Ele partiu e Cherry ainda ficou lá.
"Eu estou indo para dentro, a porta está aberta para quando você se decidir," disse Hector em voz alta, indo embora.
Uma careta depois e ele ouviu a mala de viagem deslizar pela rua em direção a ele.
GOTA QUATRO
"Cherry!" Pickle exclamou e lhe abraçou, não, espremeu bem apertado.
"Oi. Estou aqui. Yay," Cherry disse com um sorriso forçado.
"Finalmente! Eu fiquei preocupada, você não respondeu as minhas mensagens. Deixa pra lá, deixa eu te mostrar tudo. Esta é a casa, e esse é..."
Pickle falou sem parar sobre o lugar, parecendo atordoada. Cherry não queria azedar seu humor, mas ela simplesmente não estava se sentindo animada. Claro, ela confiava na amiga e estava certa de que isso não era algum tipo de armadilha, mas ela já havia se iludido muitas vezes antes. Ela não pôde deixar de esperar que algo acontecesse.
"Esta é a cozinha, é praticamente a nossa sala de reuniões. Este é o ouzo de Hector, tem um bom estoque disso, se você aguentar. Este armário é minha despensa de picles, você pode pegar o quanto quiser." Ela pegou um frasco inteiro de picles.
"Puxa, obrigada..." Cherry riu.
"E este é o nosso quarto. Nós vamos dormir juntas esta noite e iremos buscar uma cama para você de manhã cedo, tudo bem?"
Cherry encolheu os ombros e deixou sua mala num canto. Pickle estava agitada, apontando as coisas para a esquerda e para a direita. "Este é o banheiro, podemos usar o de cima. Hector deixou apenas para nós. E este é o depósito, nunca toque em nada aqui dentro, é tudo empoeirado, de qualquer forma. Este é o quarto de Hector e agora vamos descer as escadas." A três passos do fim da escada, ela sentou-se e sussurrou o resto. "Este ponto é o melhor para dar uma espiada em Hector, enquanto ele trabalha, sem incomodá-lo. É uma bela vista enquanto se come um lanche." Pickle mordeu um picles e observou.
Hector estava realmente sem camisa, suando por cima da sua forja. Era uma forja de alta tecnologia, construída para trabalhos de precisão, que podia até mesmo fazer peças de naves espaciais, mas ainda assim era quente pra caralho. Uma chaminé feita de metamateriais à base de grafeno levava o calor para longe e para fora. Ele estava fazendo peças para suas armaduras, fazendo trabalhos pesados em um momento, batendo no metal com martelos e derramando ligas fundidas em moldes, e no momento seguinte ele fazia um delicado bordado, misturando o material macio ao resistente em uma fusão perfeita.
Cherry observou também, e distraidamente aceitou um picles do pote e o mastigou. Hector parecia Hefesto, trabalhando em sua forja. Mas em vez do baixo e atarracado CEO Olímpico, este era alto, magro, com músculos construídos pelo trabalho, nada parecido com o tipo fisiculturista inchado. As garotas observavam enquanto os músculos se definiam e contraíam, direcionando cada golpe do martelo no local exato em que ele estava mirando. Cherry podia ver que não havia excessos, nem golpes errados, nem desperdício de material. Era como assistir a um pintor pousar cada pincelada no ângulo e posicionamento precisos para terminar com uma obra-prima. Um pintor com um martelo e músculos definidos e brilhantes, cabelos escuros e uma barba curta, e o roçar de um peito peludo que terminava em uma linha de pelos ainda mais escuros na parte inferior da barriga, e desciam para dentro de suas calças... Depois de um longo momento, ela sussurrou, "Eu ia realmente tirar sarro de você no começo, mas posso definitivamente ver o motivo."
As duas mastigaram mais picles, apreciando a vista em silêncio.
"Esqueci de pegar alguns absorvente, você pode me emprestar algum?" Cherry disse, se despindo em seu quarto.
