Julgamento de contos de Fadas a Colarinho Branco, é a priori uma obra que resulta de um casamente entre a realidade e ficção. Nomes, personagens e episódios a maioria resultam da imaginação do autor. Apesar de alguns nomes serem amistosos ao escritor, qualquer semelhança com pessoas, acontecimentos ou locais reias é pura conscidência
© Marcos Sassungo, 2018
© Logos Publisher, 2018
Dedicatória
Aos meus pais,
À minha ilha.
Eu, carinhosamene dedico este livro para ti.
Prefácio
Um julgamento de Contos de Fadas a Colarinho Branco é uma homenagem ao escritor Português Vergílio Ferreira que, com a sua obra “Aparição” de 1959, fez brotar em mim constelações de uma semente poética à margem de um mundo imaginário onde Batinho, o personagem principal da presente obra, tal como Alberto Soares de “Aparição”, vive as reflexões proféticas dos acontecimentos descritos num tempo real e psicológico nas cidades do Huambo e de Luanda. Os acontecimentos e reflexões que marcam os personagens pressupõem uma análise do existencialismo do ser, presente num passado que se adequa às vivências dos mesmos. Outros-sim, a partir da construção do existencialismo, há no presente romance, a construção da ideia de um tempo cronológico que se divide nas estações das vidas entre o Sr. Rafael e o Batinho, partindo do pressuposto da existência de um verdadeiro Deus, de uma força criadora, e de uma vida após a morte. Logo, o homem é indubitavelmente um ser da acção e do poder, mas nunca da vida. O Sr. Rafael é o narrador e o personagem secundário e, sobre ele o romance se desenvolve através das lembranças que viveu quando foi estudante de engenharia de Petróleo na República Federal da Rússia e das lembranças que reviveu com o seu pai na infância. O amor que sente pela sua esposa, dona Esmeralda, é baseado numa escolha consciente e independentemente da retroalimentação negativa do mesmo, e dos danos morais que Esmeralda lhe causara. Esmeralda surpreende-se com a atitude do Sr. Rafael em renovar os votos de casamento logo após descobrir, através de uma conversa, que o filho que esperava não era realmente seu, mas sim do seu melhor amigo. As analépses e prolépses que interrompem a história do Sr. Rafael também sucedem na vital história de Batinho, este que é o narrador e o personagem principal e sobre ele, há um parafrasear dos acontecimentos vividos consigo no seu eu existencial.
Batinho desdobra-se no pecualiar trágico romance com a Vanda, esta que logo depois viria a ser a sua irmã consaguínea. Todavia, as questões do existencialismo entopem as suas memórias: quem sou eu, de onde venho e para aonde vou? São as perguntas que ecoam na consciência solitária do ser, e estão logo presentes no cardápio do existencialismo humano, e no eu verdadeiro que surge em numerosas manifestações do quotidiano da vida singular de Batinho. Este, que abandona a cidade do Huambo para reviver as respostas da felicidade questionada num passado trágico e marcado por vivências alfabetizadas pelas pessoas ao seu redor, a pesar de ter vivido e recebido a oportunidade de viver uma vida financeira satisfatória. Em Luanda, Batinho revive as lembranças que salgam o seu passado, mas se abdica delas ao conhecer a Patrícia na noite da fogueira, ela que seria a vernácula actriz do seu coração apaixonado; diante das dificuldades, Patrícia ajuda-o a alcançar as metas dos planos emergidos de um limiar de sonhos, inclusive da felicidade que se iria desenhar no fim de um para sempre na vida de ambos.
Há sete anos, ao estudar “Aparição”, como um livro de leitura obrigatória, no Centro Pré-Universitario Católico, que hoje é o actual Liceu Católico do Huambo, na província do Huambo, em Angola, ousei escrever o livro “Um Julgamento de Contos de Fadas” em homenagem ao escritor e trazer à memória a sua imortalidade camuflada nas entrelinhas do mundo externo da literatura. A presente obra é um romance autodiegético, heterodiegético e, com uma linguagem literária a todos os níveis linguísticos. E agradeço, sobejamente, por o haver adquirido. Mais do que um romance, esta obra é um convite à reflexão do impecável paradoxo do existencialismo humano, aí onde o ser é o único paciente pronto para as cirurgias da vida. Sem mais nada a dizer, nada melhor do que desejar uma boa viagem à leitura.
