“Sente-se, sente-se,” William disse enquanto sua risada começava a diminuir.
Keira sentou-se, arrumando uma das cadeiras de madeira e sentando-se à mesa. Orin sentou-se ao lado dela. Logo que William se sentou, uma mulher de cabelo vermelho-vivo entrou segurando uma bandeja contendo um bule, xícaras e uma jarra de leite.
“Esta é minha secretária, Maeve,” disse William enquanto a mulher colocava a bandeja na mesa. “Obrigado querida.”
Ela saiu da sala, deixando William para servir as xícaras de chá. Não importava se Keira não gostava muito de chá, ela não conseguiu recusar e pegou a xícara de chá escaldante sem protestar.
William cruzou as mãos sobre a mesa. “Quero dizer que estamos muito animados em tê-la aqui Keira. Com a forma em que o mundo está mudando e todos esses sites de namoro na Internet, está cada vez mais difícil conseguir clientes. Espero que seu artigo acenda um novo interesse.”
Keira cobriu sua expressão culpada com a xícara de chá. Ela se sentiu mal sabendo que iria escrever um artigo tão mordaz. William e Orin pareciam ser pessoas doces e genuínas, e a estavam tratando com muita hospitalidade. Mas ela tinha uma tarefa, tinha instruções. Ela se convenceu de que criticar um festival bobo do outro lado do mundo em uma revista que nem sequer era importada pela Irlanda dificilmente iria prejudicar o negócio.
“Você conhece a história do festival?” continuou William.
“Eu pesquisei antes de vir,” disse Keira, afirmando com a cabeça.
Mas quando William começou seu monólogo sobre o festival, ela calou a boca. Claramente ela iria escutar a história toda, quer ela goste ou não.
“Era o negócio de meu pai. E de seu pai antes disso. Na verdade, os Barrys têm sido casamenteiros desde sempre. Antigamente, era para unir nobres que estavam vindo pela água com alguma linda jovem local. Irlandesas são consideradas muito férteis, sabe, e este era o principal atrativo de venda do casamenteiro.”
Keira mal conseguia disfarçar a expressão de repugnância em seu rosto. William não percebeu, todavia, e continuou com sua história.
“Geralmente acontecia logo após a colheita, quando as meninas estavam rechonchudas e com seios fartos. Um bom casamenteiro garantia que as meninas casassem e partissem antes do inverno chegar, visto que era provável elas terem pneumonia e morrerem durante o inverno.”
Keira cerrou os lábios para abafar um risinho. Ela não sabia distinguir o quanto do que William dizia era piada, mas tinha a leve impressão de que ele estava falando muito sério. Embora ela tivesse pesquisado, escutar a história da forma com que William descrevia era realmente divertido.
“É claro que os tempos mudaram. Diferentes tipos vieram para a cidade. Guerras reduziram o estoque de homens. A ameaça de fome fez com que as pessoas ficassem desesperadas para se casar jovens, e casassem com qualquer um. Foram tempos difíceis para o casamenteiro. Quando assumi o negócio, eu era pago principalmente por aprendizes agrícolas para uni-los com uma de minhas garotas locais.” Ele tocou em um livro. “Então, mantinha uma lista deles.”
“Isso é legal?” disse Keira, finalmente quebrando seu silêncio atônito. “Parece-me um pouco inapropriado.”
“Bobagem!” gargalhou William. “As garotas adoravam. Todas querem se casar. Mesmo que seja com um agricultor sem neurônios e terríveis hábitos de higiene.”
Keira apenas balançou a cabeça. Seu artigo estava sendo escrito sozinho!
Então, a porta abriu. Keira esperava ver a Maeve cabelo de fogo novamente, mas quando olhou por cima ombro viu Shane entrando na sala. Ela de repente sentiu um formigamento por todo o corpo e sentou direito, com as costas eretas, em sua cadeira.
“Bom dia,” disse Shane, sentando no canto.
