade desesperada de quebrar o silêncio.
“Quer discutir mais alguma coisa, Agente Roston?”
A agente deu uma risadinha.
“Trate-me por Jenn, por favor. Todos os meus amigos o fazem.”
Riley observou Roston a levantar-se.
“Se não se importar, não a tratarei de outra forma que não por Agente Paige. Pelo menos até se sentir confortável para que seja de outra forma. Mas por favor, trate-me por Jenn. Insisto.”
Roston saiu da sala, deixando Riley ali sentada num silêncio espantado.
*
Riley foi para o seu gabinete tratar de papelada. Quando não estava a trabalhar num caso, aguardava-a sempre toneladas de tédio burocrático e só desaparecia quando regressava ao terreno.
Era sempre desagradável, mas naquele dia estava a seer especialmente difícil concentrar-se no que estava a fazer. Começava a preocupar-se cada vez mais com a possibilidade de ter cometido um erro pateta.
Porque raio acabara ela de entregar aquele ficheiro a Jannifer Roston – ou “Jenn” como ela insistira que Riley a tratasse?
Era nada mais, nada menos do que uma confissão de obstrução da parte de Riley.
Porque é que entregara aquela informação àquela agente em particular quando nunca a mostrara a mais ninguém? Será uma jovem agente ambiciosa não a reportaria a transgressão de Riley aos seus superiores – talvez mesmo ao próprio Carl Walder?
A qualquer momento, Riley podia ser presa.
Porque é que não se limitara a apagar o ficheiro?
Ou podia ter-se livrado dele como fizera com a corrente de ouro que Hatcher lhe dera. A corrente fora um símbolo da sua ligação a Hatcher. Também continha um código para entrar em contacto com ele.
Riley deitara-a fora num esforço frenético para se libertar dele.
Mas por qualquer razão, não conseguira fazer o mesmo com a pen.
Porquê?
A informação financeira que continha era suficiente para limitar os movimentos e atividades de Hatcher.
Até o podia parar de vez.
Era um enigma, tal como tantos aspetos da sua relação com Hatcher.
Enquanto Riley mexia em papéis na sua secretária, o telemóvel vibrou.