Shinbe sorriu, “Acho que sou o único aqui que sabe o que é uma namorada, mas posso lhe apresentar duas virgens se você quiser experimentar”. Deu um rápido passo atrás quando ambos viraram para o mirarem de forma ameaçadora.
Rapidamente mudando de assunto, Shinbe assentiu e ficou mais perto um pouco de Toya. “Kyou lhe ordenou tomar conta de Kyoko?”, seu olhar se desviou na direção em que ela tinha ido. “Sabe, ultimamente tenho sentido que está ocorrendo uma mudança de equilíbrio aqui, como se algo estivesse prestes a acontecer. O mal se aproxima. Fico pensando se ela teria alguma coisa a ver com isso”. Os instintos de Shinbe quase sempre acertavam, e isso o preocupou.
Toya tinha sentido o mesmo, e queria respostas. “Bem, nada como o presente. Por que eu não dou um pulo lá em cima e indago qual é a verdade friamente?” Ele sabia que Kyou estava escondendo alguma coisa e ia descobrir o quê.
Antes que Shinbe pudesse pará-lo, Toya já tinha partido para as escadas. Shinbe ficou tenso, “Detesto quando eles estão no mesmo ambiente. Já vi isso, e não é nada bonito. Eles agem como irmãos ou algo parecido”. Seus olhos ametistas seguiram a escada observando Toya galgá-la de dois em dois degraus.
Kamui assentiu com a cabeça, lembrando-se que Kyou já o tinha amedrontado às vezes. “Melhor que seja ele do que eu. Vejo vocês à noite”. Ele saiu, deixando Shinbe sozinho ainda olhando a escada.
Profundamente na mente de Shinbe, onde seus poderes guardiões espelhavam seu eu, ele se perguntou sobre o sentimento que nutria e que não lhe era estranho pela sacerdotisa que acabara de subir. Procurou no fundo de sua alma pela verdade enquanto fechava os olhos.
Quando seus olhos ametistas tornaram a abrir, tinham o brilho de segredos que só ele conhecia.
*****
Kyou estava perdido em pensamentos sobre como lidar com Kyoko, agora que ela estava onde ele queria. Foi interrompido bruscamente com batidas na porta. Piscando algumas vezes, ele suprimiu o impulso de olhar com seus olhos dourados, sabendo que somente poderia ser Toya. Kyou deu uma olhadela para a porta logo que ela abriu sem convite.
Toya entrou, instantaneamente buscando seu alvo, e viu Kyou reclinado no sofá. “O que está acontecendo com Kyoko?”, perguntou indo direto ao ponto
Kyou levantou os olhos para Toya, mas seu rosto não mostrou nenhum interesse na pergunta.
Toya conhecia melhor que ninguém o jeito de Kyou, sabia que ele nem sequer teria se voltado se ele já não estivesse com raiva. Interpretar Kyou era sua ciência. Até um olho piscando significava alguma coisa, quando vinda de Kyou. Toya procurou sentar-se numa poltrona defronte dele.
“Escuta, eu não sou burro. Se você quer que eu a proteja, você precisa me dizer o por quê. Afinal de contas, cada um aqui cuida de si mesmo, por que ela é diferente?” Cuspiu, como se desgostoso com o pensamento. “Ela é apenas uma frágil garota humana”.
Toya agarrou a mão com garras, que de repente apertava sua garganta, e olhou para o rosto furioso de Kyou.
“Você fará o que eu digo”, a voz de Kyou oscilava de raiva.
Os olhos de Toya semicerraram. Agora ele tinha certeza que alguma coisa estava acontecendo. “Muito bem”, resmungou e ficou livre em recompensa. Observou a raiva de Kyou desaparecer num instante; enquanto voltava para seu lugar, a máscara de frieza caía como o escudo atrás do qual se escondia. Toya assentiu com a cabeça. Diga-me por que ela é tão importante para você”. Enfatizou a última palavra.
Kyou meio que concordou. Tinha criado Toya desde o dia que ele nascera. Sabia quando seu irmão estava próximo no preciso instante em que Toya tinha aspirado pela primeira vez neste mundo e que ele o sequestrara de pais que não o teriam compreendido. Tinha acontecido o mesmo com seus outros irmãos, embora por algum tempo, Kyou tivesse optado por tomar conta deles à distância.
