“O artigo da Irlanda,” continuou Elliot, “seria a nossa matéria de capa. Viatorum está tomando uma nova direção. Artigos pessoais, relatos em primeira pessoa. O escritor comanda a narrativa, cria uma história, em que o local é um personagem fundamental. Eu havia instruído Joshua sobre isso. Não sei se algum de vocês tem o talento para fazer isso, para entender minha visão.” Ele olhou para o tampo da mesa, franzindo a testa tão forte que uma veia cresceu em sua testa. “O avião parte amanhã,” ele lamentou, como se não tivesse uma plateia.
“Se me permite,” disse Lisa. “Meu artigo da Flórida está quase pronto. Posso terminar no avião.”
“De jeito nenhum,” respondeu Elliot. “Ninguém pode estar incumbido de duas tarefas ao mesmo tempo. Quem está livre?”
Houve um desânimo coletivo, visto que vários dos redatores em volta da mesa perceberam que já estavam fora do páreo.
“Estou livre,” disse Duncan. “Era para eu pegar um voo para Madri hoje, mas trabalho vem primeiro. Stacy não se importará em adiar o feriado.”
Keira se segurou para não revirar os olhos ao escutar a fala ensaiada de Duncan. Ela se perguntava o quão tranquilo Duncan realmente estava com o cancelamento de seu feriado.
Elliot analisou Duncan através da mesa. “Você não é o cara de Buxton, é? O cara que escreveu o artigo de Frankfurt?”
“Sim,” respondeu Duncan, sorrindo orgulhosamente.
“Eu odeio aquele artigo,” disse Elliot.
Keira podia sentir borbulhas dentro dela, o entusiasmo. Este era o seu momento. Sua hora de brilhar.
Ignorando o nervosismo que estava sentindo, ela levantou a mão com uma confiança forçada. “Eu estou disponível para o artigo.”
A cabeça de todos virou em sua direção. Ela lutou contra a vontade de se enfiar debaixo de sua cadeira.
“Quem é você?” preguntou Elliot.
Keira engoliu em seco. “Keira Swanson. Sou a redatora júnior de Joshua. Ele me incumbiu de fazer a pesquisa preliminar para este artigo.”
“Ele fez isso?” perguntou Elliot, sem mostrar-se impressionado em saber que Joshua estava delegando suas tarefas para funcionários júniores. Ele acariciou o queixo em contemplação. “Você já foi ao exterior a trabalho?”
Keira negou com a cabeça. “Ainda não,” ela respondeu. “Mas estou animada para ir.” Ela torceu para que o tremor em sua voz não pudesse ser ouvido.
Ela podia sentir seus colegas em volta dela cheios de raiva. Eles provavelmente acharam tudo muito injusto, que Keira não merecia esta tarefa. Eles provavelmente estavam se martirizando por terem se voluntariado para artigos menos glamorosos nas semanas anteriores, porque agora estavam presos a eles. A única pessoa mostrando algum indício de apoio era Nina, que sorriu à sua maneira. Internamente, Keira também se viu sorrindo. Este era o seu momento. Ela estava esperando seu momento na Viatorum, apanhando os cacos de Joshua e reescrevendo seus artigos em nome dele, trabalhando todas as horas com pouca recompensa. Agora era a sua vez no holofote.
Elliot tamborilou os dedos sobre a mesa. “Não sei,” ele disse. “Você ainda não provou seu valor. E esta é uma grande tarefa.”
Nina ousadamente manifestou-se do outro lado da sala. Ela trabalhava na área por muito tempo, conquistou confiança e respeito. Anos de editoração em revistas sofisticadas a calejaram. “Não creio que você tenha outra opção.”
Elliot fez uma pausa para assimilar as palavras. Em seguida, o franzido começou a relaxar e, com uma aceitação meio relutante, ele disse, “Certo. Swanson, o artigo é seu. Mas só porque estamos desesperados.”
Não era a melhor maneira no mundo de receber uma boa notícia, mas Keira nem ligou. Ela conseguiu a matéria. Era isso que importava. Ela teve que lutar contra a vontade de socar o ar.
