– Não, escolha outra.
Beth ficou momentaneamente confundida.
– Outra? Bom, Bere Akinwande é amável, inteligente e tão bela quanto a Sia Lane. Seria uma rainha fantástica. Embora, para dizer a verdade, nem perceba por que querem estas mulheres casar com o rei Omar.
– E porquê?
– Parece-lhe normal escolher uma esposa desta maneira? Que tipo de homem faz algo assim? Parece um reality show.
– Não seja tão dura com ele. Encontrar esposa é difícil para um homem da sua posição, embora imagine que tudo isto será igualmente duro para si. Não em vão, viu-se obrigada a deixar um trabalho importante para encontrar marido à maneira antiga.
Beth voltou a suspirar.
– Sim, tem razão. Não tenho o direito de julgar. Ele paga-nos para virmos, mas nós não lhe pagamos a ele – admitiu. – Pensando bem, deveria agradecer-lhe… se é que tenho oportunidade de conhecê-lo, claro.
Nesse exato momento, ouviu-se a voz de outro homem.
– Que está a fazer aqui, menina Farraday? Entre agora mesmo! Precisam de si no salão.
O recém-chegado, que era um dos empregados do rei, ficou atónito ao ver o acompanhante de Beth.
– Perdoe-me, menina – prosseguiu, súbita e estranhamente amável. – Se tivesse a amabilidade de regressar ao salão, ficaríamos muito agradecidos.
– Ena, parece que por fim vou conhecer Sua Majestade – disse Beth ao seu atraente desconhecido. – Deseje-me sorte.
Ele pôs-lhe uma mão no ombro e disse:
– Boa sorte.
Beth estremeceu de novo ao sentir o seu contacto.
– De qualquer modo, tenho a certeza de que fracassarei. É o meu destino. Sou uma profissional do falhanço.
Ele olhou para ela com surpresa, e Beth amaldiçoou-se a si mesma por ter dito isso. A fracassada era ela, não Edith. E supunha-se que era Edith.
– Enfim, não me ligue – acrescentou. – Até logo…
Quando voltou ao salão, Beth percebeu que já não estava nervosa. O incómodo de conhecer um rei e de encontrar-se entre algumas das mulheres mais famosas do mundo tinha desaparecido por completo.
Por outro lado, não deixava de pensar no fascinante moreno com quem tinha estado a conversar ao luar num jardim de Paris.
Omar ficou onde estava, perplexo.
Seria verdade que a doutora Edith Farraday não o tinha reconhecido? Era difícil de acreditar, mas era uma experiência completamente nova para ele. Nunca uma mulher fingira não o conhecer.
Em circunstâncias normais, teria desconfiado dela; afinal, era um homem muito famoso e estava sempre a aparecer nos média. No entanto, o seu instinto dizia-lhe que ela não o estava a enganar. Não sabia quem ele era. E, por outro lado, ele também não sabia que Khalid se comprometera a pagar um milhão de dólares a cada candidata.
Por um lado, era uma decisão lógica, porque não podiam esperar que vinte mulheres tão famosas quanto ocupadas se apresentassem em Paris sem outro motivo senão a possibilidade de serem a sua rainha; mas, por outro lado, sentiu-se insultado. Era esse o seu valor?
Em qualquer caso, a culpa era sua. Pedira a Khalid que se encarregasse de tudo e ele assim fizera. Era ele quem estava no salão, a entrevistar as mulheres; era ele quem devia escolher dez para lhas apresentar no dia seguinte e, claro, também era ele que tinha estabelecido os critérios da lista inicial.
Omar só tinha posto a condição de que fossem inteligentes e brilhantes, condição que cumprira. Mas teria ficado muito surpreendido se Khalid não tivesse incluído o nome de certa princesa na lista.
– Por que convidou a Laila? – perguntou-lhe então. – Disse-lhe que não quero casar com ela.
– Não disse exatamente isso. Disse que só se casaria com ela se todos os seus nobres concordassem.
– E eles não concordam.
– Mas podem mudar de opinião.
