Porém, Alec permanecia ali com orgulho, sem medo.
Lentamente, o rosto de Fervil suavizou, percebendo claramente que Alec o tinha deixado indefeso. Olhou para ele com mais respeito. Ele olhou para baixo e examinou a espada. Pesou-a com a sua mão e segurou-a contra a luz e, finalmente, depois de um longo tempo, ele olhou para Alec, impressionado.
"Trabalho teu?", perguntou ele, com descrença na sua voz.
Alec assentiu.
"E eu posso forjar muitos mais", respondeu ele.
Ele deu um passo em frente e olhou para Fervil, com intensidade nos seus olhos.
"Eu quero matar Pandesianos", respondeu Alec. "E quero fazê-lo com armas verdadeiras."
Um silêncio denso e longo permaneceu sobre a sala, até que finalmente Fervil balançou lentamente a cabeça e sorriu.
Ele baixou a espada e estendeu um braço e Alec agarrou-a. Lentamente, todos os rapazes baixaram as suas armas.
“Julgo”, disse Fervil, com um sorriso arreganhado, que podemos encontrar um lugar para ti”.
CAPÍTULO OITO
Aidan caminhou pela solitária estrada da floresta, para tão longe de qualquer lugar onde alguma vez tivesse estado, sentindo-se totalmente sozinho no mundo. Se não fosse o seu Cão da Floresta ao seu lado, ele estaria desamparado, sem esperança; mas Branco dava-lhe força, mesmo estando tão gravemente ferido como estava, enquanto Aidan lhe passava a mão ao longo do pelo curto e branco. Ambos a coxear, cada um deles ferido dos seus encontros com aquele motorista selvagem da carruagem, cada passo que davam, à medida que o céu escurecia, era doloroso. A cada passo que Aidan dava a coxear, prometia que se alguma vez voltasse a pôr os olhos naquele homem novamente, ele matá-lo-ia com as suas próprias mãos.
Branco gemia a seu lado e Aidan acariciava-lhe a cabeça, o cão quase tão alto quanto ele, mais animal selvagem do que cão. Aidan estava grato não só pelo seu companheirismo, mas por ele lhe ter salvado a vida. Ele tinha salvo Branco porque algo dentro de si não o deixava ir-se embora – e ainda assim ele tinha recebido em troca a recompensa da sua vida. Ele faria tudo novamente, mesmo se soubesse que isso significaria ser despejado ali, no meio do nada, num determinado caminho com fome e morte. Ainda assim valia a pena.
Branco gemeu novamente e Aidan compartilhava as suas dores de fome.
"Eu sei, Branco", disse Aidan. "Eu também estou com fome."
Aidan olhou para as feridas de Branco, ainda a escorrerem sangue. Abanou a cabeça, sentindo-se terrível e impotente.
"Eu faria qualquer coisa para te ajudar", disse Aidan. "Eu gostava de saber como."
Aidan inclinou-se e beijou-o na cabeça, com o seu pelo macio. Branco inclinou a cabeça para trás para Aidan. Era o abraço de duas pessoas juntas numa caminhada da morte. Os sons de criaturas selvagens elevavam-se numa sinfonia na floresta que escurecia. Aidan sentia as suas pequenas pernas a queimar, sentia que não conseguia ir muito mais longe, que eles iriam morrer ali. Eles estavam ainda a dias de qualquer lugar e, com a noite a cair, estavam vulneráveis. Branco, tão poderoso quanto era, não estava em condições de lutar contra nada e Aidan, sem armas, ferido, não estava melhor. Não passavam carruagens há horas e nenhuma passaria, suspeitava ele, durante dias.
Aidan pensou no seu pai, lá fora algures, e, sentiu que o tinha desiludido. Se morresse, Aidan desejava, pelo menos, que tal acontecesse ao lado de seu pai em algum lugar, a lutar por alguma grande causa, ou em casa, no conforto de Volis. Não ali, sozinho no meio do nada. Cada passo parecia arrastá-lo para mais perto da morte.
Aidan refletiu sobre a sua ainda curta vida, pensando em todas as pessoas que tinha conhecido e amado, no seu pai e irmãos e, acima de tudo, na sua irmã, Kyra. Questionou-se sobre ela, onde é que ela estaria agora, se ela tinha atravessado Escalon, se havia sobrevivido à viagem para Ur. Questionou-se se ela alguma vez tinha pensado nele, se ela ficaria orgulhosa dele agora, estando ele a tentar seguir-lhe os passos, a tentar atravessar Escalon, também, à sua maneira, para ajudar o pai deles e a causa. Questionou-se se chegaria a viver para se tornar um grande guerreiro e sentiu-se profundamente triste por pensar que podia não a voltar a ver novamente.