“É uma viagem de quatro semanas,” explicou Elliot. “Para o Festival de Lisdoonvarna, na Irlanda.”
Keira balançou a cabeça; ela já sabia de tudo isso. “O Festival do Amor,” ela disse ironicamente.
Elliot sorriu. “Então, você é uma cética?”
Nervosa, Keira ficou preocupada se tinha dito algo errado, se tinha deixado seu desdém escapulir por acidente. Mas então, ela notou que a expressão de Elliot era na verdade de aprovação.
“Esse é exatamente o tipo de ângulo que estou procurando,” ele disse.
Parecia que todos em volta da mesa tinham chupado limão. Lisa escancaradamente deixou transparecer sua inveja de Keira.
“A verdade,” acrescentou Elliot, seus olhos brilhando com um entusiasmo repentino. “Quero que você desmistifique a tolice do romance na Irlanda. Desmascare o mito de que alguém pode encontrar o amor de sua vida através de um festival sentimental. Preciso que seja corajosa e mostre como tudo isso é um absurdo, como o amor não funciona dessa forma na vida real. Quero o lado positivo e o negativo.”
Keira assentiu a cabeça. Ela era uma cética de Nova York, e o ângulo da tarefa caiu muito bem para ela. Ela não podia deixar de sentir que a oportunidade perfeita caiu em seu colo no momento perfeito. Essa era sua chance de brilhar, de mostrar sua voz e talento, de provar que merecia seu lugar na Viatorum.
“Dispensados,” disse Elliot. Quando Keira levantou-se, ele adicionou, “Não você, Srta. Swanson. Precisamos analisar os pequenos detalhes com minha assistente. Por favor, vamos ao meu escritório.”
À medida que os outros saíam da sala de conferência, Nina olhou para Keira e fez o gesto de polegar para cima. Keira, então, atravessou o escritório, ao lado de Elliot, seu salto fazendo barulho e atraindo olhares invejosos de todos ao seu redor.
No segundo em que a porta do escritório de Elliot fechou, Keira sabia que o trabalho verdadeiro estava prestes a começar. A assistente de Elliot, Heather, já estava sentada. Ela franziu a testa confusa quando percebeu que Keira foi escolhida para a tarefa, mas não disse nada.
Você é apenas mais uma pessoa que vou provar estar errada, pensou Keira.
Ela sentou, assim como Elliot. Heather entregou uma pasta para ela.
“Suas passagens de avião,” ela explicou. “E detalhes de suas acomodações.”
“Espero que goste de madrugar, pois partirá logo pela manhã,” acrescentou Elliot.
Keira sorriu, embora sua mente bobinasse para todos os eventos planejados que tinha em seu calendário, todas as coisas que ela teria que cancelar e perder. Ela começou a suar frio lembrou que iria perder o casamento de Ruth, irmã de Zachary, o qual era no dia seguinte. Ele iria ficar tão bravo!
“Sem problema,” ela disse, olhando para as passagens em sua pasta, que eram para um voo às 6 da manhã. “Nenhum problema.”
“Reservamos uma pequena pousada pitoresca em Lisdoonvarna,” Elliot explicou. “Sem frescura. Queremos que experimente tudo.”
“Ótimo,” ela respondeu.
“Não estrague tudo, ok?” disse Elliot. “Estou assumindo um grande risco com você. Se você se sair mal nessa tarefa, seus dias aqui já eram. Entendeu? Há centenas de outros redatores esperando pela sua vaga.”
Keira balançou a cabeça, tentando não transparecer ansiedade em seu rosto, tentando parecer corajosa, confiante e totalmente tranquila, enquanto por dentro ela sentia como se milhares de borboletas tivessem levantado voo.
CAPÍTULO DOIS
Mais tarde naquela noite, quando chegou ao apartamento que compartilhava com seu namorado, Keira percebeu que ainda tremia de emoção e descrença. Sua mão tremia enquanto tentava colocar a chave na fechadura da porta de seu apartamento.
Finalmente, ela abriu a porta e entrou. O aroma de