Um grito cortou o ar. Bem na hora.
Mel saltou da cadeira e olhou para Kathy e o guarda.
— Está tudo bem? — perguntou.
Kathy se endireitou, avaliando a situação. Ela era a única gerente de plantão no momento.
— Eu deveria ir verificar. Vocês dois ficarão bem enquanto eu estiver fora?
— Claro — disse Mel. — Obviamente, existem questões mais importantes.
Kathy não sabia como lidar com isso, mas saiu apressada, deixando Mel e o guarda sozinhos. Mel começou a contagem regressiva a partir de 120, que era quando a próxima distração explodiria. Examinou o conteúdo da caixa. Havia papéis e algumas joias baratas, nada de valor real. Mas parecia ter o suficiente para que ela demorasse para encontrar o que precisava. Isso era o mais importante.
Bem na hora, uma explosão balançou o ar, seguida pelo estouro oco de fogos de artifício. Mel estremeceu, derrubando alguns de seus papéis e ofegando para causar efeito. Ela saiu de trás da cortina, esbarrando no guarda antes que pudesse se conter.
— O que é que foi isso? — exigiu, com uma nota de pânico na sua voz.
A mão do segurança voou para o Taser, e ele olhou para a frente do banco.
— Está tudo bem, senhora. Você estará segura aqui. — Ele correu em direção à comoção sem mais estímulos.
Ótimo.
Mel esperou alguns segundos antes de abrir a pasta e pegar a chave mestra. O guarda fechou a porta interna atrás dele, o que deu a ela privacidade e liberdade para trabalhar sem olhar por cima do ombro.
Foi para a caixa 109 e colocou a chave do guarda em um dos slots de chave. Ela o roubou dele quando se encontraram após a explosão. Abrir a outra fechadura foi mais fácil do que deveria, e Mel tinha o cofre contendo o pagamento pelo trabalho do roubo da Esmeralda Escarlate em suas mãos em menos de um minuto.
Ela abriu a caixa e congelou, não entendendo muito bem o que viu. Fechou a caixa e abriu-a mais uma vez, esperando que seus olhos a estivessem enganando.
Não havia pagamento no cofre.
Havia apenas um cartão de visita.
Em letras bem definidas, o cartão de visita dizia “LUKE TORRES” e listava um número de telefone e endereço de e-mail. Sem nome comercial, sem endereço físico. Mas Mel sabia exatamente onde ele morava. Afinal, foi dele que ela roubou a Esmeralda Escarlate.
Um mês antes, uma bruxa chamada Tina Anders abordou Mel para que ela roubasse a pedra. Era um trabalho difícil, que apenas três pessoas, incluindo Mel, eram capazes de realizar. Mas Tina e Mel tinham uma longa história, e a bruxa ofereceu um pagamento que ela não poderia recusar, apesar de o trabalho ter que ser executado em um prazo quase impossível.
E foi o que ela fez, exceto por um pequeno acidente que a tornou a convidada indesejada do alfa homem-leão por alguns dias. E deveria ter sido isso. Ela deu a Tina a pedra, Tina deu a ela a chave deste cofre, e o negócio havia sido concluído.
Até que apareceram os vampiros.
Quando explicou o trabalho, Tina não disse nada sobre vampiros. E, se tivesse, Mel gostava de pensar que teria recusado, independentemente do pagamento. Mas os vampiros apareceram, deu uma grande merda, Luke Torres a acusou de sequestrar sua irmã, e Mel se teletransportou antes que ele pudesse rasgar sua garganta.
O que era bom, exceto pela parte em que ela acabou nua a mil e seiscentos quilômetros de distância, sem a chave ou o endereço do cofre. Isso tudo acabou com Luke sozinho com uma pilha de roupas dela na floresta no Colorado. Só depois de se encontrar com Krista, ela se lembrou que uma pessoa usando o feitiço de teletransporte precisava possuir as coisas que desejava teletransportar. As roupas de Mel foram adquiridas por outros meios.
