Jilly Scarlatti de treze anos estava ao lado de Garrett, a piscar os olhos, obviamente à sua espera.
Riley ficou confusa. Tinha sido Garrett a telefonar-lhe para lhe dizer que Jilly tinha fugido e estava em parte incerta.
Contudo, antes de Riley fazer qualquer pergunta, Jilly correu na sua direção e atirou-se para os seus braços a soluçar.
“Oh, Riley, desculpa. Desculpa-me. Nunca mais volto a fazer o mesmo.”
Riley abraçou Jilly carinhosamente, olhando para Garrett em busca de uma explicação. A irmã de Garrett, Bonnie Flaxman, tinha tentado adotar Jilly, mas Jilly rebelara-se e fugira.
Garrett sorriu ligeiramente – uma expressão fora do normal para um homem geralmente taciturno.
“Ela ligou à Bonnie depois de saires de Fredericksburg,” Disse Garrett. “Disse que só queria dizer adeus de uma vez por todas. Mas então a Bonnie disse-lhe que estavas a caminho para a levares contigo para casa. Claro que ficou logo entusiasmada e disse-nos onde a devíamos ir buscar.”
Ele olhou para Riley.
“Vires até cá salvou-a,” Concluiu Garrett.
Riley limitou-se a ficar parada durante uns instantes com Jilly a soluçar nos seus braços, sentindo-se estranhamente desajeitada e indefesa.
Jilly murmurou algo que Riley não conseguiu ouvir.
“O quê?” Perguntou Riley.
Jilly recompôs-se e olhou Riley nos olhos, olhos castanhos a transbordar de lágrimas.
“Mãe?” Disse Jilly com uma voz tímida e sufocada. “Posso chamar-te de Mãe?”
Riley abraçou-a novamente, esmagada pelo confuso massacre de emoções a que estava a ser sujeita.
“Claro,” Disse Riley.
Depois virou-se para Garrett. “Obrigada por tudo o que fizeste.”
“Ainda bem que pude ajudar, pelo menos um pouco,” Respondeu. “Precisas de um lugar para ficar enquanto cá estás?”
“Não. Agora que a Jilly foi encontrada, não vale a pena. Apanhamos o próximo voo de regresso.”
Garrett apertou-lhe a mão. “Espero que resulte para ambas.”
Depois foi-se embora.
Riley olhou para a adolescente que ainda estava agarrada a ela. Riley sentia uma mistura de sentimentos. Se por um lado estava eufórica por tê-la encontrado, por outro estava apreensiva quanto ao que o futuro lhes reservaria.
“Vamos comer um hambúrguer,” Disse Riley a Jilly.
*
Nevava levemente durante a viagem de carro do Reagan Washington Airport até casa. Jilly olhava silenciosamente pela janela. O seu silêncio era uma grande mudança depois do voo de mais de quatro horas de Phoenix. Nessa altura, Jilly não conseguia parar de falar. Nunca andara de avião e estava curiosa em relação a tudo.
Porque é que agora está tão sossegada? Interrogou-se Riley.
Ocorreu-lhe que a neve devia ser uma visão pouco usual para uma rapariga que tinha vivido toda a sua vida no Arizona.
“Já tinhas visto neve?” Perguntou Riley.
“Só na televisão.”
“Gostas?” Questionou-a Riley.
Jilly não respondeu, o que fez com que Riley se sentisse desconfortável. Ela lembrava-se da primeira vez que vira Jilly. A rapariga tinha fugido de um pai agressivo. Num ato de puro desespero, decidira tornar-se prostituta. Fora para uma paragem de camionistas que era um lugar conhecido no mundo do engate de prostitutas – chamavam-lhes “lot lizards” porque eram particularmente maltrapilhos.
Riley estava lá a investigar uma série de homicídios de prostitutas. Acontecera encontrar Jilly escondida na cabina de um camião à espera de se vender ao condutor quando ele regressasse.
Riley entregara Jilly aos Serviços de Proteção de Menores e mantivera o contacto com ela. A irmã de Garrett acolhera Jilly para a adotar, mas Jilly tinha acabado por fugir novamente.
E fora nessa altura que Riley decidira levar Jilly para sua casa.
Mas agora começava a pensar se cometera um erro. Já tinha que cuidar de uma filha de quinze anos, April. Só a April podia dar uma trabalheira. Tinham passado juntas por algumas experiências traumáticas desde que o casamento de Riley terminara.
E o que é que ela na verdade sabia sobre a Jilly? Será que fazia a mais pequena ideia do quão traumatiada ela estaria? Estaria preparada para lidar com os desafios que Jilly lhe poderia apresentar? E apesar de April ter aprovado a vinda de Jilly, como é que as duas adolescentes se dariam?
De repente, Jilly falou.
“Onde é que vou dormir?”
Riley ficou aliviada por ouvir a voz de Jilly.
“Vais ter um quarto só para ti,” Disse. “É pequeno mas acho que é perfeito para ti.”
Jilly calou-se novamente.
Então, passados alguns momentos disse, “Mais alguém ficou nesse quarto?”
Agora Jilly parecia preocupada.
“Não desde que lá vivemos,” Disse Riley. “Tentei adaptá-lo a escritório, mas era demasiado grande por isso instalei o escritório no meu quarto. A April e eu comprámos uma cama e uma cómoda mas quando tivermos tempo, podes escolher alguns posters e uma colcha de que gostes.”
“O meu próprio quarto,” Disse Jilly.
Pareceu a Riley que ela soava mais apreensiva do que feliz.
“Onde dorme a April?” Perguntou Jilly.
Riley preferia que Jilly esperasse até chegarem a casa e então veria tudo por si própria. Mas a rapariga parecia precisar de uma garantia naquele preciso momento.
“A April tem o seu próprio quarto,” Disse Riley. “Mas tu e a April vão partilhar a mesma casa de banho. Eu tenho uma só para mim.”
“Quem limpa a casa? Quem cozinha?” Perguntou Jilly. Depois acrescentou ansiosamente, “Não cozinho lá muito bem.”
“A nossa empregada, Gabriela, trata disso tudo. Ela é da Guatemala. Vive connosco, num apartamento na cave. Vais conhecê-la não tarda nada. Ela vai tomar conta de ti quando eu tiver que me ausentar.”
Outro silêncio.
Então Jilly perguntou, “A Gabriela vai-me bater?”
Riley ficou abismada com aquela pergunta.
“Não. É claro que não. Porque é que ela faria uma coisa dessas?”
Jilly não respondeu. Riley tentou compreender o significado daquela questão.
Tentou convencer-se de que não deveria ficar surpreendida. Riley ainda se lembrava do que Jilly lhe tinha dito quando a encontrou na cabina do camião e lhe disse que tinha que ir para casa.
“Eu não vou para casa. O meu pai bate-me se volto.”
Os serviços sociais de Phoenix já tinham retirado a custódia de Jilly ao pai. Riley sabia que a mãe de Jilly estava em parte incerta há muito tempo. Jilly tinha um irmão algures, mas ninguém sabia notícias dele há algum tempo.
Partiu-se-lhe o coração perceber que Jilly receava receber um tratamento semelhante na sua nova casa. Parecia que a pobre rapariga nem conseguia imaginar algo melhor na vida.
“Ninguém te vai bater, Jilly,” Disse Riley, com a voz a tremer um pouco de emoção. “Nunca mais.