– Demoraste muito a chegar – queixou-se, perguntando-se como é que três irmãos podiam ser tão diferentes. Luke, apesar de não ser sincero nos seus afectos, era encantador; Paul era impossível não simpatizar com ele; mas aquele homem… Dito de uma forma educada devia ser feito com um molde distinto. Os fascinantes olhos azuis de Jack brilhavam de forma provocatória.
– Não precisas de falar assim comigo, Eleanora, não me impressionam os teus caprichos. Não funcionaram comigo quando eras uma menina e também não funcionam agora.
Ellie rangeu os dentes com frustração. Chamava-se Eleanora porque era o nome da sua avó e Jack sabia que detestava esse nome. Tinha-o feito para a irritar. Ellie inspirou profundamente e tentou não se deixar levar pelo enfado.
– Eu não sou caprichosa, por muito que me provoquem – foi a sua resposta. Jack sorriu.
– Humm…! Tens uma memória muito selectiva. Algo típico nas mulheres. Podia recitar-te um por um todos os caprichos que tiveste desde que te conheço – assegurou. De certeza que podia, pensou Ellie. Parecia desfrutar recordando cada detalhe horrível sobre ela.
– E tu? Por que é que mudas de tema? Ainda não te desculpaste por me teres feito esperar mais de uma hora – afirmou a jovem. Para sua conveniência, tinha esquecido que tinha gostado de estar ali e que não tinha pressa.
– Por desgraça, Paul esqueceu-se de nos dizer que vinhas. Só se lembrou de me dizer há vinte minutos. Vim infringindo o limite de velocidade permitido, para não te preocupares, mas… Com o que me encontro ao chegar? Deitada sedutoramente sobre o molhe, com pouca roupa – apontou ele. Ellie olhou para ele irritada. Seria possível? Depois de passar apenas cinco minutos com ele já recordava por que é que o odiava tanto.
– O que dizes? Trago mais roupa que algumas das mulheres que estão por aqui – respondeu. Não havia nenhuma mulher a fazer topless, mas os biquínis de algumas eram certamente minúsculos. Ela, em contrapartida, trazia uns calções curtos, muito decentes, e uma camisa às riscas. Não podia estar mais recatada. Os olhos de Jack voltaram a percorrer o seu corpo e um sorriso irónico desenhou-se nos seus lábios.
– Pensei que te tinhas vestido assim para Luke. Já tentaste tudo, por isso é apenas uma questão de tempo até que recorras ao sexo – acusou-a. Ellie não pôde evitar a vergonha.
– Eu nunca faria isso! – protestou ofendida. Não gostava que Jack pensasse que ainda andava atrás de Luke e não queria que soubesse que o seu romance com ele tinha acabado há muito tempo. De facto, Jack, à semelhança dos restantes, nem sequer sabia que tinha começado. Além disso, não gostaria de saber a verdade, por isso não podia permitir que soubesse. O olhar dele suavizou-se um pouco, mas não o afastou dos olhos dela.
– A sério?
– Claro que não! – insistiu ela, incomodada. A verdade era que, na adolescência, tinha fantasiado com aquela ideia, mas nunca se tinha atrevido a fazê-lo. Não fazia parte da sua natureza rebaixar-se desse modo para conquistar um homem. Por alguma razão, queria que Jack ficasse com as coisas bem claras. Contudo, o seu irmão abanou a cabeça, incrédulo.
– Fico contente por ouvir isso, embora não saiba se devo acreditar em ti. Então, tens outra carta na manga?
Aquela visita não ia ser nada fácil, pensou Ellie. Se permitisse que todos continuassem a pensar que ainda estava apaixonada por Luke, tinha que ter cuidado para não ser apanhada na teia que ela própria tinha tecido, uma teia que já estava demasiado enredada. Tinha que encontrar uma forma de lhes mostrar que já não tinha nenhum interesse nele, mas como ia fazê-lo sem explicar o porquê? Ellie lançou um olhar fulminante sobre Jack.
– Não sei do que falas, não tenho nenhum plano.
– Vamos, vamos… Não negarás que vieste a correr assim que soubeste que Luke estava comprometido? – interrogou Jack, com um tom de voz desagradável. – Não querias fazer com que terminassem tudo?