Tinha tido a esperança de moldar a personalidade de Toya diferente de alguma maneira, mas parecia que ela o tinha seguido nesta vida, malgrado todos os esforços que Kyou fizera para mudá-la. No final das contas, Toya ainda era Toya, não importa que vida tivesse. Pensou que o encontro com Kyoko seria capaz de provocar memórias do passado, mas o irmão não tinha dado sinais até então, apenas mostrado interesse. Os olhos de Kyou entrecerraram-se com o pensamento.
“Não sente nada por ela?”, perguntou num tom que fez Toya recuar.
“Era esperado que sentisse?” Toya contestou, ciente que realmente ele sentia algo por ela, mas não estava a fim de admiti-lo. Cruzando os braços defronte dele, aparentava estar aborrecido como sempre, desapercebido do prateado que bailava nos seus olhos dourados.
“Sim”, veio a fria resposta.
“Droga!” O que a faz tão especial para nós?” Toya levantou as mãos em desespero.
O olhar de Kyou desafiava o seu, “Ela é a tal que esperávamos”.
Toya arregalou os olhos. No passado, o mais distante que ele podia se lembrar, Kyou havia lhe contado que eles tinham que se preparar para alguém que carregava o Cristal do Coração Guardião dentro de si. Não é possível que ele estivesse se referindo a isto, como um cristal tão poderoso poderia estar dentro de uma garota tão frágil? Ele tinha esperado um guerreiro de algum tipo, nunca uma simples garota.
“Ela é a razão que o fez reunir todos?” Arqueou as sobrancelhas na pergunta.
Kyou tinha sempre evitado contar seu passado para Toya, mas ele tinha o prevenido sobre seu futuro. “Você deve protegê-la a todo o custo”.
A sala estava silenciosa enquanto a mente de Toya girava num torvelinho de pensamentos. Ultimamente, ele tinha começado a sentir o aumento de vibrações demoníacas na área, como se mais estivessem nascendo, e o lado do mal estivesse ficando mais forte.
“Então, ela era a esperada. O que mais eu preciso saber?”. Ele quase se sentiu aliviado ao saber que foi por isso que seu irmão demonstrou tal interesse por Kyoko, mas no momento ele não ia se aprofundar nesses sentimentos que beiravam o ciúme.
Kyou havia escondido a verdade por tanto tempo que não tinha certeza se queria compartilhar suas lembranças. O pensamento da proximidade entre Toya e Kyoko não ajudava nem um pouco. Talvez fosse melhor esquecer algumas coisas. Os dois tinham estado inseparáveis algumas vezes. “Você renasceu para protegê-la e viveu mais de mil anos esperado por ela. Por enquanto, isso é tudo que você precisa saber”.
Toya expirou o ar mansamente e depois riu de um jeito meio sinistro. “Isso é tudo o que eu preciso saber, é?”. Ele passou os dedos pelo seu longo cabelo sentindo uma necessidade esmagadora de desabafar o que lhe parecia uma raiva oculta, ainda que não estivesse consciente disso. “É por isso que você olhou para ela de modo ardente? Você diz que estávamos perto. Você está mesmo com ciúme de alguma coisa que parece ter acontecido há muito tempo com uma garota que provavelmente não lhe daria atenção? Toya encarou-o, agora com olhos de prata derretida.
Kyou quase rosnou com o palpite de Toya. Às vezes, a percepção do rapaz era inquietante.
“Não cruze o limite de minha paciência Toya. Com ou sem cristal, não vou tolerar suas acusações ou delírios de grandeza no que se refere à sacerdotisa. Você foi designado para protegê-la e eu não importo se você está gostando. Vou controlar seu temperamento e você não vai tentar conquistar essa pessoa. Está claro?” Com um olhar mortífero ele mirava agora seu irmão mais novo.
Pingentes poderiam estar pendurados nas palavras de Kyou, e Toya soube que a conversa estava terminada, pelo menos por enquanto. Ele se levantou e deixou a sala sem olhar para trás. Uma vez fora do apartamento do seu irmão, ele parou e ficou olhando a porta de Kyoko. Podia senti-la dentro dos limites dos quartos defronte dele.
Ele ergueu a mão para bater,