Pickle sorriu e apontou para o armário. "Abra aquela porta."
Cherry o fez e, assim que abriu, uma pilha de absorventes e O.B.s e todo tipo de produto de cuidados menstruais caiu no chão em torno de seus pés. Ela gritou, "O quê?! Você planejou isso, não é? Haha. Muito engraçada, muito madura você. O que é tudo isso, afinal?" Ela pegou um pacote da pilha.
Pickle colocou um pijama confortável e abraçou as pernas, perto dela. "Hector não sabia o que pegar para mim, então ele comprou dois de tudo."
Cherry desdenhou. "Aww, que adorável!"
Pickle riu e trouxe um segundo travesseiro.
"Então... vocês dois já... você sabe? Fizeram alguma coisa?" Cherry perguntou, indo em direção ao banheiro.
"Fizemos o quê?"
Cherry parou e imitou um dedo em um buraco, entrando e saindo.
Os olhos de Pickle se arregalaram. "Não! Unh-uh. Nope."
Cherry inclinou a cabeça para o lado. "Sério? Eu pensei o contrário."
"Não!" Pickle gritou. "Por que eu faria isto?" ela protestou, sua voz ficando aguda.
Cherry olhou para ela. "Então... Você não se importa se eu..." ela moveu o dedo ao redor, apontando para alguns lugares.
"Todo seu." Pickle sacudiu a cabeça vigorosamente.
Retornando do banheiro, Cherry encontrou Pickle segurando seu pacote de pó. Havia uma profunda carranca no lado carnudo do rosto dela. Cherry tentou encolher os ombros, "Eu... Uh, não ia usar. Eu não sei o que eu estava pensando, na verdade. Eu estava lá fora, prestes a vir aqui, entrei em pânico."
"Você entrou em pânico e foi comprar drogas?" Pickle disse, suspirando baixinho.
"Sim. Eu pensei que eu estava indo para a mesma situação, só que com um dono diferente. Foi um último ato de desafio, sabe?"
"Na verdade, não," disse Pickle simplesmente, colocando o saco de cocaína de volta na cômoda.
"Isso soa estúpido para mim também agora que eu disse em voz alta. Eu sei que deveria ter confiado em você, você disse que era ótimo aqui, e eu queria acreditar nisso. Eu ainda quero... é só..." Cherry sentou na cama e cobriu o rosto.
Pickle a abraçou. "Eu sei, Caroline. Eu sei."
Sentindo-se segura e amada pela primeira vez em anos, protegida nos braços de uma figura materna, Cherry deixou as lágrimas caírem e soluçou baixinho. Pickle apenas a segurou lá, acariciando o cabelo de Cherry com os dedos, cantarolando suavemente. Beijou-a na testa. "Está segura agora. Não vou deixar nada acontecer com você."
Cherry então soltou tudo, se esganiçando de chorar.
Um pouco depois, as duas se arrastaram para a cama. Uma desajeitada Pickle a abraçou com força: "Eu fico por trás na conchinha."
"Por que você fica por trás?" Cherry reclamou, sem realmente se importar.
"Porque eu sou mais velha," disse Pickle, encerrando a discussão.
Cherry se contorceu. "Ai, garota, seu exoesqueleto está cutucando as minhas costas. Isso é tortura."
"Quando você conseguir sua própria cama, estará livre dessa tortura. Agora cale a boca e se vire."
GOTA CINCO
Na manhã seguinte, encontraram Hector e o seu animal de estimação na cozinha. Pickle mostrou para Cherry onde o café estava. Era um dia bonito e ensolarado, e o céu de Atenas estava limpo por um raro momento. A brisa leve que entrava pelas janelas abertas tornava tudo ainda melhor.
"Bom dia," disse ele, lendo as notícias em seu véu.
Cherry parecia tímida. "Bom dia, Sr. Troy."
Ele bufou. "Apenas Hector está bom." Ele bebeu um pouquinho do quente café turco. O aroma era incrível. "O