– Não te preocupes com Adán. Organizei um fim-de-semana fantástico para os dois. Quero que vás trabalhar e te concentres no que tens de fazer sem te preocupares connosco.
– Prometo não vos falhar.
Os olhos cinzentos da mãe humedeceram-se.
– Nunca me falhaste em vinte e sete anos de vida, nem penses que há essa possibilidade!
Briana, com os olhos também húmidos, assoou o nariz e deu-lhe um abraço forte. Era muito sortuda. Tinha a melhor mãe que uma rapariga podia desejar e um filho encantador que era a luz da sua vida. Deixando de lado os problemas financeiros, não estava nada mal. No entanto, assim que decidiu olhar para as coisas pelo lado positivo, a imagem do pai do seu filho cintilou na sua mente e a pontada que sentiu no coração quase a deixou com falta de ar.
A casa era impressionante. Situada no meio do verde aveludado das colinas suaves de Warwickshire, denominada a terra de Shakespeare, era uma bela relíquia da época tumultuosa dos Tudor. Qualquer pessoa que se interessasse por História teria olhado para ela com admiração.
Pascual fê-lo durante vários minutos, depois de o motorista abrir a porta do Rolls-Royce, que o trouxera do aeroporto. Admirou a fachada branca com vigas de madeira, as pequenas janelas em forma de arco e os painéis de vidro chumbado do edifício de três andares. O ambiente também era espectacular. A caminho dali, depois de transpor um portão metálico, tinham atravessado um lindo parque com árvores centenárias. Começou a cair chuva miudinha, como se tudo quisesse recordar-lhe que estava no campo, em Inglaterra, longe da vida colorida e do calor de Buenos Aires. Quando a chuva piorou, correu para procurar abrigo.
Esteve prestes a chocar com uma jovenzinha loira e magra que disse chamar-se Tina e que trabalhava para os homens de negócios que tinham organizado aquela estadia de fim-de-semana de Pascual. Depois de lhe mostrar a sua suíte, disse-lhe que voltaria com café e que, mais tarde, a sua colega o levaria a conhecer os seus anfitriões.
Agradecendo a oportunidade de tomar um duche e familiarizar-se com o ambiente antes de almoçar e entregar-se aos negócios, Pascual levou o seu tempo a preparar-se para a reunião. A chuva não parava de cair, batendo nos vidros da janela do quarto. Olhou lá para fora e, ao ver que as árvores se dobravam quase até ao chão, compreendeu que o vento adquirira a intensidade de uma tempestade. Contudo, dentro de casa, o ambiente era quente e agradável. Sentiu uma espécie de paz, que quase nunca experimentava em sua casa, a descer sobre ele como uma suave manta de penas que o isolava do resto do mundo.
Deixou escapar um suspiro de satisfação. Ao fim e ao cabo, não tinha de se preocupar. Por mais que fizesse esperar os seus anfitriões, nunca pensariam em emitir uma só queixa. Tinham a oportunidade de comprar os cavalos de pura raça mais procurados do mundo, a elite da elite, portanto, controlariam a sua impaciência, independentemente do tempo que Pascual demorasse.
Estava absorto a pôr os botões de punho de diamante nos punhos da camisa azul de Savile Row, quando ouviu uma pancadinha na porta. Supôs que seria a pequena loira e pensou que lhe saberia bem uma chávena de café bem forte.
Do outro lado da porta de carvalho, no corredor comprido e de tecto baixo, Briana tentava controlar o ritmo da sua respiração. Chegara atrasada, apesar dos seus esforços, mas a tempo de pegar na bandeja de café que Tina levava para a suíte do convidado importante. Passou uma mão pelo cabelo e desejou que a pressa e o facto de não ter tido tempo de retocar a maquilhagem não diminuíssem o profissionalismo, que era a sua marca de qualidade. Nem sequer perguntara a Tina como se chamava o convidado. Com um pouco de sorte, estaria tão agradecido pelo café que não repararia que não o chamava pelo seu nome.
A cafeteira de prata, o prato, a chávena e a jarrinha de porcelana branca tremeram sobre a bandeja que Briana segurava. Concentrou-se e respirou fundo outra vez.
– Mesmo a tempo! Ia… Meu Deus!
