Receio que estejas enganado. No fim, essas divergências exercerão um efeito negativo na nossa relação. Já houve repercussões no teu ambiente familiar, por quereres casar com uma estranha. Claro que a tua família significa tudo para ti e não quero interpor-me entre vocês. Com o tempo, sentirias ressentimento por mim. Portanto, em vez de provocar mais dor ficando e vendo como o que agora temos se desintegrará, decidi regressar a Inglaterra e retomar a minha vida lá.
Compreendo que esta notícia seja uma tremenda surpresa para ti e lamento imenso a dor que possa causar-te, mas penso que, a longo prazo, é o melhor, para o bem de ambos. Foste muito bondoso comigo e nunca o esquecerei, Pascual. Penses o que pensares enquanto lês esta carta. Também lamento que tenhas de ser tu a dizer a todos que o casamento não se celebrará, mas depois de ter conhecido um pouco a tua família, tenho a certeza de que a notícia confirmará a sua convicção de que eu era totalmente inadequada para ti desde o começo.
Por favor, não tentes voltar a entrar em contacto comigo. É a única coisa que te peço. Só prolongaria a dor de ambos e penso que é melhor voltarmos a começar do zero. Cuida de ti, desejo-te o melhor, agora e sempre.
Com todo o meu amor,
Briana
Dios mío!
Pascual, assolado por uma onda desumana de incredulidade, de dor e de desilusão, voltou a ler a carta, incapaz de assimilar o seu conteúdo devastador. Abandonara-o. Briana, a mulher da sua alma, a bela jovem por quem se apaixonara à primeira vista e, com quem ia casar, voltara para Inglaterra. Nem sequer tivera a coragem de lhe comunicar a sua decisão pessoalmente.
Na noite anterior, parecera muito feliz na festa. Ou talvez não. Ao pensar melhor, lembrou-se que, no fim da noite em casa dos seus pais, ela parecera estar um pouco cansada e tensa. Desejara ficar a sós com ela e perguntar-lhe o que a preocupava. Mas, no fim, visto que os seus amigos não tinham querido que deixasse a festa demasiado cedo, pedira ao seu motorista para levar Briana a casa, supondo que a veria naquela noite e poderia descobrir o motivo da sua inquietação.
Era demasiado cruel perceber que a sua intenção não chegaria a materializar-se, porque ela decidira ir-se embora sem esperar para falar com ele. «Porque não ouviste antes o que tentava dizer-te?», recriminou-se, angustiado. Era óbvio que Briana estava convencida de que havia problemas, embora ele não o achasse. No entanto, não tinha o direito de supor que sabia «o que era melhor para ambos a longo prazo». Falava em relação a si própria… E não dele!
Começou a sentir que a divisão ampla se transformava numa prisão. A necessidade de sair e respirar ar puro estimulou-o. Atirou a carta para cima da secretária e saiu de casa. Praguejou enquanto saía novamente para o sol do meio-dia. Os saltos das suas botas de montar ecoavam nas pedras da calçada, branqueadas pelo sol.
Pela segunda vez, nos seus trinta e seis anos de vida, sentira a dor amarga da perda e isso desestabilizara-o por completo. No ano em que Pascual fizera trinta anos, Fidel, o seu melhor amigo, falecera num horrível acidente de viação, deixando para trás a esposa e o filho. Isso fizera-o entender, de forma brutal, que a vida era breve e não servia de nada dispor de uma grande riqueza, quando não se tinha alguém para a partilhar. Reflectira sobre o futuro e compreendera que desejava ter uma esposa, a sua família. Mas a sua esperançada busca de uma companheira levara-o a entregar o seu coração a uma mulher que, obviamente, valorizava tão pouco os seus sentimentos, que era capaz de se ir embora sem aviso prévio e sem lhe dar uma explicação digna desse nome.
