– Tinhas-me dito – sussurrou ela –, que o povo de Kadar não te era leal.
– É um povo romântico, para além de tradicional. Gosta da ideia do meu casamento, a de um casamento de contos de fadas, mais do que eu gosto.
Ao fim de dois minutos intermináveis, Aziz baixou a mão e Olivia achou que tinham acabado. Mas ele continuou a agarrá-la pela cintura enquanto lhe punha a outra mão no queixo.
– O que estás a fazer? – sussurrou ela.
– A multidão quer que nos beijemos.
– O que se passou com as demonstrações de afeto? – perguntou ela, cerrando os dentes. – Não era um país conservador?
– Siyad é um pouco mais moderna. E não te preocupes, porque será um beijo casto, sem língua. – Ela abriu a boca por causa do susto e ele aproveitou para a beijar.
Olivia ficou paralisada com o contacto dos seus lábios. Há tanto tempo que não a beijavam que se esquecera de como se sentia. Os lábios de Aziz eram suaves e frescos e segurava-lhe o rosto com firmeza e ternura. Ela fechou os olhos instintivamente enquanto tentava reprimir a onda de desejo que a invadira de forma inesperada.
– Já está. – Aziz afastou-se dela a sorrir. – Conseguiste conter-te.
– Foi fácil – respondeu ela. E ele desatou a rir-se.
– É maravilhosamente fácil zangar-te, Olivia. Cintilam-te os olhos.
– É uma alegria sabê-lo – contra-atacou ela. E ele voltou a rir-se.
Regressaram à sala, mas Olivia mal se apercebeu do que a rodeava. Os lábios formigavam como se o beijo breve a tivesse eletrocutado. Fora um beijo casto, pouco mais do que um toque dos lábios, mas sentia-se trémula e fraca. Porque é que um simples beijo a afetara tanto?
Porque não fora simples para ela. Quando há uma década que não a beijavam, um beijo breve podia ser explosivo e inesquecível.
Assim que as portas da varanda se fecharam, Olivia soltou-se da mão de Aziz. E teve de se conter para não esfregar a boca, como se, com essa ação infantil, pudesse afastar a lembrança do beijo e dos sentimentos que lhe causara.
– Acabámos. Posso voltar para Paris.
– Vais voltar amanhã de manhã.
– Porque não esta noite?
– É uma viagem longa, Olivia. O piloto deve descansar e temos de atestar o avião. Além disso, tenho de jantar com a minha noiva e sei que é algo que não queres perder.
Ela ignorou a brincadeira, embora quase sorrisse. Aziz era incorrigível.
– Não disseste nada sobre um jantar.
– Devo ter-me esquecido.
– Não seja mentiroso.
– Como xeque, é verdade que determino quanta informação devo dar num dado momento.
Ela sorriu enquanto percebia que, como todas as mulheres, estava a cativá-la com o seu encanto.
– E devo ser a rainha Elena ao jantar?
– É um jantar privado, por isso só deves fingir para mim.
– E para o pessoal que nos vir juntos. Aziz, isto é ridículo. É possível que possa passar pela rainha Elena de uma varanda, mas não cara a cara. Bastará um membro do pessoal olhar para mim para que saiba.
– Presumes que suspeitam de alguma coisa. Porque haveriam de o fazer? Sabia-se que a rainha chegaria esta tarde de avião. E fê-lo. Depois, foi à varanda comigo, como estava previsto. Está tudo a correr segundo os planos, Olivia. Ninguém tem razões para suspeitar.
– A não ser o facto de não me parecer com ela.
– Achas que alguém do palácio conhece a rainha Elena pessoalmente?
– Há fotografias nos jornais. Além disso, não veio cá para falar do vosso casamento?
– Sim, mas foi uma reunião privada e muito discreta. Não queríamos que a negociação fosse descoberta.
– De todos os modos.
Ele sorriu e pôs uma mão na sua. Olivia teve de se conter para não a afastar.
– É apenas um jantar, Olivia. E vais-te embora de manhã.
Ela abanou a cabeça. Sentia-se arrastada por uma corrente que a afastava de tudo o que conhecia e desejava, de tudo o que lhe proporcionava segurança. E não conseguia lutar contra ela.
No entanto, era suficientemente sincera consigo própria para reconhecer que a tentava desfrutar desse tempo curto com Aziz, deixar-se cair sob o seu feitiço. Só durante uma noite. Depois, voltaria à sua vida anódina.
– Tens de comer, Olivia – murmurou ele.
– Posso comer uma sandes no meu quarto.
– Muito bem, posso encontrar-me contigo lá. Claro que, assim, o pessoal vai mexericar muito mais.
– És impossível – acusou, afastando a mão.
– Obrigado – troçou, sorrindo.
– Não é um elogio – avisou, com aspereza.
– Eu sei. – O sorriso de Aziz alargou-se.
Tinha algum sentido resistir? Aziz acabaria por a convencer com o seu encanto, que escondia uma determinação de ferro. Não percebera antes como era decidido, mas os desejos de ambos nunca antes tinham sido opostos. E eram nesse momento?
«Tenta-te», pensou Olivia.
Tentava-a passar a noite com um homem tão bonito, aceder a essas zonas esquecidas de si própria e sentir-se bela e desejada, mesmo que fosse fingido.
– Muito bem, jantarei contigo. Mas vou-me embora amanhã bem cedo.
Olhou para ele, desafiante, e ele limitou-se a sorrir.
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