– Não mudarão – replicou Omar, incomodado. – Mas surpreende-me que a Laila se tenha rebaixado a vir.
– Tal como Sua Majestade, a rapariga põe as necessidades de Samarqara à frente das suas – afirmou o vizir. – O pai dela chateou-se muito quando soube do mercado de noivas, mas Laila tranquilizou-o dizendo-lhe que lhe parecia bem e que ela também apoia as velhas tradições. Veio por motivos diplomáticos, pelo bem da nação.
Omar pensou que o milhão de dólares também não lhe cairia mal; sobretudo, tendo em conta que ganharia mais um a cada dia que ficasse. Mas, naturalmente, calou-se.
Afinal, a sorte estava lançada. Tinha trinta e seis anos e, se lhe acontecesse algo, não teria nenhum herdeiro ao trono. A sua família reduzia-se ao próprio Khalid e a um primo longínquo que nem sequer era um Al Maktoun, mas um Al Bayn. Precisava de filhos. Não conseguia arriscar-se a que Samarqara voltasse a sofrer uma guerra civil como a que tinha sofrido nos tempos do avô.
Mas também não podia arriscar-se a casar-se por amor.
Não, não voltaria a cair na armadilha da paixão. Já não era um jovenzinho inexperiente, mas um homem adulto; e, quando era assaltado por dúvidas, concentrava-se no seu trabalho e esquecia-as. Não era difícil. Os assuntos de Estado tomavam muito tempo.
Em qualquer caso, estava condenado a tomar uma decisão sobre o processo que ele mesmo pusera em marcha, o mercado de noivas. Teoricamente, os membros do Conselho tinham a última palavra a esse respeito; mas a mulher que escolhessem seria mais que uma rainha: também seria a sua esposa, a sua amante e a mãe dos seus filhos.
Omar tentou não pensar no aviso do seu vizir, que estava convencido de que casar com uma desconhecida era condenar-se a uma vida de pesares. Além disso, a opinião dos seus conselheiros não o preocupava; no pior dos casos, não escolheriam pior do que ele tinha feito quinze anos antes.
Tenso, ficou a caminhar de um lado para o outro. O protocolo ditava que não poderia ver as pretendentes até que passassem a primeira seleção. A espera estava a dar-lhe cabo da cabeça. Por isso tinha ido ao jardim, em busca de sossego. Mas, em lugar de encontrar a paz que procurava, encontrou uma mulher tão sensual quanto desconcertante.
Omar sentiu-se violentamente atraído pela beleza daquele corpo exuberante, cujas curvas desafiavam a resistência de um vestido demasiado pequeno. E, se para o caso da sua aparência física não ser tentação suficiente, a sua franqueza e naturalidade tinham feito o resto.
Durante uns minutos, tinha-se esquecido de todos os seus problemas. Estava a divertir-se. Até ela mencionar a Laila, a meia-irmã da sua falecida noiva.
Será que não conseguia escapar ao seu passado?
Omar olhou para a lua, abalado. Na altura, a ideia de organizar um mercado de noivas parecera-lhe uma forma segura de começar do zero; mas o destino empenhava-se em recordar-lhe a sua primeira tentativa de casar-se.
Tinha sido desastroso. Uma tragédia.
Por fim, cansou-se de caminhar e dirigiu-se para o salão, seguindo os passos da suposta Edith Farraday. Ao chegar, deteve-se nas sombras para que não o vissem e dedicou-se a olhar para o objeto do seu desejo, que estava a conversar com Khalid.
Os seus olhares encontraram-se ao fim de uns segundos e ele soube que tinha descoberto a sua identidade porque os seus olhos brilhavam com fúria.
Longe de incomodar-se, Omar admirou o seu sinuoso corpo com redobrado interesse. As suas últimas relações amorosas tinham sido de carácter estritamente sexual; mas quase sempre com mulheres ambiciosas e frias que não o satisfaziam plenamente. Não se pareciam nada com Ferida al Abayyi, a morena de olhos negros que morrera antes de ele