Mesmo com as limitações acima, é importante destacar a complexidade do comportamento de abuso de substâncias, e como as variáveis de personalidade estão envolvidas nele, o que dificultará o tratamento de desintoxicação. Assim, o narcisismo patológico terá papel de destaque no abuso de substâncias, aspecto que terá que ser trabalhado se quiser modificar esses comportamentos, sabendo que tentar mudar a personalidade exige muito esforço e na maioria dos casos poucos resultados.
Como exemplificado na pesquisa anterior, o campo da psicologia tentou comprovar se existe algum traço de personalidade que “facilite” que uma pessoa possa ou não tentar tirar a própria vida; assim, com respeito à descoberta de características de personalidade que são determinantes em caso de suicídio, uma investigação foi realizada pelo Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente em parceria com o Hospital Psiquiátrico Juan N. Navarro (México) (Camarena, Fresán, & Sarmiento, 2014).
Participaram do estudo 233 pessoas, sendo 49 pacientes com tentativas de suicídio com diagnóstico de transtorno depressivo ou distimia grave, excluindo do estudo aqueles que apresentavam qualquer outra patologia ao mesmo tempo; o restante constitui o grupo de controle com o qual comparar. Todos eles foram avaliados por meio de um questionário padronizado abrangente de 240 perguntas, denominado Inventário de Temperamento e Caráter (Garcia, Lester, Cloninger, & Robert Cloninger, 2017). De acordo com a teoria por trás deste questionário, no Temperamento existe um componente parcialmente hereditário, enquanto a Personalidade é formada pelas experiências sociais e pessoais do indivíduo. Este questionário avalia sete dimensões, quatro de Temperamento (Busca de Novidade, Prevenção de Danos, Dependência de Recompensa e Persistência); e três de Personalidade (Autodireção, Cooperação e Autotranscendência).
Os resultados analisados em conjunto relatam que pais e filhos com tentativas de suicídio compartilham características em comparação com o grupo de controle. Estas características definidoras são tanto de temperamento (alta Prevenção de danos e baixa Persistência), quanto de personalidade (baixa Autodireção e Cooperatividade). Algo que o estudo comenta é que os pais compartilham as mesmas características de personalidade que levam seus filhos a uma tentativa de suicídio. Como o estudo não contempla a análise das tentativas de suicídio de seus pais, caso tenha havido, não se pode concluir que esses fatores sejam determinantes, uma vez que, em alguns casos, como no dos pais, as mesmas características de personalidade não “levam” a tentativas de suicídio, enquanto que em outros sim, como é nos filhos.
Deve-se levar em consideração que entre os “sobreviventes” de suas tentativas de suicídio, vale ressaltar que não tentavam tirar sua vida, mas que era sua forma de chamar atenção ou queixar-se das circunstâncias que viviam. Por isso, em minha opinião, deve ser feita uma distinção entre aqueles que tentam e aqueles que conseguem, pois pode haver motivações totalmente diferentes por trás disso.
Então, os resultados deste estudo se refeririam apenas àqueles que o tentam. Apesar disso e dada a gravidade do assunto em estudo, qualquer contribuição é bem-vinda para melhor compreender os motivos, mas sobretudo para tratar de prevenir. Portanto, de acordo com esta pesquisa, existem fatores de temperamento e de personalidade com maior probabilidade de estarem presentes em pacientes com transtornos depressivos que também cometem tentativas de suicídio.
Assim, uma pessoa com temperamento com altos níveis de prevenção de danos, ou seja, não suporta o sofrimento; e baixa persistência nas tarefas, ou seja, não é constante para atingir seus objetivos, é mais provável que diante da depressão tenda a cometer atos suicidas, visto que seriam pessoas que estão sofrendo as consequências da depressão, aspecto que não o agrada, e também não são capazes de encontrar uma saída, porque exige um esforço diário, aspecto em que costuma falhar.
Da mesma forma, ter características de personalidade definidas por baixos níveis de autodireção, ou seja, têm pouca constância em assumir a responsabilidade pela própria vida; e baixa cooperatividade, ou seja, é uma pessoa competitiva e pouco envolvida nos aspectos sociais; quando ambas as características estão presentes diante da depressão, é mais provável que haja tentativas de suicídio.
Como seria o caso de alguém que não gosta de tomar decisões pessoais, como lidar com a depressão para sair dessa situação; e que também não conta com uma rede de apoio, para que seus colegas não o vejam como fraco, o que vai facilitar o ato suicida (Grassi et al., 2018).
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