Não queria dizer que Jacqui estivesse em uma boa situação, mas ela nunca pensara que sua irmã estivesse bem. Se Jacqui estivesse bem estabelecida, com um emprego estável e um apartamento, teria entrado em contato há muito tempo.
Quando pensava em Jacqui, Cassie sempre imaginava incerteza, precariedade. Visualizava uma vida oscilando em um equilíbrio frágil – entre o dinheiro e a pobreza, as drogas e a reabilitação, os namorados e os agressores, quem poderia saber os detalhes? Quanto mais incerta a vida de Jacqui, mais difícil seria para ela entrar em contato com a família que abandonara tempos atrás. Talvez suas circunstâncias não permitissem, ou ela se envergonhasse da situação em que estava. Poderia passar semanas ou meses na estrada ou fora de circulação, embriagada até perder a cabeça ou implorando por comida, e quem sabe o que mais?
Cassie decidiu que teria fé e arriscaria a chance de que era Jacqui tentando alcançá-la.
Rapidamente, sabendo que Ryan desligaria o Wi-Fi a qualquer momento, enviou uma mensagem a Renee.
“Pode ser minha irmã. Se ela ligar outra vez, por favor, dê meu número a ela”.
Esperando que seu palpite estivesse certo, Cassie fechou os olhos, sentindo ter feito o que podia para reestabelecer contato com a única família com a qual ainda se importava.
CAPÍTULO OITO
A manhã seguinte foi um caos organizado enquanto Cassie tentava ajudar as crianças a se vestirem para a escola. Itens do uniforme estavam sumidos, sapatos estavam enlameados, meias estavam desparceiradas. Viu-se correndo de um lado para o outro, da cozinha até os quartos, fazendo malabarismo entre preparar o café da manhã e todo o resto.
As crianças devoraram com gana o chá, as torradas e geleias antes de retomar a busca por itens escolares que pareciam ter migrado para um universo alternativo durante o fim de semana.
– Perdi meu distintivo! – Madison anunciou, vestindo seu blazer.
– Como ele é? – Cassie perguntou, seu coração afundando. Havia pensado que eles finalmente estivessem prontos.
– É redondo e verde-claro. Não posso ir para a escola sem ele, fui capitã da classe na semana passada e outra pessoa precisa ganhar o bóton hoje.
Em puro pânico, Cassie ficou de joelhos e procurou no quarto inteiro, eventualmente encontrando o distintivo no chão do armário.
Após a crise evitada, Dylan gritou que seu estojo de lápis tinha sumido. Foi somente após as crianças saírem que Cassie o encontrou atrás da gaiola do coelho, correndo pela estrada até o ponto de ônibus onde as crianças estavam esperando.
Quando embarcaram no ônibus em segurança, ela respirou profundamente e os pensamentos felizes da noite anterior borbulharam dentro dela outra vez.
Enquanto arrumava a casa, repassou a interação entre ela e Ryan em sua cabeça.
Ele tinha flertado, ela tinha certeza.
O modo como a tocara, pegando sua mão, perguntando se ela tinha namorado. Por si só, aquela era uma pergunta inocente, mas ele dissera algo a mais.
“Seria errado da minha parte não ter certeza”.
Aquilo indicava que ele estava perguntando por uma razão. Para ter certeza.
E aquele beijo. Ela fechou os olhos ao pensar nele, sentindo o calor desabrochando dentro dela. Tinha sido tão inesperado, tão perfeito.
Parecera amigável, mas como se ele quisesse dizer algo a mais com o gesto. Era impossível dizer. Ela sentia-se cheia de incerteza, mas de uma forma positiva.
A manhã passou voando e, como Ryan dissera que voltaria tarde, ela decidiu começar a preparar o jantar. Possuía um repertório muito limitado de pratos, mas havia uma prateleira na cozinha repleta de livros de receitas.
Cassie escolheu um livro para jantares em família. Ela presumira que o livro fosse de Ryan, mas surpreendeu-se ao descobrir uma mensagem escrita à mão na primeira página: “Feliz aniversário, Trish”.
Então, o livro era de Trish. Ela deveria ter sido presenteada por algum amigo; talvez um amigo que não tivesse percebido que Ryan era quem cozinhava mais. De todo modo, ela não levara o livro embora com ela.
Os pensamentos de Cassie foram interrompidos por uma batida alta na porta de entrada.
Apressou-se para atender.
Um homem com roupas de couro preto estava parado do lado de fora. Uma grande motocicleta estava estacionada na calçada, atrás dele.
Assim que Cassie abriu a porta, ele deu um passo adiante, de modo à quase entrar pela porta, invadindo o espaço pessoal dela. Ele era alto, de ombros largos, com cabelos escuros espetados e um bigode. Ela pressentiu uma leve agressividade na forma como ele entrou e na expressão dele ao olhar para ela.
Ela deu um passo atrás, perturbada com a presença invasiva. Desejou ter travado a porta com a corrente interna antes de atender, mas não tinha considerado necessário neste pequeno e tranquilo vilarejo.
– Essa é a residência dos Ellis? – o homem perguntou.
– É, sim – Cassie disse, perguntando-se do que se tratava isto.
– O senhor Ryan Ellis está hoje?
– Não, está no trabalho. Posso ajudá-lo?
Por dentro, Cassie estava entrando em pânico. Para sua própria segurança, ela deveria ter dito que Ryan tinha ido até a casa dos vizinhos. Não sabia quem era este homem. Ele era insistente e arrogante, e isso não era jeito de um entregador interagir com um cliente.
– E você é? – o homem sorriu de leve, apoiando uma das mãos na moldura da porta.
– Sou a au pair – Cassie disse, defensivamente, lembrando-se tarde demais que deveria ter dito que era uma amiga da família.
– Ah, então ele te contratou? Está te pagando, é? De onde você vem? Estados Unidos?
Cassie sentiu-se sem ar. Não esperara por isto, de forma alguma, pensando imediatamente na garçonete demitida da qual a gerente da casa de chá lhe contara no dia anterior.
Ela não o respondeu. Em vez disso, repetiu – Como posso te ajudar?
Torceu para que ele não percebesse o quanto ela estava aterrorizada.
– Tenho uma entrega especial para o Sr. Ryan Ellis.
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