Mas o segundo templo não igualou o primeiro em magnificência; tão pouco foi consagrado pelos visíveis sinais da presença divina que o primeiro tivera. Não houve manifestação de poder sobrenatural para assinalar sua dedicação. Nenhuma nuvem de glória foi vista a encher o santuário recém-erigido. Nenhum fogo do céu desceu para consumir o sacrifício sobre o altar. O “shekinah” não mais habitava entre os querubins no lugar santíssimo; a arca, o propiciatório, as tábuas do testemunho não mais deviam encontrar-se ali. Nenhuma voz ecoava do Céu para tornar conhecida ao sacerdote inquiridor a vontade de YAHWEH.
Durante séculos os judeus debalde se haviam esforçado por mostrar que a promessa de Deus feita por Ageu se cumprira; entretanto, o orgulho e a incredulidade lhes cegavam a mente ao verdadeiro sentido das palavras do profeta. O segundo templo não foi honrado com a nuvem de glória de YAHWEH, mas com a presença viva dAquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade manifesto em carne. O “Desejado das nações” havia em verdade chegado a Seu templo quando o Homem de Nazaré ensinava e curava nos pátios sagrados. Com a presença do Messias, e com ela somente, o segundo templo excedeu o primeiro em glória. Mas Israel afastara de si o Dom do Céu, que lhe era oferecido. Com o humilde Mestre que naquele dia saíra de seu portal de ouro, a glória para sempre se retirara do templo. Já eram cumpridas as palavras do Salvador: “Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta.” (Mateus 23:38.)
Os discípulos ficaram cheios de espanto e admiração ante a profecia do Messias acerca da subversão do templo, e desejavam compreender melhor o significado de Suas palavras. Riquezas, trabalhos e perícia arquitetônica haviam durante mais de quarenta anos sido liberalmente expedidos para salientar os seus esplendores. Herodes o Grande nele empregara prodigamente tanto riquezas romanas como tesouros judeus, e mesmo o imperador do mundo o tinha enriquecido com seus dons. Blocos maciços de mármore branco, de tamanho quase fabuloso, provenientes de Roma para este fim, formavam parte de sua estrutura; e para eles chamaram os discípulos a atenção do Mestre, dizendo: “Olha que pedras, e que edifícios!” (Marcos 13:1.)
A estas palavras deu Yahshua a solene e surpreendente resposta: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mateus 24:2.)
Com a subversão de Jerusalém os discípulos associaram os fatos da vinda pessoal do Messias em glória temporal a fim de assumir o trono do império do universo, castigar os judeus impenitentes e libertar a nação do jugo romano. O SEnhor Ihes dissera que viria a segunda vez. Daí, com a menção dos juízos sobre Jerusalém, volveram o pensamento para aquela vinda; e, como estivessem reunidos em torno do Salvador sobre o monte das Oliveiras, perguntaram: “Quando serão essas coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:3.)
O futuro estava misericordiosamente velado aos discípulos. Houvessem eles naquela ocasião compreendido perfeitamente os dois terríveis fatos - os sofrimentos e morte do Redentor, e a destruição de sua cidade e templo - teriam sido dominados pelo terror. O Messias apresentou diante deles um esboço dos acontecimentos preeminentes a ocorrerem antes do final do tempo. Suas palavras não foram então completamente entendidas; mas a significação ser-lhes-ia revelada quando Seu povo necessitasse da instrução nelas dada. A profecia que Ele proferiu era dupla em seu sentido: ao mesmo tempo em que prefigurava a destruição de Jerusalém, representava igualmente os terrores do último grande dia.