Por que é que a atormentava daquele modo? Já não queria saber de Luke. O que gostaria de fazer era borrar da mente de todos que alguma vez tinha sido tão estúpida ao ponto de se apaixonar por ele.
– Eu jamais faria isso – negou com veemência.
– Queres dizer que o farias se pudesses, mas não sabes como? – replicou, mordaz. O comentário fez com que Ellie desejasse chorar.
– Por que é que és tão desagradável comigo? – acusou-o com a voz afogada. Jack suspirou.
– Porque és tonta, Ellie, perseguindo o que nunca poderá ser teu – respondeu com uma amabilidade inesperada. Ela sentiu um nó na garganta. Nesse momento, levantou-se uma ligeira brisa, levando o seu chapéu antes que ela pudesse segurá-lo.
– Oh, não! – disse, tentando apanhá-lo antes que acabasse no mar. Não conseguiu, mas Jack estendeu o braço e agarrou-o justamente à beira do molhe, salvando-o de ser sepultado por baixo da imensa massa de água. Divertido, Jack examinou o chapéu.
– Vês, Ellie? És tonta, deverias tê-lo deixado – disse muito sério, entregando-o.
– Porquê? Adoro este chapéu – replicou ela, colocando-o e segurando-o firmemente para evitar que voltasse a voar.
– Claro, foi num presente de Luke – disse ele secamente. Ellie estremeceu. Tinha-se esquecido. Há algum tempo, tinha sido um tesouro para ela. Levantou o queixo para o ver, lamentando que tivesse tão boa memória.
– E se assim for? – perguntou. Jack olhou-a directamente nos olhos.
– Já é hora de abandonares essas criancices, Ellie. Abandona. Luke não te ama, nunca te amou.
Se soubesse que era verdade o que dizia! Luke só a queria para ter uma amante complacente na sua cama. Claro que sabia que não a amava, mas ouvi-lo de outra pessoa de forma tão brusca fê-la ficar pálida.
– Odeio-te! – murmurou. Sem saber, tinha feito com que revivesse a humilhação que sentiu quando se apercebeu que Luke não a amava. – Sabes o que acho? Penso que te dá gozo magoares-me – disse. No entanto, o olhar dele estava desprovido de humor.
– Ellie, a verdade dói sempre. Abre os olhos e olha à tua volta. Talvez Luke não te ame, mas há outros homens.
Talvez tivesse razão, mas a ferida era demasiado recente. Ellie não tinha a intenção de voltar a expor tão cedo o seu coração às garras de outro desalmado.
– Pois, eu não amo mais ninguém! – exclamou. Apercebeu-se que o comentário oferecia distintas interpretações, mas era-lhe indiferente. Que pensasse o que quisesse. Fá-lo-ia de todas as formas.
– Então, estás a condenar-te a uma vida sozinha e amargurada – respondeu Jack, abanando a cabeça. Ellie reflectiu os joelhos e abraçou-se às pernas.
– Talvez sim ou talvez não. E é a minha vida, não a tua, por isso pára de me dizer o que tenho de fazer – advertiu-o. Ele sorriu com um certo pesar.
– Deus, jamais vi alguém tão teimosa como tu! – exclamou. Ela lançou-lhe um olhar cáustico.
– Tu és detestável! – respondeu.
Jack sorriu amplamente, fazendo com que Ellie sentisse uma espécie de queimadura no peito. Com certeza a discussão teria feito com que sofresse uma indigestão. Removeu-se inquieta. Deixava-a tão furiosa que sentia que o sangue lhe fervia nas veias. Quando aprenderia a guardar as suas opiniões para si? Jack voltou a abanar a cabeça com ironia e ofereceu-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.
– Vamos, levo-te para casa. Espero que um pouco de descanso e uma boa comida suavizem o teu carácter.
– Já estás a começar outra vez? – protestou Ellie, irritada. Mas pegou na sua mão e deixou que a ajudasse.
No entanto, ao levantar-se, o seu pé ficou enrolado nas amarras de uma embarcação e teria caído se não fossem os rápidos reflexos de