— Uma disputa até a morte? — Ele preferia ver guerreiros bons e fortes lutando até a morte pelo direito de ser Prime do que ponderar no seu próprio filho? Simplesmente por esse filho ter alguns transplantes biotecnológicos da Colmeia na sua pele?
— Que viva o guerreiro mais forte.
Se eu conseguisse atravessar a tela e pudesse dar um soco na cara dele, eu o teria feito. — Prefere ver os nossos melhores guerreiros morrer?
Eu pensava que o homem era desinteressado. Sem sentimentos, pelo menos no que dizia respeito a mim. Percebi que isso se estendia a todo mundo. Ele preferia ver homens fortes lutando desnecessariamente, morrendo desnecessariamente, tudo porque ele era… Um. Maldito. Homem cruel.
— Não há um herdeiro. Esta é a nossa maneira de fazer as coisas.
Há mais de duzentos anos que não havia uma Disputa até a Morte, desde que o nosso antecessor venceu uma e tomou posse do trono. — Eu sou forte, pai, a minha mente está intacta. Não é necessário sacrificar os nossos guerreiros mais fortes…
Eu tinha que, no mínimo, apelar ao homem para que poupasse a vida dos outros. Os nossos guerreiros mais fortes se levantariam para tentar tomar posse, e morreriam, desnecessariamente, quando deveriam estar nas fronteiras, lutando contra a Colmeia.
— Você está contaminado.
— Eu tenho conhecimentos acerca dos sistemas da Colmeia, acerca das estratégias deles. Seria tolo da tua parte banir-me para as colônias. Eu deveria estar com os grupos de combate nas fronteiras, onde eu posso…
Ele cortou-me a fala novamente: — Você não é ninguém, é um contaminado. Colmeia. Estás morto para mim.
Eu teria continuado a discutir, mas a comunicação foi cortada do lado dele.
Idiota. Há anos que eu, todos os dias, fiquei balançado, como um pêndulo, entre a necessidade de impressionar aquele idiota e a vontade de o matar.
— Eu deveria tê-lo matado. — murmurei para mim mesmo.
Olhei para a tela vazia durante vários minutos. Eu tinha sido descartado, e sabia que nunca mais falaria com o meu pai. Eu não me sentia triste. Não mais. Talvez o fato de os ciborgues me terem colocado implantes até tenha tido alguma coisa boa. Eu sabia em que pé estava com o meu pai e ele não merecia nem mais um minuto do meu tempo ou dos meus pensamentos.
Não. O pensamento que rodopiava minha mente num temporal crescente angustiava-me muito mais. Ele tinha rejeitado a minha noiva. A minha parceira. Uma fêmea lindíssima da Terra como Hannah Johnson, do Comandante Deston. As minhas esperanças se tinham elevado relativamente àquele emparelhamento, eu esperava por uma fêmea com curvas e suave daquele planeta. Hannah era pequena, mas tão forte e tão apaixonada pelos seus parceiros, pelos dois, que ela tinha implorado para que eles a tomassem na cerimônia de reivindicação.
Os meus implantes da Colmeia tinham me dado uma vantagem naquele dia, um segredo que eu não tinha partilhado com ninguém. Eu tinha a gravação completa da cerimônia deles no meu sistema. Eu repassava-a várias vezes na minha mente, vendo vezes e vezes sem conta a forma como a mulher humana gostava de ser tocada, a forma como ela arqueava as suas costas, os sons que ela fazia enquanto os seus parceiros a beijavam, tocavam e fodiam. Eu desejei aquilo para mim. Eu quis tanto uma parceira assim que repassei aquela gravação até ela ficar gravada na minha alma. Apreendida. Até eu ter memorizado cada pedacinho da foda cerimonial deles.
Eu faria a minha parceira gritar, como eles tinham feito. Eu a faria estremecer e implorar para que o meu pau a preenchesse.
Testemunhar a cerimônia foi uma honra que não me foi negada pelo meu primo, o Comandante Deston. Eu tinha visto a forma como tanto ele, quanto o seu segundo, Dare, foderam Hannah, como se fossem dois homens selvagens. A sua noiva humana amou o cuidado deles, implorou por mais, olhou para os seus guerreiros como se eles fossem o ar que ela respira, o bater do seu coração.
