"Coisa barata e mal feita", falou, rispidamente. "A perna se partiu ao meio!"
Da mesa, o olhar de Chris se fixou em Oliver. Não importava se Oliver realmente tinha, de alguma forma, quebrado a perna da mesa com a mente ou não, Chris o culpava por isso.
Encarando-o, Chris se levantou lentamente da cadeira. Batatas e ervilhas rolaram de seu colo para o chão. Seu rosto estava cada vez mais vermelho. Ele cerrou as mãos em punhos bem fechados. Então, como um foguete, lançou-se na direção de Oliver.
Oliver tomou um susto e se virou rapidamente para pegar a armadilha. Seus dedos se moveram a toda velocidade para preparar o dispositivo.
Por favor, funcione! Por favor, funcione! repetia em sua mente.
Tudo pareceu acontecer como se estivesse em câmera lenta. Chris surgiu diante de Oliver. O pé de Oliver pisou na alavanca. Oliver sustentou o desejo de que a máquina funcionasse, imaginando o soldado voando no ar, assim como havia imaginado os pratos caindo no chão. E então, de fato, o mecanismo começou a fazer barulho. O soldado lançou-se no ar, fez a trajetória de um arco e bateu em Chris com seu rifle de plástico pontudo, bem entre os olhos!
O tempo voltou ao normal. Oliver quase perde o fôlego, boquiaberto, sem acreditar que tinha funcionado.
Chris também ficou parado, perplexo. O soldado caiu no chão. Havia uma pequena marca vermelha no meio da testa de Chris, um machucado feito pela arma de plástico duro.
"Seu idiota!" Chris gritou, esfregando a testa, incrédulo. "Vai pagar por isso!"
Mas, pela primeira vez, ele hesitou. Parecia cauteloso ao querer se aproximar de Oliver, socá-lo no ouvido ou esfregar os nós dos dedos contra sua cabeça. Em vez disso, recuou como se estivesse com medo.
Então, saiu da sala e subiu as escadas. Bateu a porta com tanta força que ressoou pela casa.
Oliver ficou de queixo caído. Não podia acreditar que realmente havia funcionado! Não só ele fez sua invenção funcionar no último segundo, mas literalmente fez a refeição de Chris cair no chão, usando apenas a mente!
Ele olhou para as mãos. Tinha algum tipo de poder? A mágica realmente existia? Ele não podia começar a acreditar nisso de repente, por causa de uma pequena experiência. Mas, no fundo, sabia que era diferente de alguma forma, que tinha algum tipo de poder.
Com a cabeça a mil por hora, pegou seu livro e leu, pela milionésima vez, a passagem sobre Armando Illstrom. Graças a sua invenção, Oliver tinha assustado Chris pela primeira vez. Mais do que nunca, queria conhecer Armando Illstrom. E a fábrica não ficava tão longe de sua nova escola. Talvez ele devesse visitá-lo depois das aulas, amanhã.
Mas certamente ele era um homem muito velho agora. Tavez tão velho que até já tivesse falecido. O coração de Oliver apertou. Odiaria que seu herói tivesse morrido antes que tivesse a chance de conhecê-lo e agradecê-lo por ter inventado a armadilha!
Ele leu novamente a passagem sobre a série de invenções fracassadas de Armando. O texto dizia - num tom bastante irônico, como Oliver percebeu - que Armando Illstrom estava prestes a inventar uma máquina do tempo quando a Segunda Guerra Mundial começou. As atividades de sua fábrica foram interrompidas. Mas, quando a guerra terminou, Armando nunca tentou concluir sua invenção. E todos o ridicularizaram por tentar, em primeiro lugar, chamando-o de "menos que Edison". Oliver se perguntou por que Armando não havia continuado. Só porque alguns inventores estavam rindo dele?
Aquilo despertou seu interesse. Amanhã, decidiu, encontraria a fábrica. E se Armando Illstrom ainda estivesse vivo, ele lhe perguntaria, frente a frente, o que aconteceu com sua máquina do tempo.
Seus pais apareceram do outro lado da cozinha, cobertos de comida.
"Vamos dormir", disse a mãe.
"E quanto aos meus cobertores e roupas?" Oliver perguntou, olhando para a alcova sem nada.
