Quando Blaine abriu a porta e a viu, o rosto do homem inundou-se de um amplo sorriso.
“Então!” Disse. “Que bela surpresa. O que te traz por cá?”
Riley gaguejou de forma estranha.
“Será que… A April está por cá? Com a Crystal?”
“Não,” Disse Blaine. “A Crystal também não está. Disse que ia à cafetaria. Sabes, aquela mais próxima.”
Blaine franziu o sobrolho preocupado.
“O que é que se passa?” Perguntou. “Algum problema?”
“Tivemos uma discussão,” Disse Riley. “Ela saiu de rompante. Eu pensei que ela pudesse ter vindo para cá. Acho que está a ignorar a minha mensagem.”
“Entra,” Disse Blaine.
Riley seguiu-o até à sala de estar onde se sentaram no sofá.
“Não sei o que se passa com ela,” Disse Riley. “Não sei o que se passa connosco.”
Blaine sorriu tristemente.
“Sei bem o que estás a sentir,” Disse Blaine.
Riley ficou um pouco surpreendida.
“Sabes?” Perguntou. “Sempre me pareceu que tu e a Crystal se davam perfeitamente.”
“A maior parte do tempo, sim. Mas desde que é adolescente que as coisas às vezes não são fáceis.”
Blaine olhou para Riley com uma expressão de compreensão.
“Não me digas,” Disse. “Que tem a ver com um namorado.”
“Parece que sim,” Disse Riley. “Não me conta nada sobre ele. E recusa-se a apresentá-lo.”
Blaine abanou a cabeça.
“Elas estão nessa idade,” Disse ele. “Ter um namorado é um assunto de vida ou de morte. A Crystal ainda não tem um, o que para mim não tem mal nenhum, mas para ela tem. Está absolutamente desesperada a esse respeito.”
“Talvez eu também tenha sido assim com essa idade,” Disse Riley.
Blaine deu uma risadinha. “Acredita em mim quando te digo que quando tinha quinze anos, só pensava em raparigas. Queres café?”
“Quero, obrigada. Simples, se faz favor.”
Blaine foi para a cozinha. Riley olhou à sua volta, reparando mais uma vez como a casa estava bem decorada. Blaine tinha mesmo bom gosto.
E lá regressou ele com duas canecas de café. Riley tomou um gole. Estava delicioso.
“Eu juro que não sabia no que me estava a meter quando fui mãe,” Disse. “Talvez não tenha ajudado o facto de ser demasiado nova.”
“Quantos anos tinhas?”
“Vinte e quatro.”
“Eu era mais novo. Casei-me aos vinte e um. Para mim a Phoebe era a rapariga mais bonita que já vira. Sexy como o raio. De certa forma, descurei o facto de que ela também era bipolar e já bebia muito.”
Agora Riley estava cada vez mais interessada. Ela sabia que Blaine estava divorciado, mas pouco mais. Parecia que ela e Blaine tinham cometido erros comuns na juventude. Tinha sido demasiado fácil para eles ver a vida através do brilho dourado da atração física.
“Quanto tempo estiveste casado?” Perguntou Riley.
“Cerca de nove anos. Devíamos ter acabado muito antes. Eu deveria ter acabado. Não parava de acreditar que conseguiria salvar a Phoebe. Foi uma ideia estúpida. A Crystal nasceu quando a Phoebe tinha vinte e um e eu vinte e dois anos, um estudante de chef. Éramos demasiado pobres e imaturos. A Phoebe abortou e nunca conseguiu ultrapassar isso. Tornou-se completamente dependente do álcool. Tornou-se violenta.”
O olhar de Blaine era vago agora. Riley pressentiu que estaria a reviver memórias amargas de que não queria falar.
“Quando a April nasceu, eu estava a fazer formação para ser agente do FBI,” Disse Riley. “O Ryan queria que eu desistisse, mas não desisti. Ele estava morto por se tornar num advogado de sucesso. A verdade é que ambos tivemos as carreiras que queríamos. Mas não tínhamos nada em comum a longo curso. Não conseguimos criar as fundações sólidas necessárias a um casamento.”
Riley calou-se sob o olhar de compreensão de Blaine. Sentiu-se aliviada por poder falar com outro adulto sobre aquilo. Começava a perceber que era praticamente impossível sentir-se desconfortável na presença de Blaine. Sentia que conseguia falar com ele sobre quase tudo.
“Blaine, estou bastante dividida neste momento,” Disse Riley. “Sou necessária num caso importante, mas tudo está uma grande confusão em casa. Sinto que não estou a passar tempo suficiente com a April.”
Blaine sorriu.
“Ah, claro. O velho dilema entre trabalho e família. Também o conheço bem. Acredita em mim, ser dono de um restaurante requer muito tempo. Ter tempo para a Crystal é um desafio.”
Riley olhou para os carinhosos olhos azuis de Blaine.
“Como encontras o equilíbrio?” Perguntou Riley.
Blaine encolheu ligeiramente os ombros.
“Não encontro,” Disse. “Não há tempo suficiente para tudo. Mas também não vale a pena castigarmo-nos por não sermos capazes de conseguir o impossível. Acredita em mim, desistir da carreira não é solução. Quero dizer, a Phoebe tentou ficar em casa. E foi parte do que a enlouquecia. Tens que te contentar com o que tens.”
Riley sorriu. Parecia uma ideia fantástica – contentar-se com o que tinha. Talvez conseguisse. Parecia realmente possível.
Tocou na mão de Blaine. Ele pegou na mão dela e apertou-a na sua. Riley sentiu uma tensão deliciosa entre eles. Por um momento, pensou que talvez pudesse ficar mais um momento com Blaine, agora que ambas as filhas estavam noutro lugar. Talvez pudessem…
Mas no exato momento em que este pensamento se começava a forma na sua cabeça, sentiu afastar-se dele. Ainda não estava pronta a agir em concordância com aqueles novos sentimentos.
Retirou a mão suavemente.
“Obrigada,” Agradeceu. “É melhor ir para casa. A April já lá deve estar.”
Despediram-se. Ao sair, o telemóvel vibrou. Era uma mensagem de April.
Acabei de ler a tua mensagem. Desculpa ter agido assim. Estou na cafetaria. Volto num instante.
Riley suspirou. Não fazia a mínima ideia do que responder. Talvez fosse melhor não o fazer. Elas teriam que ter uma conversa séria mais logo.
Riley acabara de entrar em casa quando o telemóvel tocou novamente. Uma chamada de Ryan. O seu ex-marido era a última pessoa com quem queria falar naquele momento. Mas ela sabia que ele não ia parar de enviar mensagens se não falasse com ele agora. Atendeu a chamada.
“O que queres, Ryan?” Perguntou rispidamente.
“Estou a ligar em má altura?”
Riley queria dizer-lhe que no que lhe dizia respeito nenhuma altura era boa. Mas manteve o pensamento para si própria.
“Podemos falar agora,” Disse Riley.
“Estava a pensar em passar por aí para te ver a ti e à April,” Disse. “Gostava de falar com as duas.”
Riley reprimiu um grunhido. “Preferia que não viesses.”
“Pensava que tinhas dito que o momento era bom.”
Riley não respondeu. Era típico de Ryan,