Oliver estreitou os olhos. "Não. Não são. Você está mentindo. Quem são eles? Minha mãe e meu pai de verdade. O que aconteceu com eles?"
Sua mãe parecia ter sido pega no flagra. Seus olhos percorreram a sala, como se procurassem um lugar por onde escapar.
"Tudo bem", ela falou, de repente. "Nós adotamos você".
Oliver assentiu devagar. Ele achava que aquelas palavras seriam difíceis de ouvir, mas realmente foi um alívio obter ainda mais uma confirmação de que as duas pessoas de sua visão eram seus pais, não estas pessoas horríveis. Que Chris não era seu irmão verdadeiro também. O grande valentão parecia prestes a desmaiar de choque com a revelação.
Mamãe continuou. "Não sabemos nada sobre seus pais verdadeiros, ok? Nós não recebemos nenhuma informação sobre isso".
Oliver sentiu o coração apertar. Esperava que eles fornecessem uma peça do quebra-cabeça de sua identidade. Mas não sabiam de nada.
"Nada?" ele perguntou, triste. "Nem os seus nomes?"
Seu pai se aproximou. "Nem seus nomes, nem suas idades, nem seus empregos. Os pais adotivos não são informados dessas coisas. É como um sorteio. Você pode ser o filho de um criminoso, até onde eu sei. Ou de um maluco".
Oliver olhou para ele. Tinha certeza de que seus pais não eram nada disso, mas a atitude do Sr. Blue ainda era terrível. "Por que me adotaram, em primeiro lugar?"
"Foi sua mãe", o pai zombou. "Ela queria um segundo filho. Eu não faço ideia do porquê".
Ele afundou no sofá ao lado da mãe. Oliver olhou para eles, sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. "Você nunca realmente me quis, não é? Era por isso que me tratava tão mal".
"Você deveria ser grato", seu pai murmurou, sem levantar os olhos. "A maioria das crianças se perde no sistema".
"Grato?" Oliver disse. "Grato por vocês mal terem me alimentado? Nunca terem me dado roupas novas ou brinquedos? Grato por um colchão em um canto no chão da sala?"
"Nós não somos os vilões aqui", argumentou a mãe. "Seus pais verdadeiros te abandonaram! Você deveria descontar neles, não em nós".
Oliver ouviu sem reagir. Se seus pais verdadeiros realmente o abandonaram ou não, ele não tinha como saber. Aquele era um mistério para outro dia. Por enquanto, ouviria as palavras da sua mãe com desconfiança.
"Pelo menos a verdade finalmente apareceu", disse Oliver.
A boca de Chris finalmente se fechou. "Você quer dizer que este insolente não é meu irmão afinal?"
"Chris!" Mamãe o repreendeu.
"Não fale assim", acrescentou o pai.
Oliver apenas sorriu. "Ah, sim, Christopher John Blue. Já que esta é a hora da verdade. Seu filho querido - seu verdadeiro filho biológico - é um valentão. Ele me intimidou minha vida toda, para não mencionar outras crianças na escola".
"Isso não é verdade!" Chris gritou. "Não acreditem nele! Ele nem é filho de vocês. Ele é... ele não é nada! Ninguém! Um zé-ninguém!"
Mamãe e papai olharam para Chris com expressões chocadas.
Oliver apenas sorriu. "Eu acho que você revelou a verdade sozinho".
Todos ficaram em silêncio, abatidos por causa das revelações. Mas Oliver não havia terminado. Ainda não. Andava de um lado para o outro, dominando a sala e a atenção de todos.
"Ouçam o que acontece agora", disse ele. "Vocês não me querem. E eu também não quero vocês. Eu nunca deveria ter vivido aqui. Então, estou indo embora. Vocês não vão me procurar. Não vão falar de mim. Deste dia em diante, será como se eu nunca tivesse existido. Quanto ao fim do acordo, eu não vou à polícia denunciar sobre os anos de tormento, sobre dormir em um canto no chão e sobre ter minha comida racionada. Estamos combinados?"
