– Grace disse-me que a deixaste com uma ama e que ela fugiu para tentar fazer-te feliz, já que, quando a vias, davas a impressão de estares infeliz.
Parecia que Bella cravara um punhal no coração de Luc ao dizer aquilo, mas isso não a deteve, já que via reflectido naquela menina todo o sofrimento pelo qual ela e as suas irmãs tinham passado.
– Arrancaste esta pobre menina à sua mãe para depois a abandonares e só quiseste ficar com ela depois de fugir. E convenceste-a de que a sua mãe não a queria!
Luc esboçou uma expressão dura. Tinha a dor reflectida na cara, mas disfarçou-a.
– A mãe de Grace não a quis. A minha filha nunca deveria ter sabido disso, mas a ama que teve em Itália contou-lhe.
– E o resto? – conseguiu perguntar Bella, com muita dificuldade.
– Qual é o motivo desta repentina consciência social, Arabella? Quando partiste do meu lado em Milão, para ires para a cama com o organizador do espectáculo, este tipo de coisas não te preocupavam. Decidiste que ele era um partido melhor, ele convinha-te mais para a tua carreira, portanto deixaste o pobre tolo da «Família dos Diamantes» e seguiste em frente.
– Do que estás a falar? – perguntou ela, empalidecendo.
Ninguém sabia nada daquele episódio horrível que acontecera no quarto do organizador do espectáculo, mas estava claro que Luc sabia e que tirara as suas próprias conclusões.
– Vi-te sair do seu quarto naquela noite, corada e despenteada. Era óbvio o que tinha acontecido.
Mas o que, na realidade, acontecera fora uma discussão para preservar a sua inocência e indignou Bella que ele pudesse pensar uma coisa tão horrível dela.
– O organizador levou-me para o seu quarto, dizendo-me que havia uma festa. Noutras circunstâncias, não teria ido, mas estava triste e não queria estar sozinha. Pensei que todas as modelos estariam ali.
– O que estás a dizer? – perguntou Luc, desconfiado.
– Ouviste-me – disse Bella, certa de não conseguir convencê-lo. Na verdade, não tinha de o convencer de nada.
– Então, porque tinhas aquele aspecto? – perguntou ele, empalidecendo e apercebendo-se do que acontecera. – Tentou fazer-te mal? Dio!
– Sim – respondeu Bella, que odiava falar sobre aquilo. – Consegui fugir, mas não sem ter de lutar.
Luc parecia perdido, impressionado.
– Lamento – murmurou. – Isto muda tudo o que pensei de ti naquela noite.
– Acho que, agora que sei o que andaste a pensar de mim durante este tempo todo, talvez deva devolver-te o favor – parou para respirar fundo. – Perguntava-me se a tua filha estaria marcada pelo teu abandono. Agora, sei a resposta. O que fizeste é imperdoável. Se antes pensava que tinha razões para não gostar de ti, agora…
– Grace é um assunto meu – disse Luc, aproximando-se dela. – Um assunto meu, Arabella, não teu. Talvez tenha ficado impressionado com a tua revelação, mas…
– E quanto tempo vais ficar com ela, até te cansares dela e a deixares outra vez? Há departamentos governamentais que garantem a segurança das crianças – não conseguiu evitar dizer.
– Se fosse a ti, parava já! – avisou Luc, enfurecido. – Parava agora mesmo.
– A tua filha fugiu porque a fizeste muito infeliz. Nega-lo? – atreveu-se a prosseguir Bella.
– Agora está segura – disse Luc, sem negar nenhuma das acusações feitas por ela.
Mas Bella queria que ele se explicasse e que, de alguma forma, tentasse resolver aquilo.
– Grace é muito infeliz…
– Sim, e eu fi-la sentir-se assim – reconheceu Luc, com a fúria reflectida nos seus olhos escuros. – Mas tens de saber uma coisa. Eu amo a minha filha, não voltarei a magoá-la e matarei qualquer pessoa que tentar tirar-ma. Está claro, Arabella?
Confusa, zangada e ameaçada, Bella virou-se.
– Se o dizes a sério, tens de falar com a tua filha para a ajudares a acreditar que não vais voltar a abandoná-la.
– E tu, Arabella? O que achas de mim? – perguntou ele, como se não lhe importasse. Mas o brilho dos seus olhos dizia o contrário.
– Se conseguires amar a tua filha, fico contente. Sei que tenho de trabalhar contigo até vender vestidos suficientes para te convencer a deixares-me em paz. Mas, à parte disso, não quero pensar mais em ti, não quero ter-te em conta, nem aperceber-me de que existes.
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