O pai dela, o duque de Wolfton, não fazia ideia de tudo o que ela fizera para ajudar Estella. Ele pensou que ela tinha enviado seus fundos para ela conseguir viver, mas tinha feito muito mais do que isso. Seu pai não era um bom homem e fizera o melhor que podia para garantir que Estella permanecesse infeliz pelo resto de sua vida. Annalise queria tê-la ajudado mais cedo, mas não sabia como poderia ser possível. O duque observava cada movimento dela, e se tentasse, ele teria encontrado uma maneira de evitar tudo. Ela tinha que ser mais esperta do que ele, o que resultava em uma enorme quantidade de paciência. Seu plano tinha valido a pena quando encontrou uma maneira de juntar Estella ao homem que amava.
– Não me arrependo – disse ela. – Estella precisava da minha ajuda.
– Eu não discordo. O pai é um asno… Estella nunca deveria ter sido mandada embora. – Marrok esticou os braços sobre a cabeça. – Há quanto tempo estamos nessa maldita carruagem?
Pelo menos seu irmão não se transformou em uma réplica do pai deles. Oh, ele não era perfeito de maneira alguma, mas não tinha um traço cruel. Marrok não tinha paciência para idiotices e não sofria de estupidez. Poderia reduzir alguém com um olhar ou algumas palavras bem escolhidas, se decidisse fazer o esforço. Resumindo, ele colocava o estereótipo do homem sério e calado no chinelo, aperfeiçoou-o, na verdade. Annalise amava seu irmão, mas até ela só podia tolerá-lo por algum tempo. Tinha pena da mulher com quem ele decidisse se casar um dia, já que seria bastante difícil de viver junto a ele. Inferno, não havia como questionar ‒ ele era um idiota em um dia bom. Ela desviou o olhar da janela, se virou para ele e respondeu à sua pergunta: – Falta a mesma distância desde a última vez que você perguntou. Você é pior que uma criança.
– Não mais do que você. – Ele se inclinou e espiou pela janela. – Estou falando sério. Não deveríamos já estar lá?
Enquanto falava as palavras, o castelo Manchester apareceu, a estrutura era majestosa e de tirar o fôlego. A casa ancestral de Wolfton tinha sua própria beleza, mas de uma maneira diferente de Manchester. Este castelo parecia mais leve, mais feliz, de alguma forma. Talvez ela estivesse sendo um pouco excêntrica, ou talvez ansiasse pela liberdade de ser ela mesma. Por causa das expectativas de seu pai, sempre tinha que fazer um ato e fingir que não se importava com nada, nem ninguém.
– Oh, graças a Deus. – Marrok recostou-se no banco. – Logo poderei esticar minhas pernas corretamente.
Annalise revirou os olhos, embora não o culpasse. Cada polegada de seus músculos estava rígida por estar sentada na carruagem por horas. Seria bom, finalmente, sair da maldita coisa e andar um pouco. A carruagem virou para um longo caminho que levava ao castelo. Passou sobre um solavanco que jogou Annalise para cima. A dor percorreu seu traseiro e a parte inferior das costas quando ela caiu de volta no banco. – Ai! – ela gritou, incapaz de se conter.
– Estou disposto a apostar que você está feliz por termos quase chegado também. – Marrok riu alegremente. – Admita.
– Eu te odeio – ela murmurou.
– Não, você não odeia – respondeu Marrok, em seguida, riu novamente. – Você me adora, e nós dois sabemos disso. – Ele piscou para ela. – Não se preocupe, eu não vou fazê-la rastejar e pedir desculpas por ser malvada.
– Como se eu fosse – ela respondeu. – Você pode esperar para sempre, e isso ainda não aconteceria. – Annalise não pôde impedir que seus lábios se inclinassem para cima. A provocação de Marrok a havia tirado de um humor azedo. Ela estava se preocupando muito com nada. Estella não a teria convidado para Manchester se não a tivesse perdoado por suas ações. Lorde Warwick não tinha sido prejudicado ‒ muito ‒ em seu esquema para colocá-lo a bordo do navio de Estella. Ambos tinham estado miseráveis sem o outro. Agora poderiam ser felizes, como deveria ter sido o tempo todo.
