– Quer ser o dono – declarou Andreas.
– É um controlador compulsivo, como tu.
Ele encolheu os ombros.
– Tem três filhos e um legado para lhes deixar.
– E os teus filhos? – perguntou Kayla.
Presumivelmente, Andreas estava disposto a casar-se e a ter filhos. Não queria deixar-lhes um legado?
– Estou a pensar em dedicar-me a investimentos de capital de risco.
– Estiveste a ver aquele programa outra vez, não foi? – perguntou Kayla, referindo-se ao seu programa favorito de televisão sobre investidores de capital de risco que investiam em empresas emergentes. Costumavam vê-lo quando estavam juntos e Andreas orgulhava-se de adivinhar que investidores iam conseguir múltiplas oferta e quais não conseguiriam nenhuma.
– Por muito fascinante que seja tudo isso, temos de dar a reunião por acabada – anunciou Genevieve, enquanto olhava para o seu relógio de marca. – Tenho uma reunião com outro cliente.
A sério? Quantos milionários precisavam dos serviços de uma casamenteira?
– Quantos clientes tem? – perguntou Kayla.
– Isso é informação privilegiada – respondeu ela, num tom altivo.
– O dinheiro que o Andreas pagou dá-me o direito de saber.
Genevieve virou-se para ele.
– Tinha a impressão de que tinhas feito uma transferência da tua conta pessoal.
– É claro que sim – confirmou ele.
A casamenteira virou-se para Kayla.
– Então, isto não lhe diz respeito – declarou, num tom condescendente.
Esse tom podia tê-la irritado, mas Kayla tinha preocupações mais importantes.
– Tem razão, não me diz respeito – assentiu, levantando-se. – De facto, continuo sem entender o que raios faço aqui. Se vais vender a empresa, os meus cinco por cento não vão deter-te. E, se queres pagar uma fortuna a esta mulher para que te procure encontros quando sei que não tens o menor problema em encontrar companhia feminina, também não me diz respeito – acrescentou, decidida. – Não acho graça que me afastes do meu trabalho quando podias ter-me dito com uma mensagem de texto: «Vou contratar uma casamenteira.»
– Esperavas que te dissesse que ia vender a empresa através de uma mensagem de texto? – perguntou Andreas, surpreendido.
– Não esperava que vendesses a empresa e muito menos que mo dissesses numa reunião com uma terceira pessoa – indicou ela, olhando para ele nos olhos. – Mas, agora, percebo que estava errada em muitas coisas.
Aquela reunião era sobre a sua decisão de se casar. O assunto de vender a empresa aparecera apenas como parte da conversa, mas, aparentemente, estivera na sua agenda desde o começo.
Kayla virou-se e saiu do escritório, com o coração apertado. Sentira-se assim algumas vezes na sua vida.
No dia em que entendera que a mãe não ia voltar. Recusara-se a falar durante dois anos depois de a abandonar.
No dia em que a mãe de acolhimento morrera, obrigando-a a ir de casa em casa.
No dia em que entendera que Andreas se interessava mais pelas suas habilidades como designer de software do que por ter um espaço na sua cama ou até uma amizade.
O assistente pessoal de Andreas levantou-se quando Kayla saiu do escritório.
– Estás bem?
Ela abanou a cabeça.
– O que se passa?
– O Andreas vai casar-se.
Kayla não mencionou a possibilidade de vender a empresa. Afinal de contas, não fora por isso que marcara a reunião.
– Com ela? – Bradley esbugalhou os olhos.
– Não, com ela, não. É uma intermediária.
O jovem pôs uma mão no seu braço.
– Lamento muito.
Não disse mais nada, mas não era preciso. Para além de Andreas, Bradley conhecia-a melhor do que ninguém. Talvez melhor do que Andreas porque, desde o primeiro ano, percebera que estava apaixonada pelo grego distraído.
Capítulo 2
Algumas horas depois, Kayla estava perdida a inserir o código de um programa que tinham descartado no ano anterior como inviável quando sentiu uma mão no ombro. E soube imediatamente a quem pertencia.
– Estou ocupada, Andreas.
– Não estás a trabalhar num programa de desenvolvimento.
– Sou a diretora de Desenvolvimento e Investigação. Isso significa que eu escolho os programas em que trabalho.
– E em que estás a trabalhar?
– Num programa com que o Sebastian Hawk ganhará outros cem milhões de dólares, se conseguir fazer com que funcione.
– Ainda não vendemos a empresa.
Virou-se para olhar para ele.
– Não brinques comigo, Andreas. Sei que queres vender.
– Sim, quero vender – assentiu ele, com um ar aflito.
– E quando tencionavas dizer-me?
Kayla estava prestes a gritar, a perguntar como era capaz de lhe arrebatar o seu trabalho e a sua segurança com um só golpe, mas não o fez. Para começar, porque Andreas não entenderia. O facto de estarem a ter aquela conversa deixava-o bem claro.
– Depois da nossa reunião com a menina Patterson.
– Porque me fizeste entrar no teu escritório?
– Porque ela queria fazer-te algumas perguntas.
– Porquê?
Andreas fez uma careta.
– És a minha melhor amiga.
– E vai entrevistar todas as tuas amigas?
– Não, todas não.
– Não costumas separar a vida pessoal dos negócios?
– Tu e eu trabalhamos juntos, mas continuamos a ser amigos.
Até àquele dia.
Andreas saberia como parecia arrogante ou como as suas palavras eram dolorosas? Não, claro que não.
– Tão bons amigos que não te incomodaste em dizer-me que tinhas intenção de te casar e que tinhas contratado uma casamenteira muito cara para que te ajudasse a fazê-lo. Não me falaste desse plano e também não falaste do plano de vender a empresa. Sim, somos muito amigos – troçou, sarcástica.
– Falei-te da Genevieve. – Andreas franziu o sobrolho, ignorando a venda da KJ Software. – Hoje.
Kayla sentia que a cabeça ia explodir.
– Os amigos falam dessas coisas antes de as fazer.
– Como sabes?
– Porque sei – respondeu Kayla. – Sei como ser uma boa amiga.
– Estás a dizer que eu não sou?
– Começo a pensar que não.
– Vou fingir que não ouvi isso. Sei que estás triste