- Ei...
Ela virou-se e viu Sam parado na porta. Ele estava sorrindo e olhando para ela com uma expressão que geralmente significava que ele estava com vontade de algo a mais.
- Ei, você – Danielle respondeu.
- Eu sei que isso pode te decepcionar – ele disse. – Mas sério... nas próximas semanas, tudo o que vou precisar de você vão ser algumas assinaturas.
- Você está me fazendo trabalhar muito – ela brincou.
- Eu sinceramente esperava que o treinamento com a nova funcionária do bar demorasse mais. Não é minha culpa que nós acabamos contratando um gênio na arte de ser bartender. – Sam aproximou-se de Danielle e a segurou pela cintura. Ela olhou para cima, nos olhos dele, e como sempre, sentiu-se segura por um motivo estranho: aquilo a fazia sentir que ele estaria sempre olhando por ela.
- Vamos almoçar mais tarde – Sam disse. – Algo simples. Pizza e cerveja.
- Pode ser.
- E amanhã... o que você acha de irmos a algum lugar. Uma praia... South Carolina ou algo assim.
- Sério? Parece algo espontâneo e exagerado com todo esse trabalho que temos por aqui. Em outras palavras.. foi você mesmo que disse isso?
- Eu sei. Mas eu ando tão focado nesse projeto... Percebi que ando dando pouca atenção para você. Então quero me desculpar.
- Sam, você está me dando meu próprio negócio. É mais do que suficiente.
- Tudo bem. Vou ser egoísta nisso então. Quero fugir de tudo isso aqui e ficar pelado e sozinho com você perto do mar. Melhor?
- Na verdade, sim.
- Que bom. Então vá até o bar, veja como anda a novata. Vou te buscar para o almoço perto do meio dia.
Danielle deu um beijo em Sam e, mesmo vendo que ele estava com pressa, tudo o que ele acabara de dizer mexeu com ela. Ela sabia que, para ele, era difícil ser emotivo e sincero. Raramente Danielle via aquele lado do namorado e por isso, quando ele demonstrava algo, ela preferia não questionar.
Ela caminhou pelos espaços quase todos abertos do prédio antigo que logo seria seu bar-restaurante-lounge. Era difícil ver o local como sendo dela, apesar de ser, de fato.
Quando saiu, Danielle viu que o sol estava mais forte do que quando entrara. Ela sorriu, tentando entender tudo o que sua vida havia se tornado. Pensou novamente em Chloe e decidiu ligar para a irmã nos próximos dias. Todo o resto de sua vida estava indo bem, então seria bom tentar ajustar sua relação tensa entre as duas.
Ela entrou no carro e seguiu para o outro bar de Sam—o bar que havia a contratado para trabalhar lá, seis meses antes. Estava tão distraída com a ideia de viajar com ele no final de semana que não percebeu o carro parado no lado da rua aproximando-se atrás dela.
Se tivesse percebido, poderia ter reconhecido o motorista, mesmo estando há muito tempo sem vê-lo.
Ainda assim, uma filha nunca esqueceria o rosto de um pai.
CAPÍTULO CINCO
Quando Chloe e Moulton chegaram no escritório de Garcia, o Diretor Johnson já estava lá, esperando por eles. Parecia que ele e Garcia estavam olhando os arquivos do caso. Garcia tinha alguns abertos na tela de seu computador, enquanto Johnson tinha uma pequena pilha de impressões nas mãos.
- Obrigado por virem tão rápido – Johnson disse. – Temos um caso em Virginia—numa cidade pequena do outro lado de Fredericksburg, num bairro rico. E eu devo começar dizendo que a família da vítima tem amigos políticos muito poderosos. Por isso fomos chamados. Bom, por isso e pela natureza grotesca da morte.
Ao sentar-se à pequena mesa nos fundos do escritório de Garcia, Chloe fez o possível para não parecer óbvio que estava tentando criar uma distância entre ela e Moulton. Ela sabia que provavelmente estava radiante, sem conseguir esconder a alegria pelo que havia acontecido na noite anterior. Não sabia como Johnson reagiria a qualquer tipo de relação entre os dois, e não gostaria de fazer o teste.
- Qual é o caso? – Chloe perguntou.
- Quatro dias atrás, um marido chegou em casa do trabalho e encontrou a esposa morta – Garcia disse. – Mas é mais do que isso. Ela não foi simplesmente morta, mas sim brutalmente. Tinha muitas facadas, dezesseis pelas contas do legista. A cena do crime estava uma bagunça, sangue por tudo. Diferente de tudo que a polícia local já viu.
Ele entregou uma pasta para Chloe com um olhar de preocupação. Chloe segurou-a e abriu devagar. Viu uma foto do crime e, então, fechou a pasta rapidamente. Pela rápida olhada na foto, a cena parecia mais um matadouro do que um assassinato.
- A família da vítima é amiga de quem? – Moulton perguntou. – Você disse que de algum político, certo?
- Eu prefiro não dar essa informação – Johnson disse. – Não queremos que pareça que o FBI tem favoritos quando se trata de bipartidarismo.
- Qual o nível de envolvimento da polícia local? – Chloe perguntou.
- Eles estão atrás do assassino na região toda e chamaram a polícia do Estado – Garcia disse. – Mas estão pedindo que eles trabalhem quietos. A polícia local está irritada, e eu entendo, porque eles acham que nós vamos atrapalhar em um caso que já está fora da zona de conforto deles. Então preciso que você vá lá o mais rápido possível. E além disso... escute bem: eu pensei em vocês dois para esse caso porque vocês já trabalharam bem juntos antes. Mas se o caso e essas fotos do crime fizerem você se sentirem desconfortáveis—se for muito para vocês nessa altura da carreira—me digam agora. Eu não vou julgar vocês, nem vou contar isso como algo negativo no futuro.
Chloe e Moulton olharam-se e ela pode ver que ele estava tão ansioso quanto ela para assumir o caso. Mesmo assim, sem conseguir se conter, Moulton olhou o que havia dentro da pasta. Ele fez uma cara feia ao ver as fotos do crime e leu rapidamente o relatório na última página. Depois, olhou para Chloe e assentiu.
- Tudo bem por mim – Chloe disse.
- Por mim também – Moulton disse. – E eu agradeço a oportunidade.
- Que bom – Johnson respondeu, levantando-se. - Estou animado para ver o que vocês dois podem fazer. Agora... vão. Vocês precisam pegar a estrada.
***
Moulton estava dirigindo o carro do FBI, saindo do rodoanel em direção à Virginia. Barnes Point ficava a apenas uma hora e vinte de distância, mas o rodoanel fazia com que qualquer lugar parecesse ficar do outro lado do planeta.
- Você tem certeza? – ele perguntou.
- Sobre o que?
- Trabalhar juntos em um caso assim. Digo... nós estávamos nos pegando como dois adolescentes com tesão dez horas atrás. Você vai conseguir deixar as mãos longe de mim durante o trabalho?
- Não me entenda mal – Chloe disse, - mas depois do que eu vi naquela pasta, fazer aquilo de novo é a última coisa na minha cabeça.
Moulton assentiu, concordando. Ele pegou a rampa seguinte, entrou na rodovia e pisou no acelerador.
- Brincadeiras a parte... Eu gostei da noite passada. Mesmo antes do seu apartamento. E eu gostaria de repetir. Mas no trabalho...
- Nós devemos ser totalmente profissionais – Chloe finalizou.
- Exatamente. E, falando nisso – ele disse, pegando seu iPad no console central, - eu baixei os arquivos do caso enquanto você pegava suas coisas.
- Você não pegou as suas?
- Você viu minha mochila.