– Que bobagem. Você me disse que ficaria em Yorkshire até depois da Noite de Reis. – Ela acariciou delicadamente o abdômen dele. – Uma quinzena, a partir de hoje. Certamente você encontrará uma razão para se esgueirar e me ver.
Claro, ele podia, e a tentação que ela representava quase o fez mudar de ideia. Maldição, por que tinha que vir e desenvolver sentimentos por ela? Não havia outra escolha a não ser acabar com a relação deles antes que seus sentimentos por ela se tornassem algo mais profundo.
– Temo não poder. Danby tem muitos planos e exige a minha presença. Na verdade, minha presença foi solicitada no castelo esta noite.
Cristiana não discutiu enquanto se afastava dele, mas também não pareceu satisfeita. Ela se virou para ele, e seus lábios formaram um beicinho experiente.
– Se você deve, não tentarei impedi-lo.
Ele se levantou da cama e se vestiu antes de se voltar para ela.
– Apreciei muito o nosso tempo juntos. Nunca duvide disso. – Ele depositou um beijo na testa dela. – Adeus.
Ela não disse nada, apenas olhou para ele enquanto ele se virava para partir.
CAPÍTULO UM
Dezembro de 1817, Yorkshire
Adam Brighton, visconde de Radcliffe, entrou no escritório do duque de Danby com uma sensação de aperto em seu íntimo. Seu tio-avô o convocara até o castelo de Danby havia duas semanas, deixando-o sem nenhuma escapatória. Adam fizera o possível para evitar o duque e conseguiu permanecer em Londres no ano anterior mas, nesse caso, foi inevitável. Danby prometera ir a Londres caso Adam não fosse a Yorkshire. Um risco que Adam não queria.
Adam se acomodou na cadeira que Danby indicou e então enfrentou o olhar de seu tio-avô. Ele havia envelhecido nos últimos dois anos, mas ainda mantinha uma boa saúde. E, com base na mistura de preocupação e malícia presentes em seus olhos, Danby planejava concentrar bastante atenção intrometendo-se nos assuntos de Adam naquela temporada de Natal.
– Diga-me, como tem passado? – Danby deu um sorriso jovial.
A disposição alegre de Danby não enganou Adam. Danby era um homem formidável, e ele bem sabia disso. Adam não havia sido convocado para o castelo para discutir como estava. Mesmo assim, ele retribuiu o sorriso de seu tio.
– Estou bem.
– Os rumores sobre o seu comportamento pouco desejável, como beberrão, desordeiro e mulherengo, chegaram até aqui, em Yorkshire. – Danby se inclinou para a frente, estudando Adam com nítidos olhos azuis. – Acredito que a hora de você se casar está chegando.
Ali estava. A verdadeira razão de Danby exigir a presença de Adam – e a coisa que ele mais queria evitar. Adam soltou um suspiro.
– Não estou pronto para ser algemado.
De alguma forma, Adam escaparia dos esforços de casamenteiro de Danby. Ele poderia não ter tido escolha se iria ou não até o castelo mas, com certeza, teria algo a falar sobre quem e quando se casaria. Adam não se importava em pensar sobre quem, naquele momento, porque o quando não ocorreria por mais alguns anos. Não se encontrava pronto para abandonar a sua liberdade ainda – independentemente do que o seu tio exigisse.
– Bobagem. – Danby o olhou, com expressão fechada. – Uma boa mulher é exatamente aquilo de que você precisa.
– Não serei forçado a me casar. – Adam devolveu o olhar severo.
– Você permanecerá aqui durante a temporada de Natal e participará das festividades. Além disso, exijo que passe algum tempo com lady Edith Voss.
– Tio…
Danby moveu a mão de modo autoritário, enquanto continuava dando as suas ordens.
– Ela é uma menina doce e afável. A própria imagem do decoro e exatamente o que você precisa.