Ele olhou de um par de olhos azuis para o seguinte. Que bobagem, ele pensou agora, não ter imaginado antes, já que seus olhos eram castanhos.
"Estamos combinados?" ele perguntou novamente, com mais firmeza.
Com satisfação, viu que todos estavam tremendo. Sua mãe assentiu. Chris também.
"Estamos combinados", gaguejou papai.
"Bom. Agora vou só arrumar minhas coisas e nunca mais terão que olhar para minha cara".
Ele podia sentir os olhos de todos na sua direção, enquanto caminhava até o canto que era seu quarto. Pegou sua mala, ainda cheia de partes de suas invenções, e colocou o livro de inventores dentro dela.
Então, tirou a bússola do bolso e a colocou no topo.
Quando estava prestes a fechar a mala, percebeu que os mostradores da bússola haviam se movido. Um apontava agora para um símbolo que parecia um bico de Bunsen. Um segundo pairava sobre o símbolo de uma única figura feminina. Um terceiro apontou para um capelo, aquelés chapéus de formatura.
Oliver juntou todas as peças em sua mente. Será que a bússola o estava guiando em direção à Srta. Belfry? O queimador de Bunsen poderia representar a ciência, que ela ensinava. A única figura feminina era auto-explicativa. E o capelo poderia representar um professor.
Deve ser um sinal, Oliver pensou com entusiasmo. O Universo o estava guiando.
Ele fechou a mala e se virou para olhar para os Blues. Estavam todos observando-o em completo choque e silêncio. Era muito gratificante ver a expressão em seus rostos.
Mas então Oliver percebeu que Chris estava fechando os punhos. Ele sabia muito bem o que isso significava - Chris estava prestes a atacar.
Oliver teve apenas uma fração de segundo para reagir. Ele usou seus poderes para amarrar rapidamente os cadarços de Chris um no outro.
O garoto se lançou para frente, mas tropeçou imediatamente e caiu no chão. Então, gemeu.
A mãe deu um grito. "Seus cadarços! Você viu os cadarços dele?"
O pai ficou pálido. "Eles... se amarraram sozinhos".
Esparramado no chão, Chris olhou para Oliver. "Você fez isso. Não foi? Você é uma aberração".
Oliver deu de ombros, inocentemente. "Eu não tenho ideia do que você está falando".
Depois se virou, com a mala na mão, e saiu da casa, fechando a porta.
Enquanto caminhava, um sorriso surgiu em seus lábios.
Ele nunca mais teria que lidar com os Blues.
CAPÍTULO CINCO
Oliver parou do lado de fora do Colégio Campbell. A quadra de basquete estava barulhenta como sempre, cheia de adolescentes correndo, gritando e jogando bolas como se fossem granadas.
Ele sentiu um nó no estômago. Não que estivesse com medo dos outros alunos - ou de atravessar a quadra cheia de bolas de basquete voadoras -, mas sim porque em breve ele veria a Srta. Belfry novamente.
Para sua professora favorita, ele estava na aula dela ontem. Mas, para Oliver, parecia que havia sido séculos atrás. Tinha vivido uma tumultuada aventura no passado. Aquilo o transformara: havia amadurecido. Ele se perguntou se ela notaria quando se encontrassem frente a frente.
Atravessou o pátio do recreio, abaixando-se para desviar das bolas voadoras, depois seguiu direto pelo corredor até a sala de ciências da Srta. Belfry. Estava vazia, ninguém havia chegado ainda. Ele esperava que a professora tivesse vindo mais cedo, para poder falar com ela. Mas logo seus colegas de turma começaram a entrar. Ainda não havia sinal de Belfry, então Oliver não teve outra escolha a não ser se sentar também. Escolheu uma carteira na frente, ao lado da janela.
Oliver