O segundo monge entra no círculo de fogo e se coloca em posição de batalha. Em questão de segundos, o mesmo profere orações ininteligíveis e imediatamente sinto um baque muito grande que provoca em mim uma dormência. Aos poucos, vou perdendo os sentidos e quando estou quase dormindo sinto meu espírito desprender-se do corpo material de um solavanco só. Imediatamente, me vejo fora do corpo, sinto o gosto da liberdade que isto me provoca e ao observar também vejo meu adversário em espírito frente a mim.
Rapidamente, o monge se concentra e cria armas espirituais com o objetivo de me atacar. Com isto, sou obrigado a também me proteger usando meus poderes de vidente. Quando estamos prontos, finalmente a luta começa. Com muita rapidez e experiência, sou atacado de diversas formas e inicialmente só penso em me defender e me esquivar dos ataques. Na maioria das vezes, consigo alcançar o objetivo, mas meu adversário é tão hábil que vez ou outra me atinge. Numa dessas, ele me atinge em cheio o que provoca minha primeira queda. Aproveito este momento rápido para refletir e realinhar minha estratégia. Iria atacar também mesmo que isso fosse bastante arriscado.
Na minha primeira tentativa, não tenho êxito, sou ferido novamente mas não desisto. Continuo tentando até que o atinjo. Ele parece se assustar mas logo se recupera mas volta a atacar novamente, agora com mais força e rapidez. Tento responder à altura e o combate fica cada vez mais interessante. A cada embate de nossas espadas,o mundo parece tremer e querer se destruir como na guerra entre anjos. É aí que tenho uma ideia. Provoco um encontro frontal entre as armas, o que resulta em sua destruição. Pronto. Tudo estava salvo. O mundo não acabaria nem Deus teria que atear fogo ao universo para evitar uma catástrofe maior.
O meu adversário não gosta de minha atitude, se concentra novamente e me atinge em cheio com seus poderes mentais. Caio de joelhos, muito confuso e tonto. Na minha mente atormentada, passam canarinhos, ovelhas, cavalos, e visões distorcidas de luz, trevas provocando em mim novamente um encontro das “forças opostas” e o despertar da minha poderosa, perigosa e tenebrosa “Noite escura da alma”. Fico um momento estático sem reação até que a luz se aproxima e escuto uma voz fininha me chamando de longe. Concentro-me na voz e em alguns instantes reconheço a guardiã, minha primeira mestra espiritual e sigo ao pé da letra suas orientações interiores. Isto me faz recobrar os sentidos, fico mais tranquilo e enfim consigo me levantar.
Encaro o meu adversário novamente, reconheço sua superioridade, mas uso todas as forças a minha disposição. Sirvo de ponte entre a luz e a realidade e o ataco de uma vez só. E a estratégia dá certo. O meu adversário cai, desacordado. O círculo de fogo se desfaz e corro para abraçar Renato. O primeiro obstáculo tinha sido superado e todos tinham uma participação na vitória, seja na torcida ou nos conselhos. Agora, cabia a nós continuar no caminho.
Esperamos o monge se recuperar, ele admite a derrota e permite a nossa passagem. Retomamos então a caminhada e como tínhamos atrasado um pouco apressamos os nossos passos ainda mais, avançando na natureza agreste. No caminho, passamos por novas experiências, novos e interessantes lugares e pessoas, ouvimos o som da mata, driblamos pedras, pedregulhos e espinhos, tudo diante de um sol escaldante de verão. Onde nos levaria nossas peripécias? Não sabíamos, apenas guardávamos promessas do destino que se revelava e se escondia a cada passo nosso. Mas continuaríamos tentando. Esta era uma decisão definitiva.
Continuamos avançando e em dado instante ultrapassamos a metade do percurso. O feito nos faz feliz novamente. Porém, sabíamos que novas dificuldades poderiam aparecer. E é o que não demora. Alguns passos adiante, somos cercados por caboclos, espíritos protetores da floresta. Ele nos encara e o chefe deles se aproxima mais e tenta estabelecer um diálogo.
—O que fazem aqui? Já faz muito tempo que andam na floresta, por acaso querem lhe fazer algum mal?
