Após uma semana de investigação, o Sr. Dillan mandou chamar-me. Quando cheguei à sua porta, notei que as vidraças do seu escritório haviam sido alteradas e o seu nome podia ser lido numa enorme placa.
— O que me trazes hoje? — Ele perguntou cético. Eu sabia pelos meus colegas que não havia encontrado nada de novo. — Encontraste algo que possa ser publicado?
Tirei a gabardina e o chapéu e coloquei no cabide ao lado do porta-guarda-chuvas. De seguida, sentei-me numa cadeira de carvalho gasta.
— Tenho algumas histórias de exploradores africanos que descobriram pequenos rios na costa oeste.
O escocês abanou a cabeça repetidamente.
Foi até ao rádio e desligou um discurso enfadonho do primeiro-ministro.
— Adicionando um pouco de aventura e embelezando um pouco o artigo, poderíamos publicá-lo.
— E só me trazes isso depois de uma semana? — Ele respondeu, olhando para mim. — Não foste ao pub com aquela morena?
Abanei a cabeça.
— Passo o dia todo a trabalhar no museu, — respondi. — A italiana é uma boa amiga que me ensina a dançar charleston.
— Aquela dança americana descarada?
— É divertido, — eu disse, sorrindo. — Deveria experimentar.
O Sr. Dillan olhou para mim com cara de poucos amigos e eu olhei para baixo.
— Recebi permissão da Sociedade Geográfica para investigarmos nas suas instalações, — anunciou, entregando-me o documento. — A partir de amanhã vais trabalhar lá.
— Ótimas notícias, senhor.
— Espero que tragas notícias melhores da próxima vez. Agora sai daqui. Estou cheio de trabalho.
Dei a volta à almofada algumas vezes, levantei-me e fiz um café forte. Naquela manhã, senti-me revigorado. Foi o meu primeiro dia na biblioteca da Real Sociedade Geográfica Britânica, a mais alta autoridade nestes assuntos. Lá era apenas permitido investigar a pessoas muito influentes no campo das universidades de Oxford e Cambridge. Felizmente, o Sr. Dillan era sobrinho de um dos patrocinadores mais influentes da instituição e obtivemos uma licença para investigar por duas semanas.
A biblioteca da Sociedade era menor que a do Museu Britânico, mas continha verdadeiros tesouros. Nos primeiros dias a investigação continuou na mesma linha da semana anterior. Todos eram nomes familiares de exploradores famosos que escreveram páginas gloriosas da história do Império Britânico.
A minha surpresa veio quando menos esperava: revia expedições ao Médio Oriente quando descobri um nome que se repetia tanto nas descobertas da Mesopotâmia quanto do Egito: o seu sobrenome era Henson.
O que chama a atenção no caso é que só apareceu em documentos anexados ao original, nunca no diário oficial da expedição, o que me chamou especialmente a atenção. Continuei a investigação por dois dias sem encontrar o seu nome em mais nenhuma exploração; não sabia se o motivo era a sua morte ou o desaparecimento em algum deles.
O meu interesse continuou a crescer num caso tão incomum e decidi concentrar-me nele.
Fiz uma pesquisa detalhada, primeiro em ordem alfabética por índice do navegador e depois em ordem cronológica por data, mas nada permaneceu lá.
Decidi tentar um novo caminho e perguntei ao gerenciador de arquivos se ele conhecia esse Henson. Infelizmente, ele estava no cargo há apenas alguns anos e nunca na vida ouvira falar dele.
Depois de almoçar um rodo de carne com legumes, voltei à redação e perguntei aos colegas que já estavam há mais tempo no jornal se o nome lhes era conhecido. Ninguém ouvira falar dele.
Naquela tarde, voltei à Biblioteca da Sociedade Geográfica e continuei a procurar por horas. Novamente procurei pelo índice de exploradores, depois fui aos diários pessoais que existiam de alguns exploradores e, por fim, fiz uma busca pelo índice topográfico.
Foi neste último índice que voltei a encontrar o seu nome, mas desta vez associado a uma expedição à América do Sul. Isto era ainda mais improvável, pois poucos exploradores britânicos jamais se aventuraram nestas terras remotas.
O incomum é que o encontrei novamente num documento anexo; não apareceu no registo da expedição.
Ele agora tinha três referências: duas no Médio Oriente e uma no continente americano, mas as informações ainda eram insuficientes.
Passei o dia todo a tentar encontrar algo novo, mas esse Henson havia sido engolido pela terra.
Começava a ficar desmoralizado com o assunto: os leitores do nosso jornal deviam contentar-se com alguma pequena descoberta no continente africano que fosse minimamente interessante depois de ser adornada por um bom editor.
Saí naquela tarde pela porta do edifício com a cabeça baixa. Uma forte chuva caía do lado de fora e abri o guarda-chuva. Várias poças se formaram e o poste de luz em frente ao prédio não parava de piscar.
O porteiro com quem eu fizera amizade aproximou-se de mim.
— Como correu a investigação? — Ele perguntou enquanto gotas de chuva caíam no guarda-chuva.
— Mal. Não consigo encontrar nada de notável no tal Henson.
— Ontem cruzei-me com o antigo porteiro da Sociedade Geográfica. Lembre-se de que, há anos atrás, havia um Henson na Sociedade Geográfica.
— Claro! Como não pensei nisso antes? Eu deveria ter perguntado entre os ex-funcionários.
Samuel foi até ao poste, bateu algumas vezes na base e corrigiu o problema. Em dias chuvosos, os apagões eram frequentes.
— Quanto tempo falta para fechar?
— Meia hora. Às sextas-feiras fechamos mais cedo.
— Eu preciso encontrar alguma coisa para continuar a investigação.
Corri escada acima e procurei nos volumes anteriores à data que havia pesquisado. A atividade mais fecunda da Sociedade Geográfica começou em 1850, data a partir da qual comecei as minhas pesquisas. Mas foi fundada em 1830, o que significava que havia vinte anos que eu não tinha visto.
Pude constatar que os volumes desse período nada tinham a ver com os que havia estudado anteriormente: nos primeiros anos a atividade de exploração era menor.
Decidi começar pela fundação da Sociedade Geográfica e tudo aconteceu mais rápido do que esperava. Nas primeiras páginas encontrei o seu nome: o seu nome era Philip Henson e havia sido um dos cofundadores da Sociedade Geográfica; veio do norte da Inglaterra, mais especificamente da cidade de Newcastle.
Depois de um tempo, Samuel veio avisar-me sobre o horário de encerramento. Apreciei muito a sua informação, porque sem ele não teria sido possível continuar. Agora eu tinha algo sólido em que me apoiar e poderia ganhar tempo para investigar mais a fundo.
Passei os dias seguintes na biblioteca a estudar as origens desse Henson, que era de uma família rica da indústria do carvão do norte da Inglaterra.
Ele havia servido na Índia no destacamento de Janipur, onde conheceu a sua esposa Maureen, cuja família também servia lá. Após retornar à Inglaterra, ele continuou com o negócio de mineração familiar e dedicou o seu pouco tempo livre à sua grande paixão: a Geografia. Manteve contacto com os seus colegas universitários, que o convenceram a ingressar na recém-criada Sociedade Geográfica.
Mas tornou-se um parceiro simbólico devido à sua dedicação ao negócio e só comparecia às reuniões do Conselho quando o tempo permitia. Ele tinha voz e voto nelas, mas não participou