Lembrei-me da outra cerimônia que testemunhei, esta durante o exame do centro de processamento. Foi o sonho que me emparelhou com a minha parceira. Os homens desse sonho tinham sido exigentes, dominadores e devotos. Visto que a minha parceira tinha sido emparelhada comigo através do mesmo sonho, eu sabia o que ela precisaria que eu fizesse. E que o meu segundo fizesse.
Eu queria aquele tipo de ligação que tinha visto em ambas as cerimônias, e eu a teria.
Eu tinha uma parceira emparelhada comigo. Uma mulher que tinha passado pelo processamento e tinha sido emparelhada comigo. Que tinha sido emparelhada naquela maldita cerimônia excitante de emparelhamento. O emparelhamento do Programa Interestelar de Noivas era quase cem por cento perfeito. Aquilo não deixava dúvidas quanto ao fato de aquela mulher ser a certa para mim. Eu não tinha um segundo, nem um trono e nem um futuro, mas nada daquilo importava. A única coisa – a única pessoa – que importava para mim era essa mulher na Terra, que era a minha parceira. O meu pai lhe tinha negado o transporte. Aquilo não anulava o emparelhamento, a ligação que partilhávamos. O que só me fazia desejá-la ainda mais. Eu não seria impedido de possuí-la. Tinha que me perguntar sobre o que ela pensou sobre mim quando foi rejeitada. A dor deve ter sido semelhante à raiva que ardia dentro de mim ao ouvir sobre a intromissão do meu pai.
Eu não lhe negaria o direito a ter um parceiro, a ter o parceiro que foi emparelhado com ela, só por causa do idiota do meu pai. Ela não seria uma vítima das manobras dele.
Ela era inocente.
Ela era minha.
Se o centro de processamento não iria permitir o transporte, eu teria simplesmente de ir até a Terra e tomá-la.
3
Príncipe Nial, Nave de Combate Deston, Sala de Transporte
Caminhei pelos corredores da nave de combate como se fosse um monstro. Guerreiros experientes desviavam o olhar, incapazes de suportar olhar para a minha pele prateada. Eu duvidava que fosse por minha causa, mas pelo que poderia acontecer com eles. Eu não me importava. Dentro de algumas horas eu estaria na Terra, com a minha noiva nos meus braços. Esta era uma missão que não iria falhar.
Assim que a minha parceira estivesse em segurança, eu encontraria um guerreiro que estivesse disposto a partilhá-la comigo, nomearia um segundo parceiro para protegê-la, depois, pensaria numa forma de reivindicar o meu trono. Enquanto eu caminhava, a raiva se acumulava dentro de mim. O meu pai era um tolo, e eu tinha passado vários anos seguindo cegamente as suas ordens. Agora, estava na hora de tomar o trono dele, até mesmo à força se fosse necessário. As táticas dele na guerra contra a Colmeia eram ineficazes e fracas e eu era a prova disso. Se não fosse pela liderança excepcional da frota de combate por parte do Comandante Deston, nós já estaríamos perdidos.
A sala de transporte estava quase cheia. O Comandante Deston, sua parceira Hannah e o seu segundo, Dare, estavam ao pé da plataforma de transporte. Vi dois guerreiros que eu não reconheci trabalhando na estação de controle, inserindo coordenadas para a minha transferência até o centro de processamento da Terra, onde há alguns dias a minha parceira tinha sido rejeitada. Rejeitada! A minha raiva só aumentava ao pensar na forma como ela foi rejeitada.
Dois guerreiros enormes estavam diante da porta guardando-a. Ao vê-los, eu apercebi-me do quanto o meu primo se arriscava por mim. Nem todos a bordo da nave estavam contentes por saber que um guerreiro contaminado caminhava entre eles, quer ele fosse um príncipe ou não.
— Comandante. — Eu agarrei o antebraço do meu primo numa saudação antiga, incapaz de expressar por palavras o que esta oportunidade significava para mim. Ao enviar-me para a Terra para procurar por minha noiva, ele estava desafiando tanto o meu pai, quanto todo o conselho planetário. Mostrava que ele tinha pouca consideração pelo meu pai e uma enorme confiança no sistema de emparelhamento.
Eu