– O Laurence deixou-lhe uma coisa no seu testamento. Uma casa na ilha de Capri.
– O quê? Isso é ridículo! Não está a fazer uma brincadeira?
– Garanto-lhe que não é uma brincadeira, menina Hanson. Sou o testamenteiro. Se é a Veronica Hanson e vive em Glebe Point Road, em Sidney, na Austrália, é a dona de uma villa linda na ilha de Capri.
– Mas isso é incrível.
– Estou de acordo – confirmou ele. – Eu era amigo íntimo do Laurence e nunca o ouvi a falar de si. É possível que fossem família distante? Tio-avô ou uma coisa dessas?
– Suponho que sim, mas duvido – admitiu Veronica.
A sua mãe era filha única e o pai, que não conhecia, não podia ter aquele apelido inglês. Que ela soubesse, era um estudante letão que vendera o seu esperma por dinheiro.
– Vou perguntar à minha mãe. Talvez ela saiba.
– Admito que é estranho – concedeu o italiano. – Talvez o Laurence tenha sido seu paciente ou familiar de um paciente. Trabalhou em Inglaterra? O Laurence vivia lá antes de vir para Capri.
– Não, nunca.
Embora tivesse estado na ilha de Capri. Um dia. A fazer turismo. Há muito tempo. E recordava ter admirado as villas enormes e ter pensado que seria preciso ser muito rico para viver lá.
Questionou-se se Leonardo Fabrizzi continuaria a ser rico. E se continuaria a ser um playboy.
«Isso não te diz respeito», pensou.
– É um mistério – continuou ele –, mas a questão é que poderá tomar posse da propriedade depois de os papéis estarem assinados e de pagar os impostos.
– Que impostos?
– Os impostos de sucessão, que serão consideráveis, tendo em conta a propriedade. Dado que não é parente do Laurence, oito por cento do valor de mercado da casa.
– E quanto é isso exatamente?
– A villa deve valer entre três milhões e meio e quatro milhões de euros.
– Meu Deus! – exclamou Veronica, que tinha algum dinheiro poupado, mas não tanto.
– Se isso for um problema, poderia emprestar-lhe o dinheiro, que me devolveria depois de vender a casa.
A oferta surpreendeu-a.
– Faria isso? Suponho que se demore algum tempo a vender semelhante propriedade.
A solução parecia perfeita, mas Veronica preferiu ser precavida e não aceitar a oferta imediatamente.
Ele devia ter sentido que hesitava.
– Se o que a preocupa é que tente enganá-la – acrescentou –, pode pedir outra avaliação. Vou pagar-lhe do meu bolso, em dinheiro.
Veronica revirou os olhos, não gostava das pessoas que se gabavam de ter muito dinheiro. Os pais de Jerome eram muito ricos e sempre a tinham feito ver que era muito sortuda por ir casar-se com o seu único filho.
– Talvez queira um pouco mais de tempo para pensar – sugeriu o italiano.
– Sim. Isto apanhou-me de surpresa, na verdade.
– Mas é uma surpresa agradável, não é? – replicou ele. – Dado que não conhecia o Laurence pessoalmente, a sua morte não a afeta. E a venda da villa vai dar-lhe um bom dinheiro.
– Suponho que sim.
– Espero que não se incomode com a minha pergunta, menina Hanson, mas preciso de confirmar a sua data de nascimento, que aparece no testamento – indicou ele, lendo a data.
– Sim, está correta, embora não saiba como esse tal Laurence podia saber isso.
– Então, fez vinte e oito anos no passado mês de junho?
– Sim.
– É do signo gémeos.
– Sim. Embora não seja o típico – replicou ela. – Acredita nos signos do zodíaco, senhor Fabrizzi?
– É claro que não. Todos somos donos do nosso destino – declarou ele, com firmeza.
Veronica achou-o um comentário arrogante, mas não lhe disse.
– Então, tem a certeza de que não conhece nenhum Laurence Hargraves? – insistiu Leonardo.
– Absoluta. E tenho muito boa memória.
– Que curioso…
– Também acho. Importa-se que também lhe faça algumas perguntas?
– Claro que não.
– Que idade tinha o meu benfeitor?
– Hum. Não tenho a certeza. Devia estar perto dos oitenta. Sei que tinha mais de setenta quando a esposa faleceu e já foi há uns anos.
– Então, era idoso e viúvo. Tinha filhos?
– Não.
– Irmãos?
– Não.
– E como faleceu?
– Com um enfarte. Ainda que, segundo a autópsia, também tivesse cancro do fígado. Algumas semanas antes de morrer, disse-me que ia ao médico a Londres, mas fez um testamento e faleceu quando saía do escritório do advogado.
– Ena…
– Talvez tenha sido melhor assim, o cancro já estava em fase terminal.
– Bebia muito?
– Eu não diria isso. Porém, quem sabe o que um homem faz em privado?
De repente, Leonardo parecia muito triste. Isso fez com que gostasse um pouco mais dele.
Talvez estivesse a ser injusta com ele, talvez já não fosse um playboy, podia ter mudado.
– Se me der o seu endereço de correio eletrónico – continuou ele –, posso enviar-lhe uma cópia do testamento para que me dê uma resposta depois de o ler. Ou posso ligar-lhe amanhã a esta mesma hora para que voltemos a falar.
– Amanhã a esta hora não me dá jeito.
Aos sábados costumava ir jantar cedo com a mãe a um restaurante vietnamita.
– Que horas são agora em Itália? – perguntou. – Porque está em Itália, não está?
– Sim, em Milão, no meu escritório. São nove e meia.
– Muito bem. Gostaria de falar com a minha mãe primeiro e perguntar-lhe se conhecia algum Laurence Hargraves. Talvez ela possa resolver o mistério. Em qualquer caso, não tenho nenhum problema em vender-lhe a villa, senhor Fabrizzi. Adoraria poder ir de férias a Capri, mas receio que não possa pagá-las. Ligo-lhe dentro de uma hora, mais ou menos.
– Ótimo. Estarei à espera da chamada, menina Hanson.
Trocaram números de telefone e endereços de correio eletrónico e Veronica desligou e percebeu que estava nervosa depois de ter falado com Leonardo Fabrizzi.
Subiu as escadas para a zona da casa que Nora mandara construir há vários anos, quando instalara o seu negócio lá.
De repente, teve uma ideia bastante desatinada a respeito de quem podia ser Laurence Hargraves. O coração acelerou e sentiu um nó no estômago. Pensou que mãe nunca lhe teria mentido, sobretudo, numa coisa dessas.
Respirou fundo várias vezes e bateu à porta do escritório da mãe. Tremiam-lhe as mãos e tinha a boca seca.
– Sim? – perguntou a mãe.
Ela virou a maçaneta da porta e entrou na sala.
A mãe, que estava sentada à frente