Comentários como aquele só mostravam o quanto as aparências podiam enganar. Teve tantos “pais” diferentes enquanto crescia que não poderia reconhecer um de verdade caso o visse. Lyoness com frequência se via “apaixonada” pelo primeiro homem que prestava atenção nela. Sabia que a mãe não tinha sentimentos por aqueles homens. Eles só cumpriam o papel de ajudar a acabar com a sua solidão. Então quando tudo dava errado, ela pegava Amethyst e se mudava para pastos mais verdes. Infelizmente, os pastos nunca eram mais verdes. Por fim, Amethyst acabou por não ter raízes e por não pertencer a lugar nenhum.
– Hum, é, minha mãe é linda. – Não era mentira. A mãe era maravilhosa e poderia ter sido uma modelo se tivesse optado por aquela carreira. Em vez disso, ela preferia ser mimada e procurar por homens ricos que a sustentassem.
– Tenho certeza que sim – ele respondeu mantendo a voz descontraída. – Certo, vamos fazer o seu check-in. – Ele pressionou algumas teclas no computador que estava de frente para ele. Ele ergueu o olhar e perguntou: – Preciso perguntar, você tem algum apelido? Amethyst é bastante complicado de dizer.
– Não. Sempre fui Amethyst. – Talvez devesse ter um apelido, mas aquilo significaria ter amigos que poderiam usá-lo. Mudar-se muito não ajudava nesse aspecto. Depois de um tempo, ela parou de tentar fazer amizades e se retraiu. Aquela era parte da razão para ela ter começado a revista tão cedo. Ela não fazia o que crianças normais faziam e a revista a ajudou a esquecer o quanto sua vida era solitária.
Ele sorriu e então deu uma piscadinha para ela enquanto pressionava mais algumas teclas.
– Teremos que remediar isso enquanto você está nos visitando. – Ele franziu as sobrancelhas enquanto observava a tela. – Ah, aqui está. Estou vendo que você ficará conosco por muitas semanas. Se ficar sem ter o que fazer, venha me ver.
Amethyst arregalou os olhos ao ouvir aquelas palavras. Ele tinha acabado de lhe fazer uma proposta? Ninguém nunca tinha paquerado com ela daquela forma. A tentativa de flerte dela tinha parecido e estranha e desajeitada. Ela queria mesmo ver para onde aquilo podia levar? Não podia se lembrar da última vez em que esteve tão atraída por um cara. Ele era quase lindo demais, doía olhar para ele. Depois de vários minutos de silêncio, ele começou a divagar trazendo-a de volta para o presente.
– Quero dizer, vivi aqui a vida toda e talvez eu saiba mais sobre as atrações locais do que o conteúdo que você pode encontrar na internet. Deus, eu estou estragando tudo. Eu sou o Cooper e eu adoraria passar um tempo com você enquanto estiver aqui.
Que fofo ele pensar que precisava se explicar. Amethyst tinha gostado dele logo de cara e pensou que gostaria de conhecê-lo melhor. Ela sorriu para ele, tranquilizadora.
– É um prazer conhecê-lo, Cooper. – Ela era uma vergonha… – Eu sou a Amethyst, mas você já sabe disso. – O que mais ela poderia fazer para parecer ainda mais tapada? – Você pode me entregar a chave do quarto?
Ele a estava segurando com força na palma da mão. Se seu palpite estivesse certo, Cooper não queria muito largá-la. Ele olhou para a mão e murmurou com a perplexidade preenchendo a própria voz:
– Ah, sim, isso seria bom. Você está no quarto treze. Fica lá em cima, no final do corredor. – Ele entregou a chave e apontou para as escadas vazadas perto da recepção.
– Obrigada – ela respondeu enquanto ele lhe entregava a chave.
– Aproveite a estada. – Um olhar desapontado escureceu os olhos dele.
Tanto quanto ela quisesse conhecê-lo melhor, não queria passar uma impressão errada. Ela não se agarrava à oportunidade de estar com alguém. Ela se respeitava demais para ficar de paixonite pelo primeiro rosto bonito que acendesse qualquer coisa dentro dela. Amethyst Keane não bancaria a fácil e se decidisse ter alguma coisa com ele… a decisão seria tomada com muito cuidado. Ele era legal e ela precisaria da ajuda dele mais para frente, então deu a ele um pouco de esperança.