Seu pai suspirou. "Suponho que você quer que eu busque tudo no carro, não é?"
"Seria bom", Oliver respondeu. "Eu gostaria de ter uma boa noite de sono antes da escola amanhã".
A sensação de medo que ele sentia em relação ao dia de amanhã começava a aumentar, refletindo a tempestade que estava se formando. Já sentia que teria o pior dia de sua vida. Pelo menos, gostaria de estar descansado para se preparar. Ele teve tantos primeiros dias horríveis em novos colégios que tinha certeza que amanhã seria mais um para adicionar à lista.
Seu pai saiu relutantemente da casa, e uma lufada de vento entrou rugindo quando ele abriu a porta da frente. Voltou alguns momentos depois, com um travesseiro e um cobertor para Oliver.
"Vamos arrumar uma cama para você em alguns dias", ele disse, enquanto entregava-lhe o cobertor. Estava frio, por passar o dia todo no carro.
"Obrigado", Oliver respondeu, agradecido por ter ao menos algum nível de conforto.
Seus pais saíram e apagaram a luz, deixando Oliver mergulhado na escuridão. Agora, a única luz vinha de um poste na rua.
O vento começou a rugir de novo e as vidraças chacoalharam. Oliver sabia que o tempo estava fechando, que havia algo estranho no ar. Ouviu no rádio que uma tempestade sem precedentes se aproximava. E não podia deixar de estar animado com isso. A maioria das crianças tinha medo de tempestade, mas ele só tinha medo do seu primeiro dia em seu novo colégio.
Foi até a janela, apoiando os cotovelos no peitoril, como havia feito antes. O céu estava quase completamente escuro. Uma árvore espigada e fina soprava ao vento, bastante inclinada para um lado. Oliver se perguntou se ela poderia se soltar. Podia até imaginar agora, o caule fino estalando, a árvore sendo lançada no ar, carregada pelos ventos ferozes.
E foi quando ele os viu. No momento em que estava passando para seu estado de devaneio, notou duas pessoas de pé ao lado da árvore. Uma mulher e um homem que se pareciam muito com ele, como se pudessem ser confundidos com seus pais. Eles pareciam gentis e sorriram para ele enquanto seguravam as mãos um do outro.
Oliver afastou-se da janela, assustado. Pela primeira vez, percebeu que não se parecia nem com seu pai, nem com sua mãe. Ambos tinham cabelos escuros e olhos azuis, assim como Chris. Oliver, por outro lado, era a combinação, mais rara, de cabelos loiros e olhos castanhos.
De repente, ele se perguntou que talvez seus pais não fossem seus pais. Talvez por isso parecessem odiá-lo tanto? Ele olhou pela janela, mas o casal já tinha ido embora. Era apenas sua imaginação. Mas pareciam tão reais. E tão familiares.
Estou sonhando acordado, Oliver concluiu.
Sentou-se contra a parede fria, enfiando-se no canto que agora era seu novo quarto, puxando as cobertas sobre si. Abraçou os joelhos junto ao peito, bem apertado, e sentiu uma repentina sensação estranha, um momento de percepção, de clareza: de que tudo estava prestes a mudar.
CAPÍTULO DOIS
Oliver acordou sentindo-se ansioso. Seu corpo inteiro doía depois de dormir no chão duro. Os cobertores não eram grossos o suficiente para evitar que o frio penetrasse em seus ossos. Ficou surpreso por ter dormido, considerando que era seu primeiro dia de aula.
A casa estava muito silenciosa. Só ele havia acordado. Oliver percebeu que acordou mais cedo do que precisava, graças à suave luz do sol que entrava pela janela.
Levantou-se e espiou pela janela. O vento havia causado estragos durante a noite, derrubando cercas e caixas de correio e espalhando o lixo pelas calçadas. Oliver olhou para a árvore torta e espigada onde tinha visto o simpático casal na noite passada. O homem e a mulher que pareciam com ele e que o fizeram se perguntar se talvez os Blues não eram seus pais biológicos. Mas balançou a cabeça. Era apenas um desejo seu, raciocinou. Qualquer um que tivesse Chris Blue como seu irmão mais velho sonharia em não ter ligação nenhuma com ele!
Sabendo