Yahshua declarou aos discípulos que O escutavam, os juízos que deveriam cair sobre o apóstata Israel, e especialmente o castigo retribuidor que lhe sobreviria por sua rejeição e crucifixão do Messias. Sinais inequívocos precederiam a terrível culminação. A hora temida viria súbita e celeremente. E o Salvador advertiu a Seus seguidores: “Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quern lê, atenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes.” (Mateus 24:15 e 16; Lucas 21:20.) Quando os estandartes idolátricos dos romanos fossem arvorados em terra santa, a qual se estendia por alguns estádios fora dos muros da cidade, então os seguidores do Messias deveriam achar segurança na fuga. Quando fosse visto o sinal de aviso, os que desejavam escapar não deveriam demorar-se. Por toda a terra da Judéia, bem como em Jerusalém mesmo, o sinal pare a fuga deveria ser imediatamente obedecido. Aquele que acaso estivesse no telhado, não deveria descer à casa, mesmo para salvar os tesouros mais valiosos. Os que estivessem trabalhando nos campos ou nos vinhedos, não deveriam tomar tempo para voltar a fim de apanhar a roupa exterior, posta de lado enquanto estavam a labutar no calor do dia. Não deveriam hesitar um instante, para que não fossem apanhados pela destruição geral.
No reino de Herodes, Jerusalém não só havia sido grandemente embelezada, mas, pela ereção de torres, muralhas e fortalezas, em acréscimo à força natural de sua posição, tornara-se aparentemente inexpugnável. Aquele qua nesse tempo houvesse publicamente predito sua destruição, teria sido chamado, como Noé em sua época, doido alarmista. Mas o Messias dissera: “O céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar.” (Mateus 24:35.) Por causa de seus pecados, foi anunciada a ira contra Jerusalém, e sua pertinaz incredulidade selou-lhe a sorte.
YAHWEH tinha declarado pelo profeta Miquéias: “Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e vós, maiorais da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam a YAHWEH, dizendo: Não está YAHWEH no meio de nós? nenhum mal nos sobrevirá.” (Miquéias 3:9-11.)
Estas palavras descreviam fielmente os habitantes de Jerusalém, corruptos e possuídos de justiça própria. Pretendendo embora observar rigidamente os preceitos da lei de YAHWEH, estavam transgredindo todos os seus princípios. Odiavam ao Messias porque a Sua pureza e santidade lhes revelavam a iniqüidade própria; e acusavam-nO de ser a causa de todas as angústias que lhes tinham sobrevindo em conseqüência de seus pecados. Posto qua soubessem não ter Ele pecado, declararam que Sua morte era necessária para a segurança deles como nação. “Se o deixarmos assim,” disseram os chefes dos judeus, “todos crerão nEle, e virão os romanos, a tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.” (João 11:48.) Se o Messias fosse sacrificado, eles poderiam uma vez mais se tornar um povo forte, unido. Assim raciocinavam, e concordavam com a decisão de seu sumo sacerdote de que seria melhor morrer um homem do que perecer toda a nação.
Assim os dirigentes judeus edificaram a “Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça.” E além disso, ao mesmo tempo em que mataram seu Salvador porque lhes reprovava os pecados, tal era a sua justiça própria que se consideravam como o povo favorecido de Deus, a esperavam que o SEnhor os livrasse dos inimigos. “Portanto,” continuou o profeta, “por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa em lugares altos dum bosque.” (Miquéias 3:12.)
Durante quase quarenta anos depois que a condenação de Jerusalém fore pronunciada pelo Messias mesmo, retardou YAHWEH os Seus juízos sobre a cidade e nação. Maravilhosa foi a longanimidade de Deus pare com os que Lhe rejeitaram o evangelho e assassinaram o Filho. A parábola da árvore infrutífera representava o trato de Deus para com a nação judaica. Fora dada a ordem: “Corta-a; porque ocupa ainda a terra inutilmente?” (Lucas 13:7.) Mas a misericórdia divina poupara-a ainda um pouco de tempo. Muitos havia ainda entre os judeus que eram ignorantes quanto ao caráter e obra do Messias. E os filhos não haviam gozado das oportunidades nem recebido a luz que seus pais tinham desprezado. Mediante a pregação dos apóstolos e de seus cooperadores, Deus faria com que a luz resplandecesse sobre eles; ser-lhes-ia permitido ver como a profecia se cumprira, não somente no nascimento e vida do Messias, mas também em Sua morte e ressurreição. Os filhos não foram condenados pelos pecados dos pais; quando, porém, conhecedores de toda a luz dada a seus pais, os filhos rejeitaram mesmo a que lhes fora concedida a mais, tornaram-se participantes dos pecados daqueles e encheram a medida de sua iniqüidade.
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