A carruagem parou e Marrok abriu a porta antes que do cocheiro. Ele estava com muita pressa para sair do veículo e colocar os pés em terra firme. Annalise riu levemente de suas ações. Algumas coisas nunca mudam. Marrok sempre odiou viajar, mas se lembrava como ser um cavalheiro. Ele se virou e pegou a mão dela para ajudá-la a desembarcar também. – Obrigada, querido irmão.
– Como sempre, irmã querida. – Ele piscou. – Você sabe que pode contar comigo.
Eles caminharam até a porta da frente, que se abriu antes que tivessem a chance de bater na aldrava. Um homem alto e magro os cumprimentou. – Como posso ajudá-lo?
– Estamos aqui para uma visita à Lady Warwick – respondeu Annalise. – Recebi um convite dela.
– Lady Annalise Palmer, presumo – disse o homem alto. – E você é, senhor? Eu não sabia que mais alguém estaria acompanhando a jovem.
– Sou o irmão dela, o marquês de Sheffield. – Marrok levantou uma sobrancelha. – Você realmente esperava que minha irmã viajasse sozinha?
– Não – respondeu o homem. – Eu pensei que talvez uma empregada, mas não outro igual. Por favor entre, vou mandar um lacaio pegar as suas coisas. – O mordomo, pelo menos é isso que Annalise presumia que o homem fosse, fechou a porta atrás deles quando entraram. – Irão querer descansar de sua longa jornada, ou gostariam de se juntar a Lady Manchester e Lady Warwick na sala de estar para tomar chá?
– Eu preferiria dar um passeio – respondeu Marrok. – Eu estou inquieto da inatividade.
– Muito bom, meu senhor – respondeu o mordomo. – Vai dar tempo para a governanta preparar seus aposentos. – Ele virou para Annalise. – E você, minha senhora?
Ela estava começando a pensar que deveria ter escrito para Estella antes de partir para deixá-la saber que Marrok viria com ela. – Eu gostaria de me juntar às senhoras para o chá. – Descansar podia esperar até que ela tivesse uma reunião com sua meia-irmã. Antes disso, nunca seria capaz de relaxar adequadamente.
– Então, por favor, siga-me – respondeu o mordomo.
Ele a levou por um longo corredor e para uma grande sala. Não se assemelhava a qualquer sala de estar em que ela já estivera. Não havia sequer cadeiras, mas sim uma longa mesa.
– Você encontrará as outras senhoras do outro lado da sala. – O mordomo se virou e saiu, deixando Annalise sozinha para se apresentar. O homem foi bastante rude…
Ela caminhou mais para dentro, e pôde ouvir os sons distintos de metais batendo em metal, rapidamente seguido por risadas femininas. Annalise inclinou a cabeça na direção dos ruídos. Que interessante… Ela acelerou o passo em direção ao som. Depois que virou o canto, encontrou as razões do riso. Estella estava no meio de uma partida de esgrima com outra dama. Annalise nunca tinha visto a outra mulher antes e não podia ter certeza de quem ela era, mas suspeitava que fosse Lady Manchester.
– Chega – Estella respondeu, depois de outro barulho de espadas – Se continuarmos assim, seu marido virá e castigara a nós duas.
A outra senhora relaxou o braço da espada e então franziu o nariz. – Garrick não ousaria.
– Não? – Estella levantou uma sobrancelha. – Ele nos deu uma palestra por uma hora inteira antes de concordar em nos deixar esgrimar. De forma alguma, duvido que ele apreciasse se eu te deixasse exagerar.
– Tudo bem – a senhora concordou. – Garrick ficaria chateado. Mas acho que é seguro dizer que seu marido nunca deixaria que ele colocasse um dedo em você.
– Isso também é verdade. – A risada de Estella reverberou pela sala. Ela caminhou até uma mesa próxima e pousou o florete, depois pegou um bule de chá e despejou um pouco em um copo. – Você acha que este chá ainda está quente?
– Eu não sei – respondeu a senhora. – Mas não me importo. De repente, estou