Caravana. Stephen Goldin. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Stephen Goldin
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Серия:
Жанр произведения: Научная фантастика
Год издания: 0
isbn: 9788885356535
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      “—mas algumas pessoas ficaram intrigadas. A contestação do autor era indiscutível, ainda assim essas pessoas com ideias não queriam ver o fim da civilização. Então elas começaram a pensar em alternativas.”

      “E eu também, e fui odiado por isso. Claro que minhas sugestões eram radicais, mas eu estava lidando com uma situação de crise. Meus planos podem não ter funcionando, mas não seriam tão ruins comparados com o inferno que vivemos hoje.”

      Honon deu de ombros. “Quem saberá ao certo? De qualquer modo, aquelas pessoas com ideias viram o ressentimento contra você e decidiram trabalhar em segredo. Incluído neles estavam pessoas com influência, algumas com dinheiro, e outras com ambos.”

      “Isso sempre ajuda.”

      “Então eles construíram essa espaçonave—”

      Peter engasgou-se. “Ei, espera um minuto. Acho que perdi uma etapa aqui. O que é isso sobre uma espaçonave?”

      “Pense sobre isso; use essa sua mente incisiva. Se a Terra está esgotada, então a civilização teria uma melhor chance em outro lugar para continuar e crescer, correto? Onde mais podemos ir? Certamente nenhum outro planeta do sistema solar é capaz de sustentar uma colônia sem uma poderosa tecnologia por trás. Então isso nos deixa com as estrelas—particularmente, Epsilon Eridani.”

      Peter estava para dizer algo quando uma garota bateu na porta do veículo. Ela tinha cabelo escuro, e não podia ter mais que oito ou nove anos de idade. “Senhor Honon,” disse ela, “trouxe o jantar para você e para o outro homem.”

      “Obrigado, Mary”. Honon foi até sua janela e pegou duas tigelas com a garota. “Cuidado,” ele disse a Peter, enquanto passava uma das tigelas para ele. “Está quente.” A garota saiu e voltou para sabe-se lá o lugar de onde veio.

      O líquido nas tigelas era de uma consistência entre sopa e cozido. Havia batatas, ervilhas, feijões, cenoura, soja e até alguns pedaços pequenos de frango—praticamente um bufê nos padrões de hoje. O estômago de Peter estava gritando pelo fato de não ter tido nada o que comer desde um café da manhã ralo naquele dia. Ele aceitou a colher que Honon ofereceu e colocou um pouco da mistura na boca, apreciando a combinação de sabores. “Você come muito bem,” disse Peter.

      “Obrigado. Como mencionei, estamos tentando manter a civilização viva, e um dos aspectos mais agradáveis dela é a boa comida. Fazemos o que está ao nosso alcance enquanto viajamos, mas até isso é longe de ser uma refeição balanceada.”

      “Há pessoas que matariam por um pouco disso.”

      Honon suspirou. “Sim, eu sei bem. Houve algumas tentativas, e é por essa razão que usamos veículos armados para liderar essa procissão. Viajar nos dias de hoje não é algo que você faz por capricho.”

      Ambos comeram em silêncio por um momento, percebendo que sua refeição era literalmente um tesouro nesse mundo sem recursos. Peter terminou primeiro e recostou-se satisfeito.

      “Muito obrigado. Foi a melhor refeição que tive em semanas.”

      “Você gostaria de um pouco mais? Posso mandar a tigela para uma recarga.”

      “Não quero fazer incursões em seus suprimentos—”

      “Vamos ficar bem por um tempo. A parte de trás inteira daquele segundo caminhão está lotada de coisas congeladas ou desidratadas.”

      Peter ficou tentado, mas decidiu abster-se de pedir. “Não quero me acostumar com uma vida rica,” disse ele. “As coisas podem mudar abruptamente.”

      Honon acenou. “Verdade, mas nada me impede de viver bem enquanto posso. Eu aprendi quando pastoreava que você sobrevive os maus momentos e vive os bons.”

