– Não mereço… – começou a dizer Maria. Ao ver que a sua tia não queria continuar a falar, Luc e a sua filha partiram da loja. Bella queria perguntar a Maria o que começara a dizer, mas, ao olhar para a cara dela, decidiu que era melhor não o fazer e dirigiu a sua atenção para uma cliente que acabava de entrar.
Ao reconhecer que era uma das pessoas presentes no jantar a que tinham ido há algumas noites, sentiu um calafrio a percorrer-lhe a espinha dorsal.
– Tenho a certeza de que posso deixar-te encarregue de atender esta senhora, Arabella – disse Maria, suavemente, dirigindo-se para a porta. – Preciso… de estar sozinha.
Capítulo 5
Soou a campainha da porta. Luc respirou fundo e deu-se conta de que se sentia… nervoso. Queria agradar a Maria e que esta quisesse fazer parte da sua vida. Desde que a olhara nos olhos, sentira que havia uma ligação entre eles.
Abriu a porta e viu a sua tia no patamar: a mesma sensação voltou a apoderar-se dele.
– Bem-vinda à minha casa! Entre, por favor.
Bella estava ao lado de Maria e, ao abrir mais a porta, Luc pôde vê-la. Estava vestida com um elegante vestido verde que deixava claro o quão alta e esbelta era. Tinha umas pernas muito compridas que lhe inspiravam pensamentos não apropriados, tendo em conta que a sua tia estava diante dele.
– Bella – disse ele, num tom nada desinteressado. Então, pigarreou. – Entra.
Ela olhou para os lindos olhos escuros de Luchino e avisou-se de que não devia demonstrar como aquele homem a afectava.
– Boa noite, Luch… Luc – disse.
Pensou que pareceria estranho a Maria se ela, a sua «suposta namorada», o chamasse pelo seu nome completo.
– Aqui estamos, como… acordámos – disse, entrando na casa com a esperança de deixar muita distância entre eles ao fazê-lo.
Mas Luc não a deixou passar.
– Arabella, estás fantástica! – exclamou ele, agarrando-a pelos braços e beijando-a nas faces.
Aquilo foi tão mediterrânico, tão Luchino, tão encantador, que ela simplesmente ficou ali de pé. Então, ele deu-lhe um beijo suave nos lábios, rápido, mas sensual.
Quando se afastaram, ao olhar para ele nos olhos, pôde ver o efeito que aquele beijo também causara nele.
– Eu… Não podes… Disse-te que não quero…
Luc ignorou os protestos de Bella e cumprimentou a sua tia, dando-lhe também dois beijos nas faces. Então, afastou-se para que pudessem passar.
Ao entrar na casa de Luc, Bella sentiu uma sensação inexplicável de poder pertencer àquele lugar, mas era impossível, dado o comportamento daquele homem.
– Luc, é um prazer estar aqui para te ajudar a conhecer a tua tia – disse Bella, avisando-o com o olhar de que esperava que se restringisse a uma atitude formal naquela noite.
O olhar de Luc reflectia a paixão que sentia, mas depois de um momento assentiu, imperceptivelmente.
Ele concordava com ela. O beijo que lhe dera fora só para convencer Maria. Mas Bella não sentia o alívio que devia sentir.
– O jantar está quase pronto – disse Luc, dirigindo-se a Maria. – Venha conhecer Heather, a nossa governanta e ama.
A casa era grande e estava agradavelmente decorada. Na mesa da sala de jantar havia um bonito arranjo floral. Bella virou-se e viu que Luc estava a olhar para ela. Então, sorriu, não querendo que ele reparasse no quão confusa estava.
– As flores são do teu jardim?
– Sim. Grace e Heather cortaram-nas e arranjaram-nas.
– São muito bonitas – disse Maria, nervosa.
Quando entraram na cozinha, encontraram Grace em cima de um banco, a cortar massa com um molde com forma de canguru. Havia farinha por todos os lados. Assim que viu o seu pai, tentou descer do banco e os seus olhos reflectiram apreensão.
– Vou buscar um pano. Eu limpo isto. Heather disse que podia brincar…
– Está bem – disse Luc, aproximando-se e abraçando a sua filha.
Mas não era para tentar pará-la e a sua cara não mostrava nenhum sinal do aborrecimento que a menina parecia esperar.
– O jantar está quase pronto, piccola, portanto talvez seja melhor lavares as mãos. Se quiseres, depois podes acabar de cortar a massa. Não importa se as coisas ficarem sujas de farinha.
A pequena respirou fundo, claramente a tentar acalmar-se.
– Vou preparar-me. Não demoro – disse.
– Boa menina! – respondeu Luc.
Então, apresentou Bella e Maria à sua governanta.
Heather serviu o jantar enquanto Luc servia as bebidas. Sumo de maçã para Bella, acompanhado de um olhar atrevido que ela, embora quisesse, não conseguiu ignorar. A comida estava deliciosa.
Luc esforçou-se para impressionar Maria, contando histórias que fizeram Bella rir-se. Mas Maria, apesar da sua boa disposição, manteve-se nervosa. A filha de Luc esteve ao lado do seu pai, também calada.
Quando Luc ofereceu a sobremesa, Maria abanou a cabeça.
– Eu… foi uma noite maravilhosa, mas… receio que fiquei com uma dor de cabeça terrível.
– Levo-a a casa – disse Bella, levantando-se.
– Eu posso levar as duas – disse Luc, levantando-se e olhando para a sua tia, preocupado. – Foi algo que eu tenha feito, zia? Quero que esteja à vontade comigo.
– Não, não. És um rapaz óptimo e eu nunca pensei que tivesse… – mais uma vez, abruptamente, não acabou o que estava a dizer, levando a mão à face. – Devia ter sido eu a entrar em contacto contigo quando chegaste a Melbourne. Lamento não o ter feito. Foi uma fraqueza da minha parte evitar…
– Não importa. Não me incomoda – garantiu Luc. – Diga que voltará a ver-nos; é tudo o que preciso ouvir – disse, suavemente, mas suplicando a Maria com o olhar.
– Quero fazer parte da vossa vida – disse Maria, forçadamente. Então, dirigiu-se a Bella. – Foi óptimo ver… Luchino e a mi… e Grace, mas… realmente tenho de ir. Se não te importares, chama-me um táxi…
– Compreendo – disse Bella, que, na verdade, não compreendia nada.
Mas, se Maria precisava do isolamento que supunha um táxi para voltar para casa, ela chamá-lo-ia.
– Eu vou pedir um táxi – disse Luc.
Quando ele saiu da sala, Maria seguiu-o com o olhar e, depois, olhou para Bella com sofrimento reflectido nos olhos.
– Tantos segredos – murmurou. – Já é demasiado tarde…
– O que quer dizer? – perguntou Bella, aproximando-se de Maria. – Não compreendo.
– Chegará um táxi dentro de poucos minutos – anunciou Luc, que regressou demasiado depressa. – Maria, entretanto quer um analgésico?
– Sim, por favor – respondeu Maria, com a voz trémula.
Quando, finalmente, se ouviu a buzina do táxi, foi quase um alívio. Maria apressou-se a agradecer a Luc pelo jantar.
– Por favor, perdoa-me por ter de me ir embora. Estou… é demasiado…
– Não há nada para perdoar. Só espero que melhore depressa. Quero que esta seja a primeira de muitas outras vezes que nos vejamos,