– Viens, mon amour, vamos para casa – disse Jules então, dando-lhe o braço.
Maddie fez uma careta. Nunca a tinha chamado assim, nem nunca a tinha convidado para a sua casa. Em geral, quando saíam de algum clube ou restaurante, e os paparazzi perdiam interesse por eles, um dos seus guarda-costas metia-a num táxi.
– São duas da manhã e já bebeste o suficiente – disse o desconhecido. – Vai dormir. Eu encarregar-me-ei de que a menina Myers chegue a casa sã e salva.
– Achas que não vai para a minha casa – protestou Jules, com um brilho de raiva nos olhos. – Achas que não é minha noiva.
– E é? – perguntou o homem, cravando nela os seus olhos cinzentos.
– Essa não é a questão – respondeu Jules antes que Maddie pudesse dizer uma palavra.
– Ou é ou não é, responde à pergunta.
– Não vivemos juntos – disse Maddie por fim.
Jules apertou os dentes, mas ela não ligou. Se queria dar a impressão de que a sua relação era mais séria deveria ter-lhe dito. Sentia-se incomodada com o subterfúgio e aquilo era demasiado.
– Vai para o hotel, Jules – ordenou-lhe o desconhecido, olhando para a mão que tinha posto no seu braço.
Jules murmurou um palavrão em francês e depois, de repente, envolveu-a nos seus braços e apoderou-se dos seus lábios.
O beijo terminou nuns segundos, mas o surpreendente encontro deixou Maddie atónita e furiosa. Viu Jules sair da discoteca sem olhar para trás e teve de conter o desejo de passar o dorso da mão pela boca para apagar a impressão de tão desagradável carícia.
Sabia que a tinha beijado para chatear o homem dominante que estava à frente dela. E sabia também que, apesar do desejo de apagar todos os sinais do beijo, que essa revelação poderia custar-lhe cara.
– Anda – disse ele abruptamente. Depois, como Jules, deu meia volta.
Maddie abanou a cabeça, perplexa. Não tinha a menor intenção de seguir aquele arrogante e atraente desconhecido. Só queria voltar para o apartamento que partilhava com o seu pai, para a segurança e o incómodo da sua diminuta cama.
O cochichar geral e os telemóveis que apontavam na sua direção, fizeram com que se apressasse. Ainda não sabia o que ocorrera uns minutos antes, mas não pensava ficar ali a suportar os olhares de todos.
Falaria com Jules de manhã, pensou. Por agora, o mais importante era comprovar que o pai aguentaria mais um dia sem sucumbir ao vício que destroçara não só a vida dele, mas também a dela.
Tentando não pensar na sua triste vida, Maddie deu meia volta… e deparou-se com uma parede de músculo.
– Menina? Venha comigo, se faz favor.
Era um dos guarda-costas. O desconhecido tinha deixado para trás um segurança de forma a garantir que obedeceria às suas ordens.
Tinha de tomar uma decisão. Ficar ali e lutar com um monte de idiotas ou sair da discoteca e lutar com um desconhecido que, por alguma razão, a assustava e excitava ao mesmo tempo.
– Santo Deus, viste-o bem? – escutou uma voz feminina.
– É como um deus, lindo de morrer.
– Mas quem é ele?
Maddie deu um passo em frente, convencida de que o guarda-costas era capaz de a carregar ao ombro se hesitasse.
Quando saiu à rua e viu a brilhante limusina estacionada à porta sentiu um calafrio. E não tinha nada a ver com o fresco ar de março.
A luz do interior estava apagada e Maddie só viu umas pernas masculinas e uns sapatos de pele.
– Entre, menina Myers – a ordem era seca e impaciente, mas ela olhou em volta. Estava certa de que poderia sair a correr. – Aconselho-a a não tentar – disse ele então.
Maddie queria desobedecer à ordem com todas as fibras do seu ser, mas sabia que não serviria de nada. Aquele homem emanava poder e autoridade. Além disso, os seus guarda-costas estavam em perfeita condição física.
De maneira que, suspirando, entrou na limusina. Quanto mais depressa terminasse aquilo, mais depressa estaria em casa, disse a si mesma. Tinha de ir trabalhar dentro de poucas horas.
Assim que entrou para o carro, a porta fechou-se atrás dela. Durante uns tensos segundos fingiu interesse pelo luxuoso interior da limusina, mas, quando por fim olhou para ele, o brilho dos seus olhos cinzentos deixou-a a tremer.
– Quem é você e como me conhece? – perguntou-lhe.
– O meu nome é Remirez Alexander Montegova, príncipe de Montegova. E sei quem você é porque uma equipa de investigadores me deu essa informação. E agora, diga-me o que quer em troca de afastar-se do meu irmão.
Capítulo 2
– Do seu irmão? – exclamou Maddie.
– Na verdade, meu meio-irmão. Temos o mesmo pai – respondeu ele num tom gélido.
– Mas ele chama-se Jules Montagne e é francês.
Já a pronúncia daquele homem era uma estranha mistura de italiano, francês e espanhol.
O príncipe Remirez encolheu os ombros.
– O Jules nasceu em França e suspeito que o nome que utiliza é uma artimanha para despistar.
– Para despistar quem? – perguntou ela, pensando que tudo começava a fazer sentido.
Parecia maior no interior da limusina; o cabelo mais negro e brilhante, os ombros sob o casaco mais largos e imponentes.
– Os golpistas, os aproveitadores – respondeu por fim, com tom acusador.
Sem dúvida, a acusação ia dirigida contra ela, e Maddie chateou-se consigo mesma porque nem sequer isso parecer acalmar o calor que sentia entre as coxas.
– Ah, estou a perceber.
– Aposto que sim – replicou ele, irónico.
Maddie apoiou-se na porta da limusina, mas afastou-se logo, fazendo uma expressão de dor.
– Para onde me leva? – perguntou, esfregando o antebraço sem se dar conta.
– Para onde disse que ia levá-la, para a sua casa – respondeu ele. – Que tem no braço?
– Nada, estou bem. Sabe onde vivo?
– Sim, sei. E também sei onde trabalha, onde estudou e quem é o seu dentista.
Ela olhou para ele, apreensiva.
– É uma ameaça?
– Não, só digo o que sei. Afinal, a informação é poder, não? Não entrou neste carro em busca de informação?
– Entrei no carro porque você enviou o seu guarda-costas para procurar-me.
– Não lhe tocou – disse ele num tom seco, como dando a entender que não lhe tinha tocado porque ele não tinha ordenado que o fizesse.
– Ah, ena, então devo considerar-me uma afortunada.
Sabia tudo sobre ela, pensou. Saberia também sobre o seu pai, a sua mãe, Greg? Conheceria os vergonhosos segredos que a perseguiam a cada dia?
– Não respondeu à minha pergunta.
– E não penso fazê-lo porque é insultante – disse Maddie. – Acha que