—De maneira nenhuma. Ao contrário, somos protetores. Estamos aqui numa missão de extrema importância, uma viagem de trabalho. Garanto que não machucaremos ninguém. (Eu)
—Somos os desbravadores do tempo, e buscamos a paz, o reconhecimento, o amor. Enfim, procuramos a evolução. (Complementa Renato)
—Acho bom. De qualquer maneira, saibam que serão vigiados continuamente. Não demorem muito. Pois há um limite de tempo por dia na mata. (O chefe dos espíritos caboclos)
Dito isto, desapareceram. Não tivemos tempo de perguntar mais detalhes sobre o limite e então por via das dúvidas nos apressamos ainda mais. Continuamos a caminhar, avançamos e ultrapassamos os três quartos do percurso em um período considerável. Neste momento, dúvidas nos assaltam, mas não temos tempo para pensar nelas. O importante era não fraquejar num momento tão importante.
Avançamos ainda mais e nos aproximamos do destino. Logo em seguida, chegamos em frente à arvore plantada por Angel e Victor, símbolos do seu amor. Concentro-me e estou prestes a tocá-la novamente, mas antes que eu faça o movimento, uma voz conhecida grita atrás de mim: —Não se mexa.
Volto para trás e deparo-me com Angel que rapidamente se aproxima. Espero ele chegar para me dar as explicações necessárias.
—Você estava prestes a se suicidar. Mas ainda bem que te encontrei a tempo. Queria te perguntar se você já explorou seus chacras.
—Não, mestre. Nem sei ao menos o que é Chacra nem explorá-lo. Como faço? (Indaguei)
—Os chacras individuais são os responsáveis pelo controle do fluxo energético carnal e espiritual. Eles utilizam a luz do sol para alimentar a nossa aura e se o desenvolvermos corretamente este poder podermos emitir nossa energia espiritual ao exterior facilitando a compreensão de muitas coisas. A fim de explorá-lo você tem que se concentrar no ambiente, sentir sua magia, seu poder e quando você se entregar completamente poderá entender o desafio atual com mais facilidade. (O mestre)
—Isto. Siga o que o mestre disse e lembre-se de esquecer tudo a seu redor. Lembre dos aprendizados anteriores. (Lembrou Renato)
—Tudo bem. Pelo menos eu vou tentar. (Confirmei)
Dito isto, fico de costas para os meus companheiros, fecho os olhos, esqueço todas a preocupações,anseios,inquietações,as companhias e começo a me concentrar na luz que aquece e dá vida ao planeta. Usando o meu tato espiritual, imagino as estrelas, os astros,planetas,cometas,sóis,galáxias,os seres, tudo isto fazendo parte da roda da vida, inventada por um grande Deus,onisciente,onipotente,onipresente mas invisível ás suas criaturas. Tento ligar-me a este poder grandioso, único ser capaz de me entender naquele momento e nesta busca viajo pelas inúmeras dimensões existentes. Em tudo reconheço o nome dele mas percebo ainda muitas tribulações e a natureza grita constantemente ao meu redor. E é aí que paro e grito também: —Deus meu, vem me socorrer! Estou tão triste, estou sozinho, não conheci o amor nem descobri o potencial dos meus chacras.
Espero a resposta por um tempo, ninguém me responde, eu me decepciono e quando já estava desistindo do meu objetivo, escuto uma voz interior me dizer: —Você não está sozinho e não precisa me procurar em espaços distantes porque eu estou dentro de você, eu sou parte de você. Também me senti muito triste e sozinho há aproximadamente dois milênios atrás porque fui traído e injustiçado pelo meu próprio povo. Mas venci. Se você acreditar em mim e segurar com confiança em minha mão poderei realizar milagres em sua vida. Você quer minha ajuda?
Ainda confuso com toda esta revelação, não titubiei e disse mentalmente a voz: —Sim, eu entrego inteiramente meu destino em tuas mãos. Farei minha parte para te ajudar.
Depois da resposta, senti uma explosão mental, tudo gira ao redor, várias visões se sucedem rapidamente mas não me concentro em nenhuma delas. É aí que sinto algo diferente em mim, uma corrente de energia que percorre todo o meu corpo e me faz ver ao longe. Num estalo, tenho controle sobre mim mesmo e quando me sinto seguro abro novamente os olhos. Volto a posição inicial e reencontro meus