Pascual voltou a sentir o impacto da carta de Briana e a sua agonia e desespero foram tais, que esteve prestes a cair de joelhos. Perguntou a si mesmo porque não confiara o suficiente nele para lhe confessar as suas dúvidas sobre o futuro. Se as dúvidas eram o problema. Tal como ele o via naquele momento, as suas acções transformavam-na num ser desprezível. O seu único consolo era a esperança de que se arrependesse amargamente de o ter abandonado e sofresse as consequências.
Porque não iria atrás dela. Não ia dar-lhe a oportunidade de o rejeitar uma segunda vez, por muito desesperado que estivesse por vê-la nos dias, semanas ou anos seguintes. E, se descobrisse que o abandonara por causa do impensável, porque se apaixonara por outro, amaldiçoá-la-ia até ao fim dos seus dias.
Cinco anos depois,
Londres, Inglaterra
– Era o carteiro, querida?
– Sim, mãe.
Briana olhou para o fino envelope castanho que fora buscar e sentiu que o seu coração começava a pesar como chumbo no seu peito. Se não se enganava, era outra missiva do banco e havia a possibilidade de ameaça de um processo judicial, que passara semanas a rondá-la e parecia se ter transformado numa horrível realidade.
Há dezoito meses, a empresa que criara, de serviços administrativos e turísticos para executivos em viagens de negócios, florescia a um ritmo que superava todos os seus sonhos. Contudo, desde que a recessão global começara a criar raízes, caíra a pique. As pessoas não estavam dispostas a usar uma empresa pouco conhecida, quando havia outras de mais renome, que podiam arriscar-se a reduzir o preço dos seus serviços, minando assim a competição.
Tinha um filho para criar e uma renda para pagar. Não sabia como ia fazê-lo, quando mal tinha ganhos suficientes para comprar comida e pagar as contas básicas.
– Briana? Vais tomar o pequeno-almoço com Adán e comigo antes de ires de fim-de-semana?
– Claro. Dá-me um minuto, pode ser?
Briana, com um suspiro, guardou o envelope fechado na mala. Não ia partilhar com a sua mãe a notícia de que acabara de receber outra carta preocupante sobre a sua dívida. Frances Douglas venderia a roupa que tinha vestida, se com isso pudesse ajudar a filha e o neto a chegarem ao fim do mês. Já hipotecara a sua casa para os ajudar. Fizera mais do que o suficiente. Sem a sua ajuda, Briana nem sequer teria conseguido criar a empresa. Era ela que tinha de conseguir sair do abismo em que caíra.
Passou uma mão pelo cabelo castanho, sedoso e rebelde, e voltou à cozinha com um sorriso forçado. O filho estava sentado num banco alto, a dar conta de uma taça de cereais e a mãe estava a pôr duas fatias de pão integral na torradeira.
A criança sorriu de orelha a orelha ao ver Briana.
– Mãe, estou a repetir! – anunciou com alegria. Uma gota de leite brilhava na covinha do seu queixo.
– A sério, meu anjo? Não é de estranhar que estejas a crescer tanto! – depositou um beijo carinhoso na sua cabeça morena e dirigiu-se para o fervedor da água que estava sobre a bancada. – Queres uma chávena de chá, mãe?
– Porque não te sentas com Adán e me deixas tratar disso? Não deixarei que saias de casa sem comer pelo menos umas torradas! Com tantas preocupações, estás muito pálida e magra. Ficar doente não servirá de nada.
– Não é porque não como – Briana pôs o cabelo atrás das orelhas, suspirou e pôs duas saquetas de chá nas chávenas. – Tenho andado um pouco absorta, mais nada. Este fim-de-semana tem de correr bem, mãe. Tenho três empresários que vão receber um milionário estrangeiro e tenho de os atender numa mansão Tudor, com a qual nem sequer estou familiarizada. Tenho de chegar cedo e pôr-me em dia para os receber como merecem ou será um desastre! Ainda bem que Tina foi ontem, para começar a organizar tudo. Se ficarem com uma boa impressão, é provável que me dêem mais trabalho, portanto, faz figas por mim, está bem?
– Não devias precisar que fizesse figas! – anunciou Frances Douglas, franzindo a testa. – És a melhor no que fazes, Briana Douglas,