Gwen estava errada. Zane tinha realmente virado a página.
Contra todos os meus desejos, senti as lágrimas ardendo em meus olhos.
Eu me senti mortificada.
Eu não era nada agora.
Era como se não restasse nada de mim naquele lugar.
Eu tinha caminhado até aquele arranha-céu, com minha caixa cheia de muffins e com a esperança de que algo de mim tivesse ficado naquela empresa ou… em Zane.
Algo a que eu pudesse me agarrar a fim de recomeçar depois de deixar Zane e Chicago.
Em vez disso, descobri que não havia mais nada lá para mim.
Nenhuma conexão, nada em que me apoiar. Sem um resquício ou oportunidade para recomeçar.
De repente, a porta do escritório protegido pela secretária mal-humorada se abriu e Zane saiu dela, acompanhado por uma mulher muito elegante e bonita.
— Zane, você sabe como fazer uma mulher feliz, — ela exclamou alegremente.
— Trisha, eu sei te fazer feliz, — ele respondeu com um sorriso sedutor e aquela voz rouca que no passado sempre fazia minhas pernas fraquejarem.
— Que bajulador, — ela riu alegremente, mas ele não estava mais sorrindo.
Ele estava olhando para mim.
Quando eu retornei seu olhar, cada traço de seu sorriso e charme havia sumido.
— Sarah, acompanhe-a até o elevador, — Zane ordenou imediatamente a sua secretária, irritado. — Trisha, desculpe, mas eu tenho uma emergência. Falo com você depois.
A emergência seria eu… Obrigada pelo enésimo golpe na minha autoestima.
— Saia daqui! Você não é bem-vinda aqui, — Zane sibilou assim que ficamos sozinhos. — Você veio criar problemas aqui também e arruinar o que eu construí nestes anos?
— Claro que não. Como você pode pensar isso de mim?
— Primeiro você me acusa de fazer com que fosse demitida, depois me dá um tapa e agora está aqui. Desculpe não consigo ser otimista. Talvez você prefira uma recepção de braços abertos? Bem, esqueça! Seu nome não está mais na placa da entrada e você não pode mais vir aqui. Fui claro?
Mal tinha ouvido uma palavra do que ele acabara de dizer. O ódio e a raiva que vi em seu olhar frio me paralisaram.
Eu não entendia como ele podia me odiar tanto.
Ele tinha um negócio próspero e bem-sucedido.
Ele continuava jovem e bonito, assim como eu me lembrava dele.
Certamente, ele já tinha outra parceira, talvez aquela mesma mulher, Trisha.
Em um instante, olhei para a mão esquerda dele em busca de um anel.
Não, ele não se casou novamente.
Mas ele tinha tudo. Eu não tinha nada.
O que mais ele poderia querer?
— Eu queria apenas me desculpar por ontem e entregar estes muffins que a Gwen fez. São muffins de mirtilo, seus favoritos. Apenas um pequeno gesto para me desculpar pelo que aconteceu. Sinto muito, eu não queria ter te dado um tapa. Foi um gesto impulsivo e estúpido, me deixei levar pelo nervosismo acumulado por um período difícil e…
— Não me importo, — ele me interrompeu.
— Zane, eu realmente sinto muito.
— Como disse ontem, eu não sei o que fazer com suas desculpas. Agora, por favor, saia e nunca mais volte. Tenho que trabalhar.
— E quanto aos muffins?
— Eu não quero nada que venha de você. Só quero que saia daqui.
Zane parecia realmente determinado.
— Certo, desculpa. Sairei imediatamente. Adeus, — eu gaguejei com um nó na garganta que parecia querer me sufocar.
Zane nem me respondeu.
Dei a volta e me dirigi para os elevadores, sob seu olhar atento.
Nunca me senti tão humilhada e despedaçada desde o dia do divórcio.
Aparentemente, quatro anos não foram suficientes para esquecer. Nem para mim e nem mesmo para ele.
Só quando as portas do elevador se fecharam, uma lágrima de tristeza caiu no meu rosto.
Eu me senti sozinha, no meio de um oceano.
Abracei o meu corpo em busca de calor, mas me peguei tremendo, confusa e desesperada.
Senti apenas um grande vazio dentro de mim.
Não era assim que eu esperava me sentir depois de quatro anos.
Tinha imaginado muitas vezes encontrar Zane, mas em todas as minhas fantasias, sempre permaneci desapaixonada e serena, satisfeita com minha vida e comprometida com minha nova carreira.
Em vez disso, eu estava sem um tostão, sem um emprego ou um novo amor… e logo mais sem uma casa, se não pagasse o aluguel imediatamente.
Audrey, não desista! Ainda há muitas coisas que você pode fazer!
Limpei o rosto e, quando as portas do elevador se abriram novamente, corri para a saída.
Andei muito tempo, até chegar ao Parque Sherman, onde relaxei em um banco em frente a um lago cheio de patos.
Exausta e com fome, abri a caixa de muffins de Gwen.
O cheiro de mirtilo e glacê penetrou minhas narinas, me transportando de volta ao longo dos anos, até os tempos em que eu costumava passar as manhãs de domingo deitada na cama ao lado de Zane, depois de fazer amor a noite toda.
Lembrei que eu adorava sair cedo de casa, sorrateiramente, para ir ao café da Gwen a uma quadra de nossa casa. Me abastecia de café, muffins de mirtilo para Zane e gotas de chocolate para mim. Depois, voltava para casa, preparava as bandejas e voltava para o quarto. Toda vez Zane acordava por causa do cheiro de doces e café, seu único vício.
Sempre tomamos café da manhã nos braços um do outro, fazendo planos para o futuro, depois voltávamos a fazer amor sem nos preocupar com as horas.
Apenas uma vez que Zane passou à minha frente e acordou antes de mim para ir buscar muffins e preparar um café da manhã surpresa.
Foi nessa época que encontrei um anel de noivado dentro de um dos meus doces.
***
— O que é isso? — Eu perguntei a ele, fingindo indiferença, enquanto meu coração saltava do meu peito.
— Ah, nada importante, — acrescentou ele rapidamente com indiferença. — É só uma maneira de te lembrar que em breve você será minha esposa.
— E esta seria a sua proposta de casamento? — Eu ri, achando graça. — Eu esperava algo mais romântico e espalhafatoso de um diretor de criação.
— Eu pensei sobre isso, mas então você cortou minhas asas quando me disse que odeia declarações públicas de amor.
— Verdade.
— Você também me disse que não suportava ouvir a frase clichê: Quer se casar comigo? Em filmes românticos
— Acho que é desprovida de originalidade e muito clássica.