Adam podia pensar em várias coisas de que precisava, nenhuma delas incluía uma dama adequada, escolhida pelo seu tio-avô. No minuto em que terminasse aquela conversa, ele procuraria uma bebida forte e a companhia de uma mulher disposta – uma que ele escolhesse. Talvez fizesse uma visita a Cristiana. Não a viu em dois anos. Será que ainda a encontraria como a viúva disposta e lasciva que era, quando a visitou pela última vez?
– Adam. – Danby dirigiu-lhe o seu perscrutador olhar azul.
– Estou ouvindo.
Danby apertou os lábios até formar uma linha apertada.
– Estou, de verdade. É seu desejo que eu passe algum tempo com lady Edith Voss, e assim farei. – O que Adam não conseguiu transmitir foi que ele não passaria mais tempo do que o necessário com a dama, e que certamente não a cortejaria.
– Ótimo. – Danby recostou-se na cadeira. —Você está dispensado.
Adam não perdeu tempo, afastando-se às pressas do escritório e das exigências do duque. Atravessou rapidamente os corredores, desceu as escadas e saiu para buscar o seu cavalo. Até mesmo um uísque poderia esperar, pois quanto menos tempo ele passasse no castelo de Danby… melhor.
Ele cavalgou sem descanso pela zona rural de Yorkshire até chegar à casa de Cristiana. Por ele, ela o receberia com a mesma paixão que lhe concedera no passado. Visões do corpo exuberante dela encheram sua mente, e ele se perguntou por que se despedira dela tão precipitadamente.
Ele e Cristiana desfrutaram de um caso tórrido. Sem fazer exigências um do outro. Ambos dispostos e selvagens. Ele passara a maior parte das noites na cama dela naquele Natal, e vários dias ao lado de seu calor. Ela ainda se mostraria uma ótima fuga para a presença de Danby? Ou muito tempo havia se passado? Fazia dois anos desde que ele a vira pela última vez. Talvez ela tivesse se casado novamente.
Havia apenas uma maneira de encontrar as respostas que procurava. Adam subiu os degraus da varanda, dois de cada vez, e depois bateu na porta. Na pior das hipóteses, ele encontraria outra mulher para se distrair.
A sólida porta de carvalho se abriu, revelando o mordomo de Cristiana.
– Milorde. – O homem de cabelos grisalhos fez uma reverência.
Adam assentiu enquanto estendia o cartão de visitas.
– Vim ver lady Cristiana.
– Ela não está em casa.
– Quando voltará? – Adam estudou o homem, sabendo muito bem que ele o havia reconhecido. Como não poderia, depois de Adam ter passado tanto tempo ali?
– Ela saiu neste Natal.
Adam apertou os lábios e olhou para o mordomo.
– Para onde?
– Não tenho liberdade para lhe dizer, milorde. – O mordomo recuou e começou a fechar a porta.
– Espere. – Adam estendeu a mão, colocando-a contra o batente da porta para impedir que o homem a fechasse. – Gostaria de surpreendê-la. Certamente ela não se importaria se você me apontasse na direção certa. Você está bem ciente do nosso… – ele limpou a garganta – conhecimento.
A expressão do mordomo tornou-se severa.
– Certamente não estou. Bom dia, senhor.
– Muito bem, então. – Adam largou a mão do batente da porta, virou-se e caminhou em direção ao seu cavalo. O clique do fechamento da porta chegou aos seus ouvidos antes mesmo que ele alcançasse o primeiro degrau da varanda. Adam não se ofendeu. Não foi a primeira vez em que havia sido rejeitado, e ele duvidava que seria a última. Nenhum caso durava para sempre. Um fato que lhe convinha muito bem. Pelo menos naquele momento de sua vida.
Ele virou o cavalo e olhou para a casa. A agitação de uma cortina no segundo andar chamou a sua atenção e ele olhou mais atentamente. Nada. Então, ela estava lá. Cristiana olhou para o caminho por um instante antes de