– Todos têm um preço.
– Eu não.
– Veremos – André apontou para a porta com a cabeça. – Tu primeiro.
– É melhor despedir-me de ti aqui. Ver-nos-emos na reunião da direcção dentro de duas semanas – declarou ela, mantendo-se firme.
O sorriso masculino era glacial.
– Tu vens comigo, ma chérie.
– Isso querias tu… – disse ela, detestando o tremor na sua voz.
– Vou levar-te ao colo se for necessário, mas tu vens comigo para Petit Saint Marc.
A ilha das Caraíbas? Ficara louco?
– Para quê?
– Para me vingar do teu amante, ma chérie.
– Estás a perder tempo, porque eu não tenho amante.
– Sei que estás nisto com Peter Bellamy desde o começo.
– Peter? – Kira deu uma gargalhada histérica. – Garanto-te que não é meu amante.
– Poupa-me as mentiras. Conheço a verdade.
André não podia estar mais enganado, mas Kira percebeu que, se não acreditava naquilo, nunca acreditaria que ele era o pai do bebé que esperava.
– Não tenciono ir contigo a lado nenhum. Vai para o…
André estalou os dedos e ela deu um salto, batendo com as costas contra a parede.
– Não me custaria destruir o hotel – ameaçou ele. – E, então, as tuas acções não valeriam nada. É isso que queres?
Aquilo era chantagem! E no mínimo sequestro! Mas não podia permitir que destruísse o hotel em que investira todos os seus sonhos e todo o seu futuro.
– Não, mas não posso ir e deixar tudo de um momento para o outro – disse ela, consciente de que as palavras de André eram verdadeiras.
– Claro que podes e fá-lo-ás – André segurou-a pelo braço e levou-a até à porta, embora o contacto fosse surpreendentemente suave.
Está bem, disse para si. Voltaria para a ilha com ele. Talvez lá tivesse a oportunidade de lhe falar do filho que esperava. Talvez lá conseguisse raciocinar com ele sobre o Château e convencê-lo de que era seu por direito.
André Gauthier olhou para a mulher hipócrita que caminhava pelo corredor à frente dele, abanando suavemente as ancas que eram um convite para qualquer homem. Não era de estranhar que Bellamy lhe tivesse oferecido quarenta e nove por cento das acções do Château Mystique.
Kira Montgomery era a sexualidade personificada. Certamente, enganara-o e seduzira-o praticamente sem se esforçar.
Ele sempre se orgulhara do controlo férreo que tinha sobre si próprio e o mundo que o rodeava, até Kira invadir a sua ilha há três meses.
André não se surpreendera ao descobrir que Bellamy enviara uma mulher para negociar com ele depois de ter rejeitado a sua última oferta para comprar o Château. O velho contara com os encantos de Kira para obter os seus objectivos e, certamente, funcionara. Pelo menos por uma noite, André vira-se preso no debate mais estimulante da sua vida e só mais tarde é que percebera até onde chegava o engano.
Não fora o velho Bellamy que a enviara, mas o seu filho Peter. O seu mais feroz rival. O homem que, provavelmente, preparara o caminho que conduzira ao acidente de viação em que morrera a amante de Edouard e que o deixara moribundo no leito de um hospital.
Kira não era apenas a amante de Peter, mas também o cérebro da manobra usada para acabar com o velho Bellamy e que lhe dera finalmente o controlo do Château Mystique.
Mas a sua traição tirara a André algo muito mais valioso do que propriedades materiais.
Participara na destruição do que restava da sua família.
A sua irmã Suzette.
Kira traíra-o e o que ele desejava acima de tudo era vingança. Ela estaria na ilha à sua mercê quando ele lançasse o ataque definitivo para ficar com a Bellamy Enterprises.
Em silêncio, ambos subiram para o quinto andar. Kira ia à frente e André seguiu-a até uma porta que ela abriu com um cartão magnético. A suíte era pequena, nada espectacular, mas muito acolhedora e agradável. André percebeu que tinha alguns toques muito pessoais, próprios do típico salão inglês, e de que cheirava à mesma fragrância floral que ela.
– Não precisarás de muita bagagem – disse ele, irritado com a ideia de aquele ser o lugar onde recebia o seu amante, Peter Bellamy.
– Tencionas manter-me fechada num quarto o dia todo? – perguntou ela, ficando tensa.
– Se for preciso – ameaçou-a ele, com os dentes cerrados. – Conheço-te bem e não quero voltar a arriscar. Tenho provas da tua participação no plano de Bellamy.
Kira olhou para ele, boquiaberta, como se não conseguisse acreditar no que estava a ouvir.
– Não sei a que te referes.
O sorriso de André era tão forçado como a tensão reinava na suíte.
– O trabalho que algumas pessoas têm para destruir todos os vestígios em papel nunca deixa de me surpreender, mas esquecem-se dos registos electrónicos – foi o comentário irónico de André, que ela não compreendeu. – E chega de perder tempo, arruma as tuas coisas e vamos embora.
Kira entrou no quarto como alguém a caminho da guilhotina. Naquele momento, o telemóvel de André tocou e ele atendeu imediatamente. Era o seu guarda-costas.
– O que foi?
– Peter Bellamy acabou de chegar – disse o homem, num tom profissional.
André lançou um olhar acusador a Kira, que parecia estar unicamente concentrada em fazer a mala. Não a perdera de vista, por isso ou Bellamy estava a fazer uma visita surpresa ao Château para ver a sua amante ou algum empregado de Kira avisara-o por telefone.
– Não o percas de vista – André pôs o telemóvel no bolso. – Vais demorar muito?
– Só preciso de mais algumas coisas e do portátil – disse ela, aproximando-se de uma secretária e fechando um computador portátil. – Aqui tenho tudo o que preciso para continuar a gerir o hotel em qualquer lugar do mundo.
– Não pensarás continuar a trabalhar…
– É claro que sim, não sou das que ficam de braços cruzados – garantiu ela. – E não preciso da tua permissão.
– Não tenhas assim tanta certeza.
André teve a satisfação de a ver empalidecer antes de o telemóvel tocar novamente.
– Estão aqui os paparazzi – disse o seu guarda-costas. – Estão atrás de Peter Bellamy.
Não. Era a última coisa de que precisava. Ver-se envolvido noutro confronto público com Kira.
– Temos de sair sem que a imprensa nos veja. Ou preferes repetir o episódio da última vez?
Ela corou e abanou a cabeça.
– A melhor opção é a porta de serviço.
André repetiu-o ao guarda-costas.
– Vemo-nos lá dentro de cinco minutos.
– Mas ainda não estou pronta.
André praguejou em voz baixa e consultou o relógio.
– Tens três minutos. Depois iremos, quer estejas vestida… – deslizou o olhar pelo corpo feminino sem esconder a sua admiração, – ou não.
Praguejando, Kira