– Estou de acordo – murmurou ela.
Damen deixou escapar um suspiro de irritação.
– Se esperas compaixão…
– Não espero nada.
– Melhor, porque isto é tudo culpa tua.
Kass ia dizer alguma coisa, mas fechou a boca e cerrou os dentes. Porque tinha razão. Como ia discutir?
– Não podes ficar aqui o dia todo.
Kass brincou com uma pérola bordada da saia do vestido.
– Não gosto de festas.
– Mesmo que seja o teu próprio casamento?
– Como ambos sabemos, não devia ser o meu casamento.
– E esse é o problema.
Kass levantou o olhar, mas ele deixava-a tão nervosa… Não se parecia com o pai ou com o irmão. Não se parecia com ninguém.
– O que pensavas que ia acontecer? – perguntou Damen, em voz baixa.
Kass odiava sentir-se tão patética, odiava sentir-se como um fracasso. Não se casara com ele para ser um fracasso.
– Não pensei no copo-d’água nem nos convidados – confessou, finalmente. – A verdade é que nem sequer me ocorreu. Só pensei na cerimónia e depois… – Kass respirou fundo e levantou a cabeça para olhar para ele nos olhos. – Pensei em tudo o resto.
– E o que é tudo o resto?
– Bom… ser a esposa adequada – respondeu Kass. – Sou grega e sei o que os homens gregos esperam.
– Foi isso que o teu pai te disse?
– Sim.
Algo no olhar especulativo de Damen fazia com que o seu coração acelerasse e não sabia como controlar sentimentos tão novos e tão estranhos para ela.
– E o que é que os homens gregos esperam?
Kass engoliu em seco, tentando não trair o seu nervosismo.
– Devo cuidar de ti, cuidar da casa… ou das casas. E devo dar-te filhos. Entendo e aceito essas responsabilidades.
– Pelo menos, uma das filhas do Dukas é responsável.
– A Elexis e eu somos diferentes.
– Gosta de festas.
– Teria gostado do copo-d’água, sim.
– E dos fotógrafos.
– A máquina fotográfica adora-a.
– Como é que o teu pai te convenceu a ocupar o lugar da tua irmã?
Kass franziu o sobrolho.
– Desculpa?
– Ameaçou-te ou trata-se de uma chantagem? Como conseguiu fazer com que fosses à capela e fizesses parte desta farsa?
– Não é uma farsa, casei-me contigo – contradisse ela, fazendo uma pausa. – Por vontade própria.
– Portanto, voluntariaste-te?
– Não, isso não, mas, quando o meu pai me explicou a situação, percebi que a minha família estava em dívida contigo. Não queria que os Dukas te humilhassem publicamente, portanto, aceitei ocupar o lugar da Elexis para que a fusão do negócio e das famílias acontecesse.
– Devo sentir-me agradecido por me terem forçado a casar-me com uma virgem?
Kass fez uma careta.
– Não estou a forçar-te a nada. Podemos anular o casamento hoje mesmo, se quiseres. Ou amanhã. Quando achares melhor – replicou, erguendo o queixo. – Desde que não consumemos o casamento, és livre para o anular a qualquer momento.
– É o que esperas que faça?
– Não, na verdade, não. Fiz promessas e tenciono cumpri-las. Espero que consumemos o casamento esta noite.
– E se não me apetecesse consumá-lo contigo?
Kass mordeu o lábio inferior. Sabia como era dececionante como mulher. Não podia comparar-se com Elexis, mas tinha sentimentos. E esperanças e sonhos.
– Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance e vou esforçar-me para que me desejes.
Damen atravessou o quarto para se aproximar da janela e olhar para o antigo templo de Poseidon, iluminado pelos últimos raios do sol. Naquela noite, haveria outro ocaso espetacular. Os crepúsculos em Cabo Sunião eram lendários.
– Talvez devêssemos esquecer esta farsa agora – sugeriu, de costas para ela, com o olhar fixo no mar.
– Talvez – concedeu Kass. – Não vou chamar-te covarde se o fizeres.
Virou-se bruscamente e observou-a com um ar impaciente.
– Eu cumpri a minha parte do acordo. Investi na Naval Dukas, resolvi os problemas legais do teu pai, despedi-me da minha amante e esperei pacientemente pela tua irmã…
– Evidentemente, foi um erro.
– Isso não está a ajudar, querida.
– Talvez devesses ter passado mais tempo com a tua noiva para saber se era a mulher apropriada.
– O teu pai garantiu-me que a Elexis era a esposa apropriada.
– E esse é o problema, confiaste no meu pai – disse Kass, brincando com outra pérola do vestido. – Sou realista, sempre fui, e conheço bem a minha família. Admiro as suas virtudes, mas também tenho consciência dos seus defeitos. Pessoalmente, não teria feito negócios com o meu pai, mas tu querias a Costa Oeste dos Estados Unidos, querias os barcos, os portos e os acordos. Bom, agora, já os tens.
Damen deu um passo em frente e Kassiani tentou não se acovardar quando parou à frente dela, tão alto que tinha de deitar a cabeça para trás para olhar para ele.
– Não tens boa opinião de mim?
– Acho que subestimaste a família Dukas.
– Não respondeste à minha pergunta.
Ela hesitou por um instante, antes de olhar para ele nos olhos.
– Não me teria casado com um homem de quem não tivesse boa opinião – declarou, finalmente.
Damen olhou para ela em silêncio durante uns segundos.
– Eu também não gosto muito de festas – declarou, depois. – Portanto, vamos ignorar o copo-d’água e vamo-nos embora agora mesmo.
Capítulo 2
Damen levou-a até à cozinha por uma escada de serviço e, de lá, saíram para o jardim. Abriram caminho entre as árvores frutíferas, atravessaram a horta e passaram por baixo de um arco de pedra para seguir um caminho que levava ao cais, onde esperava uma lancha.
O piloto ofereceu-lhe a mão, mas Damen adiantou-se, pegando nela ao colo. Quando a deixou no chão da lancha, Kass balançou sobre os saltos altos e sentou-se o mais depressa que pôde. Damen sentou-se à frente dela e o piloto pôs o barco a trabalhar a toda a velocidade para se afastar da vila. Kassiani agarrou-se à beira do banco com uma mão, tentando controlar o véu pesado com a outra enquanto olhava para a propriedade, e para o copo-d’água, que deixavam para trás.
A vila era grande, uma das mais antigas da zona na costa ateniense. Fora construída à frente do Egeu e o arquiteto certificara-se de que todas as divisões tinham vista para o mar cor de turquesa e para o templo de Poseidon na colina.
Dali, conseguia ver as luzes suaves e douradas no jardim, as lâmpadas às cores penduradas nas árvores e os candelabros que iluminavam