– Talvez eu aceite a sua oferta.
– Oh? – As sobrancelhas dele se ergueram de curiosidade.
– Voltarei depois que tiver descansado um pouco. – Com aquelas palavras, ela deu meia-volta e o deixou para trás.
Amethyst parou e olhou ao redor do cômodo. Ela notou a decoração artística do salão principal. Um sofá pequeno e duas poltronas flanqueavam uma mesinha na frente da lareira de cornija de mármore. O mármore ao longo da coluna da lareira exibia entalhes detalhados. Ela queria passar os dedos por eles e estudar cada faceta, mas ficaria para outra hora. Havia coisas mais importantes para fazer antes de ceder a caprichos aleatórios. Virando-se, voltou toda a atenção para Cooper e sorriu para ele antes de seguir para a escadaria. Ao chegar lá, ela se virou e o encontrou encarando-a mais uma vez.
É, camarada, eu também não consigo para de olhar para você.
Ela deu um sorriso rápido e então disse:
– Esqueci de perguntar. Há algum bom restaurante por aqui?
Um sorriso enorme se formou no rosto dele, foi como se ele tivesse ganhado o maior prêmio da vida. O charme de Cooper se acendeu em um sorriso de um milhão de watts. Amethyst inclinou a cabeça e pensou mais uma vez no quanto queria conhecê-lo melhor.
– Só há dois restaurantes na cidade. Você deve ter passado por eles quando chegou. Há um italiano pequeno que serve uma pizza muito boa e também macarrão. O nome é Giovanni’s. Se quiser algo mais tradicional como um hambúrguer, então sugiro que vá ao North Point Café.
Humm, bem, aquilo é bem mais do que pensou que encontraria. Ela assentiu para ele e disse:
– Obrigada.
O rosto de Cooper ficou desanimado quando não o convidou para se juntar a ela.
– Não há de quê.
Ele deve ter presumido que ela o convidaria. Talvez outro dia, mas hoje ela não queria mais companhia. Precisa de tempo para pensar em tudo e traçar um plano. Ela se virou para as escadas e as subiu. A cada passo que dava, mais se aproximava do quarto que seria o seu lar pelas próximas semanas. Até agora, essas férias estavam no topo da lista dos melhores lugares que já visitou. Só esperava que ele satisfizesse todas as suas expectativas.
CAPÍTULO DOIS
Amethyst subiu as escadas e seguiu para o quarto. Cooper não podia afastar o olhar mesmo se quisesse. Ele enviou um agradecimento silencioso ao seu anjo da guarda por tê-la trazido à pousada da sua família. Nunca uma mulher tão linda tinha posto os pés ali. O rosto familiar dela o tinha aturdido ao ponto de ele ficar sem palavras e precisou de cada grama de seu autocontrole para finalmente encontrá-las. Quando ergueu os olhos da primeira vez e a viu, pensou que talvez a tivesse imaginado. Ela tinha gloriosos cachos da cor da meia-noite que se espalhavam na altura dos ombros. Os penetrantes olhos verdes o mantiveram cativo por breves segundos. Olhar para ela o fez imaginar se a pousada era mesmo assombrada conforme ditava a tradição local.
Levou vários segundos para se lembrar de como falar. Ficou em êxtase ao perceber que ela estava mesmo na frente dele e que ela era uma mulher de verdade, e não um fruto da sua imaginação. Ela se parecia muito com alguém que todo mundo acreditava que tinha morrido muito anos atrás. Amethyst Keane era um enigma e ele tinha a intenção de desvendar todos os segredos dela. Sorte sua ela estar ficando na cidade por algumas semanas. Isso lhe daria o tempo que precisava para descobrir tudo sobre ela.
A porta da pousada se abriu repentinamente. Cooper olhou para cima enquanto seu melhor amigo, Benjamin Anderson entrava. Os dois eram moradores locais que viveram em North Point todos os vinte e um anos de suas vidas. Cada um deles herdou uma parte dos negócios de suas respectivas famílias. Eles não tinham ido para a faculdade. As famílias tinham expectativas que não requeriam aquela despesa extra. Ainda assim, Cooper estava fazendo algumas aulas online. Como ele poderia esperar administrar uma pousada sem qualquer conhecimento relevante sobre como mantê-la aberta e gerando lucro? A família confiava demais nele