Na quinta-feira à noite, depois de dois dias na frente da televisão, ele tinha assistido todos os filmes de que ouvira falar e mais alguns. Mesmo vendo o drama acontecer, muita coisa não fazia sentido, mas se Ted Douglas tivesse passado seus anos de formação absorto com Hamlet e Macbeth, era fácil ver de onde um interesse pelo oculto poderia ter vindo.
Bêbado com vinho tinto barato, Slim cochilou nas cenas finais de Romeu e Julieta, e acordou quando seu telefone tocou, se deparando com os dois amantes mortos e os créditos rolando.
Ele não foi rápido o suficiente para atender a chamada, e a pessoa não deixou nenhuma mensagem. Ao verificar o número, ele percebeu que não era conhecido, e quando ligou de volta não teve resposta. Provavelmente era de Skype ou algum provedor digital parecido.
Ele sentou-se na cadeira, pensando em como proceder. Arthur era sua melhor pista; o chefe falastrão da polícia teria mais a dizer e o know-how para fornecer detalhes internos a Slim.
Mas aonde isso ia dar? Contratado para investigar a possível infidelidade de um rico banqueiro de investimentos, ele encontrava-se remexendo detalhes de um caso antigo, além de vários outros em torno deste.
Ele não estava sendo pago para isso. Era melhor esquecer. Ele tinha aluguel para pagar. Ele não podia arcar com uma tangente tão cara.
No entanto, a mesma compulsão que o fizera se alistar a tantos anos atrás, agora o impulsionava novamente. A necessidade de aventura, de exotismo; era inegável.
12
Sexta-feira de manhã, ele acordou com uma ressaca pior do que qualquer uma que ele se lembrava nas últimas semanas, olhou para o par de garrafas de vinho vazias na lixeira e, em seguida, tentou persuadir-se de volta à sobriedade com um café da manhã em uma birosca na esquina de sua rua.
Ted estaria na praia de novo esta tarde, mas haveria motivo para ir vê-lo? Era o mesmo ritual toda vez. De qualquer jeito, Emma o havia dispensado. Ele estava de tocaia por nada.
Ele estava voltando para casa quando seu celular tocou. Era Kay Skelton, seu amigo tradutor.
"Slim? Tentei te ligar ontem à noite. Podemos nos encontrar?"
"Agora?"
"Se possível."
A urgência na voz de Kay convenceu Slim. Ele deu a Kay o nome de um bar a algumas ruas de onde estava. Estaria aberto quando ele chegasse lá.
Vinte minutos depois, ele encontrou um barman abrindo as portas e ligando as luzes. Ele lutou contra a vontade de começar cedo, optando por um café, que ele levou para um canto escuro e sentou-se em uma cabine para esperar por Kay.
O tradutor apareceu meia hora depois. Slim estava em seu terceiro café, e a fileira de uísques atrás do bar estava ameaçando quebrar suas defesas.
Slim não via Kay cara a cara desde a época do exército. O especialista em linguística, que agora trabalhava em um emprego fácil de tradução de documentos estrangeiros para um escritório de advocacia, havia amolecido e ganhado peso. Parecia que ele comia bem demais e não bebia o suficiente.
Slim ainda era o único cliente, então Kay o achou imediatamente. Ele chamou o garçom para pedir um conhaque duplo e depois entrou no assento em frente.
Eles apertaram as mãos. Ambos mentiram sobre como o outro parecia bem. Kay ofereceu a Slim uma bebida que Slim recusou. Então, com um suspiro, como se aquilo fosse a última coisa que ele quisesse fazer, Kay tirou um arquivo da bolsa que ele tinha trazido e colocou-o sobre a mesa.
"Eu cometi um erro," disse ele.
"O quê?"
"Essa é a transcrição. Eu verifiquei duas vezes a tradução, e embora eu tenha acertado o significado, eu cometi um erro em uma pequena seção."
Kay tirou uma folha de papel do arquivo. Um círculo vermelho destacava uma seção de texto desleixado e escrito à mão que Slim assumiu ser latim.
"Esta seção. Seu homem está dizendo a algo para voltar, que precisa voltar para casa. Só que ele não está." Kay apontou para uma palavra que estava tão ilegível que Slim nem tentou ler. "Aqui. Não é "venha", e sim "volte"."
"Voltar?"
Kay acenou com a cabeça. "Seja o que for que seu cara está com medo, já está aqui."
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