– Mas tu fizeste-o. Muito obrigada, Grace. Oh, querida, estás a sangrar! – exclamou, apontando para a mão da sua amiga.
– É só um arranhão.
– Há um estojo de primeiros-socorros na casa de banho de baixo. Oh, Grace…
– Não te preocupes. Vou ligar a mão e ficará bem. Desfruta do que resta da manhã.
Grace estava na casa de banho, a lavar a mão, quando ouviu a porta principal a abrir-se. Ouviu alguém a subir para o andar de cima e, depois, a descer.
Esperou que fosse Connor.
– Em que estavas a pensar? – quis saber Mike.
Grace pegou numa ligadura e virou-se.
– Bom dia, Mike.
– Levaste tudo para cima sozinha?
– Fi-lo. Não sou uma inútil, como pareces pensar.
– Inútil? Tu? Nunca. Tens o temperamento de uma cobra.
Ela riu-se, apercebendo-se de que ele mudara de roupa.
– Vais a algum lado?
Mike franziu o sobrolho.
– O quê?
– Como vestiste calças de ganga limpas e uma t-shirt. Sei que não fizeste isso só por mim, Mike.
Durante um instante, Mike não disse nada e pareceu-lhe que o envergonhara.
– Caí.
– Estou a ver – replicou ela, sem conseguir evitar soprar.
– Um potro estúpido. Assusta-se com a sua própria sombra.
– Isso esclarece um pouco porque deixaste o circuito – indicou ela, rindo-se.
– Fico contente por te parecer engraçado.
– Sim, parece, tendo em conta que não te aconteceu nada – declarou, pondo a ligadura.
– Vais dizer-me porque estás a sangrar?
– Alex estava fechada naquele quarto dia após dia. Queria apanhar ar e sol. O que estava a fazer agora?
– Estava aninhada com Maren sob a manta, a ler histórias.
– Oh, isso é fantástico! – exclamou Grace, sorrindo.
Mike aproximou-se dela e segurou no seu pulso.
– Cortaste-te. Se tivesses esperado, eu ter-te-ia ajudado a levar a cadeira de baloiço.
– Não sabia quando voltavas e podia fazê-lo sozinha.
Mike pegou na ligadura e reforçou o penso que ela fizera. Ela começou a sentir um nó no estômago.
– Não tens de fazer tudo sozinha – respondeu ele. – Hoje falei com Phil. Disse-me que te recusaste a deixar que eu pagasse a conta do carro.
– Claro que recusei.
– Porquê?
Grace afastou a mão.
– Porque eu pago os meus gastos – afirmou. – Vivo a minha própria vida. Tomo as minhas próprias decisões. Eu… eu não confio noutras pessoas.
Não o fazia. Mike deixara-a. Steve falhara-lhe. Era muito melhor cuidar de si própria.
– Isso é-me familiar – respondeu ele.
– Sim, é. E porque tomas as tuas próprias decisões?
– Porque confiar noutras pessoas significa que terás uma desilusão.
– Sim – Grace respirou fundo. – As pessoas falham-nos. Tu não deixas que ninguém te diga o que fazer. Porque tentas fazê-lo comigo?
– Porque… Porque… Oh, bolas! – Mike franziu o sobrolho. – Porque parece que precisas!
Grace chegou-se para atrás. Percebeu que ele ainda pensava que ela era uma rapariga vulnerável que não podia cuidar de si própria. Sentiu vontade de chorar, mas conseguiu conter-se.
– Há muito tempo que renunciaste ao teu direito de fazer isso – murmurou. – E estou cansada de lutar. Já não consigo continuar a fazê-lo, Mike. Deixa-me em paz.
Capítulo 5
Mike aproximou-se, pondo a sua mão sobre o ombro de Grace.
– Lamento – murmurou. – Não queria fazer-te chorar.
– Não o fizeste. Não estou a chorar. As coisas começaram a acumular-se… Estou bem, a sério.
– Não estás bem.
Grace não tinha uma resposta para aquilo. Ele tinha razão.
– Preciso de um descanso. É só isso.
Mas o que realmente queria fazer era descansar sobre a força sólida dele. Sempre soubera que podia contar com ele. Mesmo quando ele se fora embora, soubera que se tivesse tido problemas e lhe tivesse dito, ele teria estado lá para ela. E não havia muita gente que fizesse o mesmo.
Suspirou e apoiou-se na sua mão. Sentia-se reconfortada só de o sentir ali. Sentir que durante alguns momentos não estava sozinha. Fechou os olhos quando ele apertou o seu ombro.
– Isto tem a ver com mais coisas do que estares simplesmente cansada, não é?
Grace engoliu em seco, tentando desfazer o nó da sua garganta. Mike abraçou-a contra o seu peito. Não disse nada, só a abraçou.
Contrariada, afastou-se do abraço dele para olhar para ele na cara.
– Obrigada – murmurou. – Precisava de um abraço. Eu também lamento. Estive a atacar-te, quando tudo o que querias fazer era ajudar-me.
– Vamos sair daqui – sugeriu ele. – Vamos esquecer-nos das discussões. Vem comigo e mostrar-te-ei como está a correr a construção da minha casa.
Grace tinha trabalho à espera dela em casa e um turno para cumprir na taberna naquela noite, mas não haveria problema se fizesse um descanso de meia hora. Teve de admitir a si própria que queria passar tempo com ele. E, além disso, tinha curiosidade por ver como estava a sua casa. Avistara-a ao longe e vira que já tinha tecto.
– Parece uma boa ideia. Eu adorarei vê-la.
A casa ficava a nordeste da de Connor, no alto de um pequeno montículo, e devia ter uma vista magnífica das montanhas.
Estava um pouco fresco e Grace, embora vestisse uma camisola grossa, abraçou-se para se aquecer. Mike vestira um casaco castanho sobre a sua t-shirt que realçava os tons acobreados do seu cabelo. Ao aproximar-se da casa, deu-lhe a mão para a ajudar a andar pelo chão desnivelado.
Gostou da casa. Mesmo no estado em que ainda estava, podia ver-se como ia ser bonita. Percorreu todas as divisões e, a certa altura, viu Mike à frente de uma grande janela, a olhar para as montanhas.
– Vais adorar – afirmou ela.
– É a minha primeira casa. Consegues acreditar? Tenho mais de trinta anos e nunca tive a minha própria casa – replicou ele, sem se virar para olhar para ela.
– Vai ser linda. Escolheste um espaço maravilhoso.
– Nunca pensei que quereria assentar. Mas de alguma forma… suponho que cresci.
Grace riu-se levemente, perguntando-se se Mike estaria a ficar sentimental.
– Acontece a todos. Suponho que algumas pessoas demoram mais a fazê-lo.
Mike afastou-se da janela e dirigiu-se para a divisão seguinte, que ela supôs que iria ser a cozinha.
– Sabes cozinhar? – brincou.
– Na verdade, não. A não ser que fritar