Uns olhos de cor tão intensa como a do melhor cacau, num rosto atraente de traços duros, com maçãs do rosto altas e uma boca incrivelmente sensual e viril, fixaram-se nela como se o seu proprietário não conseguisse acreditar no que via.
– O que fazes aqui?
Briana agarrou a bandeja, que estivera prestes a deixar cair. Achou que estava a sonhar. O seu coração batia no peito a ritmo infernal. Pascual era o convidado importante! Era imperdoável não o ter sabido. O seu equilíbrio e profissionalismo desapareceram de repente. Sentia-se tão vulnerável, exposta e inadequada, que as lágrimas começaram a queimar-lhe a garganta.
– Ouviste o que disse?
Durante um momento, o seu sotaque pareceu-lhe mais marcado do que o recordava. Briana descobriu, para sua tristeza, que o tom sensual da sua voz continuava a ter o poder de fazer com que as suas pernas tremessem como gelatina.
– Estou a trabalhar… E trouxe-te o café – conseguiu dizer, oferecendo-lhe um sorriso trémulo. – Importas-te que pouse a bandeja? Tenho medo de a deixar cair.
Pascual abriu a porta para que entrasse. Os seus olhos seguiram-na, acusadores, enquanto atravessava o quarto para deixar a bandeja numa mesa de carvalho esculpido.
– O que significa isto?
Estava a observá-la como se fosse uma brincadeira de mau gosto… Uma brincadeira que detestava.
– Já te disse, estou a trabalhar. Os teus anfitriões contrataram a minha empresa de serviços para que se encarregasse da recepção e da hospitalidade durante a tua estadia. Não sabia que o convidado VIP eras tu. Lamento, Pascual…
Mordeu o lábio inferior e corou, arrependendo-se de ter usado o seu nome. Sobretudo, porque o belo rosto não revelava nenhum prazer em voltar a vê-la, mas sim o contrário!
– Isto devia ser a última coisa de que precisavas. Ver-me outra vez, quero dizer – murmurou. A sua autoconfiança desapareceu por completo enquanto ele observava o seu corpo de cima abaixo, como se quisesse queixar-se do fato simples, mas profissional, de cor preta.
Ficou sem saber o que fazer. Se rejeitasse a sua assistência e a impedisse de fazer o seu trabalho, seria a última gota que destruiria as suas finanças e a sua reputação profissional. Briana rezou para que não chegasse tão longe. Enquanto se preocupava com a perda do trabalho e tentava não pensar na dor do passado, os seus olhos famintos desejavam chorar de júbilo ao verem o homem que amara e que sonhara voltar a ver algum dia.
Estava impressionante. «Um presente para os olhos», teria dito a sua mãe. Mal mudara, embora a sua estatura lhe parecesse mais imponente do que nunca. Continuava a ser esbelto, musculado e não duvidava que a roupa sublime, feita à medida, escondia um físico invejável, em plena forma. Se a isso se juntasse a beleza do seu rosto, teria de admitir que Pascual Domínguez, não era o tipo de homem que uma rapariga via diariamente. Pelo menos, não ao pé de Briana.
Deslumbrara-a desde o princípio e não demorara a apaixonar-se loucamente por ele. Quando descobrira que ele sentia o mesmo por ela, custara-lhe a acreditar na sua boa sorte. Mas isso fora há cinco anos. Cinco anos em que tivera de assumir a sua condição de mãe solteira, porque Pascual não fazia ideia que tinham concebido um filho antes de ela se ir embora. Não passava um dia sem sentir o peso do remorso, ao lidar com essa realidade…
Ele continuava sem falar, olhando-a como se não soubesse se devia sacudi-la até lhe tirar os sentidos ou gritar até lhe apitarem os ouvidos. Briana retorceu as mãos geladas e olhou para a bandeja que deixara sobre a mesa.
– Queres que te sirva um café?
– Esquece o maldito café! O que achas que estás a fazer? – gritou ele, num tom de voz amargo.
– Não estou a fazer nada – murmurou. – Esta situação é tão inesperada e surpreendente para mim como para ti.
– Mas brincaste comigo, como se fosse um parvo, não foi, Briana? – semicerrou os olhos escuros. – Ainda me custa a acreditar que tenhas feito o que fizeste… Por muito tempo que tenha