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precisava de ser usado com sabedoria, sem desperdícios.

      – Obrigada, Rosita – sorriu para a sua confidente e agarrou no telefone. – Qual é o problema, António?

      Um telefonema durante o dia significava problemas.

      – Nonna, preciso da sua ajuda.

      – É claro.

      – Estou em Cape Tribulation. Houve uma ocorrência operacional na plantação de chá e terei de voar para Innisfail para resolver as coisas. O problema é que tenho que fazer entrevistas a três candidatas para o cargo de chefe de cozinha do Duquesa.

      O interesse de Isabella foi imediatamente despertado.

      – E gostarias que eu as entrevistasse e seleccionasse a melhor.

      António suspirou aliviado.

      – Pode ser? Irei comunicar-lhes a mudança do local da entrevista. Nem precisará de sair do castelo.

      – Vai preencher bastante o meu dia, António.

      – Óptimo. Elas são jovens mulheres…

      Esplêndido, pensou Isabella. Talvez uma pudesse ser uma possível esposa. António precisaria de alguém que gostasse de estar num barco.

      – E não se esqueça: o que preciso é de uma cozinheira que saiba fazer peixe muito bem. É isso que se espera do Duquesa. Não se esqueça desse pormenor, nonna. Teste-as.

      Isabella sorriu pela confiança do neto na sua habilidade de fazer tal coisa. E por que é que ele não respeitaria o seu julgamento? Ela supervisionava o serviço de buffet para os casamentos do castelo há muitos anos e nunca houvera uma reclamação sobre a comida servida. Sempre insistira no melhor e sabia como consegui-lo.

      – Fica descansado. Vai resolver o que tens em mãos.

      – Obrigado, nonna. Passo aí esta tarde, assim que resolver as coisas.

      – Hannah O’Neill? – perguntou a recepcionista. – Infelizmente, o senhor King teve um contratempo e a entrevista será conduzida pela senhora King, no castelo.

      – Com certeza. – Hannah sorriu. – Onde é que é?

      A recepcionista olhou-a surpreendida.

      – Não conhece o castelo dos King?

      Por que é que haveria de conhecer?

      – Cheguei a Porto Douglas há algumas horas apenas – explicou rapidamente. – E vim directamente para a marina. Um excelente lugar…

      – Óh! Bem, continue pela rua Wharf, até ao fim. Aí, verá o parque de estacionamento para visitantes. A escadaria irá conduzi-la…

      Um castelo de verdade! Hannah mal conseguia acreditar no que via quando chegou ao fim das escadas, quinze minutos depois. Tinha até uma torre em mosaicos. Medieval com toda a certeza! A pérgula poderia ter sido trazida da Roma antiga. Um lugar incrível, com vista para o oceano do extremo norte de Queensland. Um lugar verdadeiramente majestoso.

      A curiosidade da jovem foi instantaneamente aguçada. Que tipo de pessoas moravam naquele castelo? Só pessoas muito ricas poderiam mantê-lo daquela forma; concluiu, ao observar os magníficos jardins tropicais. Devia haver uma história muito interessante por trás deles. Talvez pudesse saber alguma coisa a respeito durante a entrevista com a senhora King. As pessoas gostavam de falar de si mesmas e quanto menos a conversa se focasse no seu curriculum, melhor.

      Surpreendeu-se ao ver uma senhora de idade sentada ao ar livre. Parecia relaxada, a estudar algumas pastas. À sua frente, tinha uma bandeja com uma jarra de sumo, outra de água, um prato com bolachas e três copos. Quando Hannah se aproximou, percebeu que a mulher a estava a submeter a um detalhado exame. Mas também ela reparara na senhora. No seu ar aristocrático, no vestido de seda preto e no broche de opala pregado no decote próximo do pescoço.

      Hannah pensara que iria conhecer uma mulher muito mais nova, mas não teve dúvidas, quando viu Isabella, de que aquela era a senhora King. Embora fosse uma senhora de cabelos brancos, a mente por trás daqueles olhos escuros era brilhante. A jovem sentiu que estava a ser catalogada em meticulosos detalhes.

      De repente, lembrou-se de que tinha a barriga à mostra. Desejou que tivesse vestido uma camisa que não expusesse o seu umbigo. Olhar para baixo seria um atestado de insegurança. Então, manteve a cabeça elevada e coluna erecta.

      – Hannah O’Neill? – perguntou a mulher, com uma expressão levemente confusa no rosto.

      – Sou eu – respondeu, ao usar um sorriso amigável para dispersar qualquer julgamento negativo.

      A mulher mais velha assentiu com um gesto de cabeça e sorriu.

      – Sou Isabella Valeri King.

      Era definitivamente um nome forte, enfatizando uma herança de realeza nas entrelinhas. Hannah manteve o sorriso.

      – É um prazer conhecê-la, senhora King.

      – Por favor, sente-se, menina O’Neill. E sirva-se.

      Hannah estava feliz por a mesa tapar, da senhora King, uma possível visão do seu umbigo. Geralmente não era consciente do seu corpo, mas quase nunca estava na presença de uma mulher que exalava aristocracia, vestida como uma duquesa. Com certeza não naquele clima tropical.

      – É impressionante a quantidade de empregos que já teve, menina O’Neill… Tem viajado pela Austrália sozinha?

      – Bem, completamente sozinha, não. Fiz amigos aqui e ali e às vezes viajo com eles. É bom ter companhia em viagens longas.

      – É muito mais seguro para uma rapariga, calculo. Ou está comprometida com alguém?

      – Não. – Sorriu, timidamente. – Ainda estou à procura do homem certo.

      – Tem como objectivo o casamento?

      A pergunta tão directa apanhou Hannah de surpresa.

      – Bem, suponho que o homem certo seja para isso, senhora King – recuperou-se, ao perceber que aquela mulher não devia apreciar relacionamentos casuais. – Infelizmente isso não é muito fácil de se encontrar hoje em dia – continuou, ao sentir que precisava de explicar o fracasso de não o ter encontrado ainda. – Não é só a questão de ele ser o certo para mim. Também tenho de ser a certa para ele. – E suspirou. – Aqui estou eu, vinte e seis anos e toda essa combinação ainda não me aconteceu.

      A mulher assentiu, em cumplicidade.

      – É verdade que não temos domínio sobre isso. Como diz, precisa haver uma combinação de auspiciosas circunstâncias.

      Esta já está, pensou Hannah triunfante.

      – Importa-se de me falar um pouco sobre a sua família, menina O’Neill? Vejo que é descendente de irlandeses.

      Hannah riu. O bom humor encobria muitos defeitos.

      – Irlandês de ambos os lados. O nome da minha mãe é Maureen Ryan. Sou a filha do meio. Somos nove filhos, todos muito desejados e amados.

      – Nove? É uma família muito grande nos dias de hoje.

      – Eu sei. Surpreende muita gente. Alguns desaprovam, chegam, inclusive, a apelidar de procriação igual à dos coelhos. Mas só posso dizer que sempre foi óptimo ter o apoio de uma grande família.

      – Não sentiu a falta deles nesta longa jornada? – perguntou a senhora King, curiosa.

      – Bem, nós também aprendemos a ser independentes. A seguir o próprio destino. Além disso, eles só estão a um telefonema de distância. Reparei que existe um cibercafé em Porto Douglas. A Internet facilita o contacto.

      A senhora assentiu, parecia satisfeita com a descrição da família de Hannah.

      – Também pretende ter muitos filhos? – Indagou.

      Por que