      “Você criava gado, então?”

      “Fui um pouco de cada coisa. Lenhador, caminhoneiro, patrulheiro, capataz, carpinteiro, lavador de louças—gosto de fazer coisas diferentes de tempos em tempos.”

      “E você é agora um condutor de uma caravana”

      “É. Então, o jeito que vejo isso é que você tem que continuar se movendo em direção a algo. Viajar não é o bastante; você tem que ter um objetivo em mente.”

      “E seu objetivo é as estrelas?”

      “Não imediatamente. Primeiro tenho que levar esse povo até o Monastério.”

      “Até o que?”

      “É assim que chamamos nossa pequena colônia. Uma vez foram os monastérios que mantiveram todo o conhecimento vivo durante a primeira Idade das Trevas, nós pensamos em batizar nossa base assim. Garanto que não tem nenhum significado religioso; somos todos muito tolerantes. Já é difícil viver hoje sem ter que reviver maus hábitos.”

      “Não são todos que pensam assim. O fanatismo parece ter chegado ao ápice,” falou Peter amargamente.

      Honon deu de ombros. “Não me importo eles se matando e tudo mais. Penso que que a raça só irá melhorar quando o fanatismo for removido do pool genético.”

      “Onde fica esse seu Monastério?”

      “Oh, fica por ai, em algum lugar.” Honon acenou com a mão em uma direção mais ou menos a leste. “Temo não poder ser mais específico. É segredo, e por um bom motivo. Vivemos muito bem a ponto de gerar inveja em pessoas do lado de fora. Se soubessem onde estamos, iriam nos destruir. É por isso que não posso contar para as pessoas da caravana aonde vamos exatamente—no caso de eles nos deixarem ou ficarem separados, não serão capazes de contar a outros.”

      “Mas se você planeja uma colônia interestelar, você deve ter um monte de gente—”

      “Quase cinco mil, na última contagem.”

      Peter assoviou. “Mas é impossível esconder tantas pessoas.”

      “Nós damos um jeito,” sorriu Honon.

      “Mas tirar essa quantidade de pessoas da Terra seria um enorme problema. Como você propõe fazê-lo?”

      “Para começar, nem todo mundo irá. Alguns de nós temos um sentimento de apego a esse velho mundo, e gostariam de ficar aqui tentando reabilitá-lo se possível. Somente uns três mil farão a viagem.”

      “Mas mesmo assim, o combustível necessário—”

      “Propulsão nuclear, o que permite grande energia com poucos gastos. O desenvolvimento do programa espacial nos últimos anos foi suprimido por outros assuntos nas reportagens e na imprensa. Tudo do que se falava eram guerras e carências. Não foi testado ainda em missões tripuladas, mas experimentos em terra foram promissores.”

      “Não vou fingir ser um engenheiro espacial, mas lembro-me de ter visto em um planetário que levaria milhares de anos para ir daqui até à estrela mais próxima. Você não pode esperar que os colonizadores vivessem isso tudo—somente a comida para três mil pessoas encheria diversas naves.”

      “O que você viu foi baseado em velocidades constantes. Motores nucleares, por sua vez, aceleram constantemente—dez milésimos de um ‘G,’ para ser preciso. Eu sei que não parece muito, mas vai se acumulando. As últimas estimativas dizem que se pode fazer a viagem em apenas seiscentos e cinquenta anos.”

      “Mas, mesmo assim—”

      “Lembra o que eu disse mais cedo sobre as técnicas de criogenia? Os colonizadores serão congelados momentos antes da decolagem e, exceto pela tripulação, não acordarão até que estejam em sua nova casa. Vai poupar suprimentos e espaço, já que não vão andar pela espaçonave.”

      Peter ficou parado por um instante, considerando as possibilidades. “Ou você é louco,” disse ele afinal, “ou o sonhador mais desesperado que eu conheço.”

      “Um pouco de ambos, espero. Estamos vivendo uma era realista,