William continuou. “Aqui está meu livro de casamentos.” Ele a entregou um livro enorme de capa dura de couro. “Bem, um deles. Faço isso há tantos anos que tenho uma bela coleção.”
Keira começou a folhear o livro, lendo todos os nomes dos casais felizes. Alguns incluíam fotos, outros tinham as datas dos casamentos. Havia cartões endereçados a William dos casais que ele tinha unido. Tudo parecia muito sentimentaloide. Keira, sempre calculista, começou a formular um parágrafo do artigo em sua mente.
“Sabe,” disse William, debruçando-se sobre a mesa na direção dela. “Eu poderia encontrar um par para você. Talvez um bom rapaz irlandês seja exatamente o que você precisa.”
Keira sentiu suas bochechas queimarem. “Eu tenho namorado,” ela disse. Talvez ela tenha imaginado, mas pelo canto do olho ela pensou ter visto Shane recuar. “Zach. Ele trabalha com computadores.”
“Você é feliz com esse homem?” perguntou William.
“Sim, muito,” respondeu Keira, repetindo a última parte.
William não pareceu convencido. Ele bateu no livro que Keira tinha colocado na mesa. “Faço isso há muito tempo. Sou um especialista no amor e consigo ver no olho das pessoas. Não tenho tanta certeza que esse homem seja o ideal para você.”
Keira sabia que ele não estava tentando ser grosseiro, mas seu ceticismo tocou na ferida, especialmente com ela e Zach brigando tanto ultimamente. Mas William também era ouro para o jornalismo e ela queria tirar o máximo possível dele.
“Não é ideal para mim em que sentido?” ela pressionou.
“Ele não te apoia da forma que você precisa. Vocês não estão mais crescendo juntos, não estão mais seguindo o mesmo caminho.”
Keira se arrepiou inteira. Isto era muito preciso.
“Você é um vidente e um casamenteiro?” ela disse espirituosamente. “Está escondendo um monte de cartas de tarô aí debaixo?”
William deu uma boa gargalhada. “Não, nada parecido. Mas desenvolvi uma intuição ao longo dos anos. Não havia brilho em seus olhos quando disse o nome dele. Nenhuma alegria em sua voz.”
“Acho que essa é apenas minha personalidade nova-iorquina cínica,” Keira disse.
“Talvez. Ou talvez seja porque você não o ame de verdade.”
Keira refletiu sobre aquela afirmação. Ela e Zach raramente diziam a palavra A. Na verdade, ela nem conseguia lembrar-se da última vez que disseram a palavra.
“Não acho que o amor tenha sempre que fazer parte destas coisas,” ela disse
“Mas porque perder tempo com alguém que você não ama quando você poderia estar procurando pela pessoa certa?”
Keira cruzou os braços. “Porque talvez não exista uma ‘pessoa certa’.”
“Você não acredita na Pessoa Certa?” pressionou William.
Keira balançou a cabeça. “Não.”
Essa admissão parece ter entusiasmado William. “Temos uma pessoa do contra,” ele exclamou com uma risada. “Isso significa que é nosso desafio mudar a sua opinião. Shane, rapaz?” Ele fez um gesto para o guia turístico se aproximar, e ele se aproximou. Quando ele estava de pé ao lado dele, William colocou um braço sobre seus ombros. “Você foi promovido,” ele brincou. “Você não vai apenas guiar esta jovem pelo festival, você a guiará em direção ao amor verdadeiro. Receio que será bastante difícil!”
Keira se encolheu desconfortavelmente em seu assento. Mas, apesar de seu desconforto em ser o centro da reunião estranha, ela sabia que iria reunir um material excelente para seu artigo, graças a esse senhor trêmulo e suas opiniões antiquadas sobre relacionamentos. Elliot iria adorar isso. E escrever, para Keira, seria um tanto terapêutico.
Ela apenas tinha que sobreviver seu primeiro dia com Shane e, então, seria capaz de se livrar de toda a bobagem digitando.
CAPÍTULO