Com muito carinho!
Capítulo I
O Amor
"E hoje olho para ti. Mesmo com esses anos todos… tu continuas a mesma garota de sempre. Linda, amável, respeitosa, carinhosa. Tu me trouxeste mais perto de Deus e eu amo-te como Ele me ama. É um mandamento que Ele me deu…"
Cinco da manhã desta quinta-feira. A garagem do meu globo ocular negava-se a fechar. E ansioso, percebi a madrugada nascer no labirinto daquela janela. Havia um silêncio total no bairro que se reflectia no claustro do quintal que testemunhava a minha dor, naquele momento. Comigo, a luz de uma lamparina movida a gasóleo felicitava-me enfim pela viagem já feita nas recônditas luzes do sabor das palavras daquele livro. Fiquei entediado e decidi arejar, arejar e arejar, e nesse arejar, convidei a porta que me desse a licença de sair e abraçar a madrugada com amor. Naquele dia, a lua recusava-se a esconder o brilho da sua beleza de tão brilhante que estava e as estrelas estavam ao redor e espalhadas por todo claustro do céu azul. A pupila, a córnea e a íris, convidaram o meu lóbulo ocular a entender o tamanho da beleza do céu, naquela madrugada sussurrante, mas tive insucessos. Olhando, demoradamente, não resisti. Onde ela está agora? O que ela está fazendo agora, Deus? Será que ela está a dormir ou a ver o céu como vejo agora? Como ela se chama, Senhor, onde ela vive? Será que eu a conheço? Enfim, foram as perguntas que borbulharam a minha consciência solitária naquela altura. Só queria que naquele momento o céu me mostrasse o retrato de quem viria a ser ela. A fé e a confiança em Deus aplaudiram o meu desejo e curiosidade em não saber prematuramente essa mulher que até naquele momento não sabia quem era.
Por conseguinte, nada sabia sobre a paixão, o ódio e o amor, sentimentos que passeiam nas avenidas do coração do homem. Ho! Amor, onde vives e por onde andas? A que distância de profundidade te encontras? Seria possível fazer a prospecção do seu endereço? Como posso eu te encontrar, amor? Não te mostres surdo ao meu pedido, venha e embebeda o meu coração de risos, corrompa os meus pensamentos com a dor da alegria. Seja educado com o meu coração, pois a sua beleza é um veneno e intimida os meus pensamentos. A sua beleza é um estímulo que pode provocar um radical livre no DNA das minhas emoções. Seja educado. Seja educado porque, ainda corres o risco de te tornares num oncoacelerador nas avenidas pulmonares da minha felicidade. Enfim, saí da presença entupida de uma reflexão profética que provavelmente viveria daqui há mais alguns anos. O luar, com medo do ronco das nuvens, escondeu a velocidade da sua alegria. E eu, entrei no meu quarto, claramente, obscuro. Depois de uma distância de horas, lá estava eu com os meus amigos no pátio da escola.
– Bom dia, Batinho.
– Olá! Bom dia, Tino. Ontem chegaste bem?
– Ya, cheguei e sabes que hoje teremos uma nova professora, não sabes? Perguntou.
– A sério? Já não será com o professor Mingo?
– Certamente, não. Fomos avisados pela directoria que hoje por essas horas teríamos uma professora nova. Disse ele.
– Ok, que novidade! Estou curioso. Quem será?
– Bem, pelo que se ouve dizer, não é uma boa professora, não.
– Hahahaha, deixe de ser medroso, homem. Diga lá quem será e pronto! – Disse eu.
– Será a professora Lai. E dizem ser uma professora má. – Disse o Batinho com uma voz de tristeza.
– Por exigir dedicação aos alunos ela é má? Perguntei eu e acresci: – Fecho os olhos que verei.
A educação é um processo longo e adequado. Mas inadequado quando não há exigência pelo educador. E quando não há exigência pelo educador, o educando vira um produto sem qualidade no mercado da vida.
E naquele momento, trocaram-lhes de docente e surpreendentemente, para aquela turma, vieram transferidos mais três colegas sendo que, duas delas eram filhas de uma professora. Foi assim que o Batinho conheceu a Carla. Surpreendentemente, a professora era exigente