Aidan sentia-se cada vez pior a cada passo que dava. Não havia muito que pudesse fazer agora a não ser ceder aos seus ferimentos e exaustão. Indo cada vez mais lento, ele olhou para Branco e viu-o também a arrastar os pés. Em breve eles teriam de se deitar e descansar ali mesmo, naquela estrada, desse para onde desse. Era uma proposta assustadora.
Aidan pensou ter ouvido algo, fouxo ao princípio. Ele parou e ouviu atentamente e Branco parou, também, olhando interrogativamente para ele. Aidan mantia-se na expectativa, rezava. Teria estado ele a ouvir coisas?
De seguida, aconteceu novamente. Desta vez ele tinha a certeza. Um guincho de rodas. De madeira. De ferro. Era uma carruagem.
Aidan virou-se, o seu coração batia e ele semicerrou os olhos na luz fraca. De início, ele não viu nada. Mas, depois, lentamente, certamente, ele avisou algo. Uma carruagem. Várias carruagens.
O coração de Aidan batia com força, mal conseguindo conter o entusiasmo ao sentir o estrondo, ouvir os cavalos e assistir à caravana encaminhar-se na sua direção. Mas, de seguida, o seu entusiasmo mitigou-se ao equacionar se eles poderiam ser hostis. Afinal de contas, quem mais estaria a viajar por este longo trecho de estrada estéril, longe de qualquer lugar? Ele não podia lutar e Branco, rosnando sem emoção, não tinha muito como lutar, também. Eles estavam à mercê de quem quer que fosse que se estivesse a aproximar. Era um pensamento medonho.
O som ensurdecedor aumentava à medida que as carruagens se aproximavam. Aidan permanecia corajosamente no centro da estrada, apercebendo-se que não conseguia esconder-se. Ele teve de arriscar. Aidan pensou ter ouvido música enquanto eles se aproximavam e isso aprofundou a sua curiosidade. Eles ganharam velocidade e, por um momento, ele pensou se o iriam atropelar.
Então, de repente, toda a caravana desacelerou e parou diante dele, uma vez que ele estava a bloquear a estrada. Eles olharam para ele, com a poeira a assentar à sua volta, um grande grupo, talvez cinquenta pessoas. Aidan pestanejou surpreendido ao ver que eles não eram soldados. Eles também não pareciam ser hostis, apercebeu-se com um suspiro de alívio. Notou que os vagões estavam cheios de todos os tipos de pessoas, homens e mulheres de todas as idades diferentes. Uma parecia estar cheia de músicos, que seguravam vários instrumentos musicais; outra estava cheia de homens que pareciam ser malabaristas ou comediantes, com os rostos pintados de cores brilhantes e que vestiam calças e túnicas coloridas; outra carruagem parecia estar repleta de atores, homens que seguravam rolos de papel, claramente ensaiando os guiões, vestidos com trajes dramáticos; enquanto outra estava cheia de mulheres – com pouca roupa e com as caras cheias de maquiagem.
Aidan corou e desviou o olhar, sabendo que era demasiado jovem para embasbacar-se com tais coisas.
"Tu, rapaz!", gritou uma voz. Era um homem com uma barba muito longa, vermelha brilhante, até a cintura, um homem de aparência peculiar, com um sorriso amigável.
"Esta estrada é tua?", perguntou ele em tom de brincadeira.
O riso irrompeu de todas as carruagens e Aidan corou.
"Quem és tu?", Aidan perguntou, perplexo.
"Eu acho que a melhor pergunta", disse ele ", é quem és tu?" Eles olharam para baixo para Branco com medo quando este rosnou. "E que diabos fazes com um Cão da Floresta? Não sabes que te vão matar? ", perguntaram, com medo na voz.
"Não este", respondeu Aidan. "Vocês são todos… artistas?", perguntou ele, ainda curioso, querendo saber o que estavam todos ali a fazer.
"Uma palavra amável para isto!", alguém disse de uma carruagem, às gargalhadas.
Nós somos atores e jogadores e malabaristas e jogadores a dinheiro e músicos e palhaços!" gritou outro homem.
"E