Então, embora possuísse a chave e o cartão com o endereço correto, ela não possuía as roupas que os continham. Krista e Bob desapareceram depois de receber o pagamento de suas partes do trabalho, e ela ficou sem nada.
E Luke tinha tudo. Mais importante ainda, ele tinha sua pedra da vidência.
Mel fechou a caixa com força e a enfiou de volta no slot correto. Mordeu o lábio para se impedir de continuar xingando. Uma pedra da vidência permitiria que ela localizasse o foco da pedra com a ajuda de uma bruxa. Ela teria um GPS mágico para encontrar seu alvo a qualquer momento. E esta pedra da vidência era mais valiosa do que qualquer coisa que ela possuía.
Esta pedra da vidência estava ligada a uma bruxa chamada Ava. Isso a deixaria rastrear a mulher que matou seus pais.
Mel se endireitou e se recostou à mesa, esperando Kathy ou o guarda voltar. Um plano já estava se formando em sua mente. Era bastante simples. Teria que roubar do alfa mais uma vez.
2
O leão rugiu. O som ressoou pela floresta de Eagle Creek, Colorado, onde os leões de sua alcateia rondavam em busca de sua irmã desaparecida. O timming de Mel poderia ter sido melhor, mas ela não sabia que a noite em que voltaria à cidade seria a mesma em que ele enviaria suas tropas para encontrar a filhote de leão perdida.
Seu coração batia forte e a alegria fluía por ela com cada estalo de galho. Estava a apenas um passo de ser aprisionada pelo alfa mais uma vez. E desta vez não teria uma bruxa para tirá-la do perigo.
Mel não sabia se estavam todos atrás de Cassie, mas não conseguia imaginar nenhuma outra razão para estarem lá. Os leões não eram um grupo de caça em busca de sangue; ela podia ouvir o murmúrio de suas palavras, a segurança de seus passos. Eles estavam destruindo a floresta de forma metódica, cobrindo cada centímetro em busca da adolescente desaparecida. Mas além do vento e dos sons intermitentes de metamorfos à espreita, Mel não ouviu mais nada.
Os animais noturnos que normalmente eram donos dessas matas haviam se escondido. Até os insetos ficaram em silêncio.
Ela soprou para longe uma mecha caída de cabelo e, em seguida, colocou-a atrás da orelha quando pousou na frente de seu olho mais uma vez. A primeira vez que veio para Eagle Creek, ela era ruiva, ou pelo menos era como se parecia. A peruca era parte de uma de suas identidades e oferecia uma distração para quem tentasse se lembrar de como ela era. Esta noite não havia distrações. Usava roupas escuras e justas que se moviam como uma segunda pele, e seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo. Em outros trabalhos como este, teria usado uma máscara, mas não precisava mais esconder sua identidade do alfa. Ele sabia que ela estava vindo. Caramba, ele a convidou.
Ela foi direto para o Colorado depois de terminar em Wisconsin. A única parada envolveu uma pernoite em St. Louis para pegar alguns suprimentos com uma bruxa com quem havia trabalhado antes. Por um segundo, considerou ligar para Krista, mas afastou o pensamento quase tão rápido quanto o teve. Seus antigos parceiros deixaram bem claro que haviam terminado sua associação com ela.
E Mel merecia, apesar de querer que não. Mas estragar as coisas com parceiros tinha consequências que não podia evitar; tinha que conviver com isso e esperar que Krista a perdoasse algum dia. A bruxa era a coisa mais próxima de família que Mel possuía.
Mas não podia se distrair com isso. Um movimento errado e estaria de volta ao complexo do alfa. E esse não era um jogo que ela queria jogar.
O som de um galho quebrado foi seu único aviso, Mel reagiu, agachando-se atrás de uma árvore enorme e mantendo-se absolutamente imóvel quando dois leões entraram na pequena clareira pela qual ela estava se movendo. Ouviu duas pessoas entrar ali e só podiam ser metamorfos. Mel respirou fundo e expirou o mais lentamente possível, recorrendo