Rapidamente, os meus sentidos são despertados e num impulso meu espírito vagueia em tempos e espaços distantes. Nesta viagem, nada parece muito claro, mas posso vislumbrar trevas, sofrimento, confusão e muita dor. Vejo a bravura dum homem que luta consigo mesmo numa guerra infindável contra sua noite escura da alma. Nesta luta, vejo batalhas perdidas e ganhas ao mesmo tempo. Vejo também a noite escura se reforçando a cada deslize seu, e o desespero caindo sobre o miserável. Já no plano espiritual, vejo mundos em batalha pela alma desse homem. Há uma pequena passagem de tempo e vejo no final uma pequenina luz que pode ser a salvação dele. Essa luz é intensa e a noite escura se dissipa com sua presença, mas falta atitude por parte do homem. Será que seu arrependimento é mesmo sincero? A sua noite escura ainda se achava presente em seu coração? Antes de obter as respostas, a experiência termina e volto ao meu estado natural. A porta se fecha e me vejo de volta ao mesmo salão. Sem mais nada a descobrir, resolvo fazer o caminho de volta. Depois de alguns instantes, retorno às galerias e avançando rapidamente percorro em duas horas todo o percurso da gruta. Ao sair, reencontro o hindu e me aproximo para as primeiras considerações.
– E aí? Como é que foi? Encontrou aquilo que procurava? – Pergunta ele.
– A gruta me ajudou em certo sentido, mas ainda não respondeu às questões cruciais. Acho que tenho que continuar arriscando, seguindo este perigoso e tortuoso caminho de trevas a fim de conseguir chegar a tão desejada revelação final. Você continua me ajudando?
– Claro que sim. Com a meditação e a viagem astral que aperfeiçoamos, acredito que já é capaz de passar à próxima etapa, realizando mais um desafio amanhã. Por hora, é melhor voltarmos para casa para descansar.
Concordo com o meu atual mestre e começamos a caminhada imediatamente. Os passos iniciais são regulares, refletindo o estado de espírito de nós dois, de quem acaba de superar mais uma etapa. O que nos esperava a partir de agora? Eu nem imaginava, e era isso que fazia a nossa atual aventura tão especial quanto à primeira. Apesar de todas as dúvidas que ainda tinha, eu estava convicto do que queria e aonde queria chegar. Com essa convicção, apresso mais os passos e o meu mestre me acompanha na trilha. Desbravamos a distância que nos separava da nossa humilde casa em pouco tempo e ao chegarmos preparamos um lanche e depois descansamos nas nossas camas desconfortáveis. Neste momento, meus pensamentos eram preenchidos com as expectativas do próximo dia, que seria decisivo e definitivo na minha carreira iniciante de escritor.
Ira
Os primeiros raios de sol surgem, anunciando a chegada de um novo dia. Com a iluminação, os meus sentidos acabam despertando pouco a pouco. Tento levantar imediatamente, mas o peso das experiências do dia anterior acaba por evitar essa atitude de minha parte. Mesmo assim, não me conformo, reúno as minhas forças restantes e num impulso consigo finalmente levantar. Ao ficar em pé, espreguiço-me e me dirijo ao improvisado banheiro com o intuito de fazer meu asseio matinal. Ao chegar, entro, fecho a porta, dispo-me e começo a jogar água fria no corpo, reservada numa tina que eu mesmo enchera. O primeiro contato com a água fria me renova os ânimos e a disposição de continuar lutando por meus sonhos e objetivos. Tento simplificar as coisas da melhor maneira possível, fazendo um asseio corporal bem feito e rápido. Numa sequência de água e ensaboadas, termino de ficar completamente limpo, visto uma roupa limpa, saio do banheiro e vou tomar meu café da manhã. Chegando no que corresponde á cozinha, reencontro o hindu, que preparara tudo para o nosso desjejum, começo a me servir e a conversar com ele.
– Você se recuperou totalmente das façanhas de ontem? – Pergunta o mestre. – Olha, o desafio de hoje não é nada fácil, alerta.
– Para ser sincero, não muito. Porém, encontro-me muito disposto. Diga-me, resumidamente, como devo agir para angariar mais uma vitória neste próximo desafio?
– Primeiramente, você deve manter o seu espírito de luta e coragem. Segundo, use sua sabedoria e o aperfeiçoamento de ontem como armas para superar todas as adversidades. Seja firme e não perca a fé em nenhum momento. Só assim poderás sair novamente vencedor e como prêmio receberás o conhecimento completo sobre o quarto pecado capital.
– Entendi. Obrigado. Poderia dar também dicas sobre o local e horários exatos da realização desse novo desafio?
– Quanto ao local, não posso ajudá-lo. Siga sua intuição. Em relação ao horário, será as 08h00min da manhã.
Com esta resposta do hindu, observo o meu relógio de bolso e verifico que está quase no horário. Um leve estremecimento no corpo acontece, mas eu prefiro acreditar que vai ficar tudo bem. Apresso-me e termino o meu desjejum, despeço-me do hindu e saio imediatamente para cumprir mais uma etapa na minha carreira. Ao sair, começo a traçar meus planos e matutar sobre qual direção seguir. Instintivamente, decido pelo Nordeste devido ao fato de eu nunca ter percorrido aquelas bandas. Definida a direção, agora só me restava a postura. Com o intuito de ajudar minha mente, relembro os conhecimentos de outrora (os que eu tinha absorvido desde a aventura anterior até aquele momento) e o aperfeiçoamento que tive com a supervisão do hindu. Analisando com cuidado e imparcialmente, termino por concluir que eles tinham sido e eram muito importantes para eu me tornar o homem que eu era naquele momento. Por isto, eu deveria usá-los