Capítulo Quatro
Pedras Dos Tempos Passados
“O que vocês, meninas, vão fazer hoje?”
Eriqwyn abafou um suspiro e colocou o resto do seu caldo na boca para evitar dar uma resposta irreverente para sua mãe.
No outro lado da mesa, sua irmã trocou um olhar com Eriqwyn. “Espero que seja um dia como qualquer outro,” Adri disse. “Estamos felizes em ter você se juntando a nós para o café da manhã, Mãe. Você dormiu bem?”
A mãe delas deu a Adri o mais breve dos acenos de cabeça, em seguida seus olhos ficaram vidrados e ela olhou para sua comida.
“De volta ao seu próprio mundo,” Eriqwyn murmurou.
Adri pigarreou. Como os jovens caçadores estão se saindo com o treinamento?”
“A maioria está demonstrando ser promissor, mas eles ainda têm um longo caminho a percorrer e não serão caçadores até que eu os aceite como tal.”
Adri lançou um olhar inexpressivo para ela. “Isso, irmã, é um entendimento que não plana acima de mim como líder desta comunidade.”
Eriqwyn inclinou a cabeça em deferência. “É claro. Mas me diga uma coisa, Adri. Como Primeira Guardiã, aceitar os aprendizes é minha responsabilidade, mas por que, na charneca verde da deusa, você insistiu em apresentar Demelza?”
“Ah, sim. Demelza.” Adri deu um sorriso tenso. “Sua antipatia pela garota é bastante evidente e sei que do contrário você não a teria aceitado. Admito que há algo sobre ela que também me preocupa, mas ela é inofensiva e acredito que ela tem potencial.”
“Você e Wayland veem algo nela que eu não,” Eriqwyn disse. “Seu progresso é lento e sua atenção é quase inexistente.”
Adri colocou a colher na tigela vazia. “Isso não significa que ela não possa aprender. Ela mora sozinha, Eri. Ela provou ser autossuficiente desde que a velha Ina morreu. Eu a vi retornar para a vila com coelhos, faisões, cestas de caranguejos. Uma vez eu a vi arrastando um nargute adulto até seu barracão.”
“Bem, não sei como ela conseguiu pegá-los sem redes ou armadilhas ou uma flecha bem direcionada. Do que ela parece ser capaz não combina com suas habilidades observadas. Não acredito que ela tenha o que é preciso.” Eriqwyn deu de ombro. “Não importa. Wayland está responsável pela garota. Se alguém pode transformá-la em uma caçadora, é ele. Ele gosta de Demelza e sua paciência é ímpar.”
“Wayland é um Guardião forte. Assim como Linisa.” Adri levantou-se da sua cadeira e esticou o braço sobre a mesa para pegar a tigela de Eriqwyn. “Vocês três podem ser a equipe mais capaz de Guardiões que esta vila já conheceu. Minnow’s Beck está realmente bem protegida.”
“É bom você dizer isso, irmã.” Mas protegida contra o quê? Quando Adri deixou a sala, Eriqwyn se levantou do seu assento e olhou para a mãe delas. “Vou sair para colher flores agora, Mamãe,” ela disse, odiando-se um pouco por saber que suas palavras foram ditas com menos gentileza e mais com zombaria.
Sua mãe olhou para cima e encontrou seu olhar. Apesar do passar dos anos trancada dentro das suas lembranças, só por um momento seus olhos mostraram o fantasma da mulher que ela tinha sido outrora. “Tudo bem, querida,” ela disse, com um leve sorriso. “Divirta-se.”
Diversão. Eriqwyn ponderou a palavra enquanto saía da sala. Como se vida ainda fosse sobre pular corda e colher flores. Eu cresci, Mãe. Assim como Adri. Mal nos lembramos mais do que é diversão.
Um murmúrio de vozes flutuou das portas abertas enquanto Eriqwyn caminhava pela Fileira dos Santuários Caídos, seu arco sem corda na mão. Calor e o cheiro de aço enchiam o ar quando ela passou pela frente aberta do ferreiro. Tan, o mais novo dos dois ferreiros, desviou o olhar do seu trabalho e levantou uma mão em saudação. Sem interromper o passo, Eriqwyn reconheceu o gesto com um breve aceno de cabeça e continuou seguindo pela rua.
Quando alcançou a extremidade sul da vila, uma figura saiu de trás da última casa. Eriqwyn cerrou os dentes quando reconheceu Shade. O cabelo escuro e brilhante da mulher caía sobre seus ombros e o material transparente da saia comprida e faixas que cruzavam sobre seus seios se agarravam a sua figura na brisa quente.
Shade parou ao lado de uma viga de madeira e levantou a mão para acariciar a madeira lisa. “Olá, Eri,” ela ronronou. Seus olhos castanhos brilhavam ao sol da manhã.
Eriqwyn fez um movimento para passar por ela, mas parou quando Shade tocou seu ombro. “O que você quer?” Eriqwyn disse bruscamente.
Shade sorriu. “Tanta hostilidade. Você sabe que eu gosto disso em uma mulher. Faz um tempo que eu não te vejo, Eri. Você tem se escondido de mim?”
“Não preciso me esconder de você,” Eriqwyn disse acidamente. “E não me chame de Eri. Você e eu não somos próximas.”
“É uma grande pena.” A voz de Shade exalava sensualidade tanto quanto sua aparência. “Então como você quer que eu te chame? Primeira Guardiã?”
“Isso seria aceitável.”
“Tantas formalidades,” Shade repreendeu. “Pensei que estávamos muito além disso. Com os lugares que você e eu estivemos, eu diria que estamos mais … intimamente ligadas do que a maioria em Minnow’s Beck.” Seus olhos percorreram o corpo de Eriqwyn.
Eriqwyn olhou ao logo da rua para garantir que não houvesse bisbilhoteiros. “Não há nenhuma intimidade entre você e eu,” ela disse enfaticamente. “Se algum dia houve, foi há muito tempo. Eu te conheço pelo que você é, Shade. Você é uma pedra preciosa... bonita, mas fria.”
Shade aproximou-se mais um passo, parecendo deslizar pela curta distância entre elas. Seus dedos percorreram o ombro nu de Eriqwyn até o braço. “Eu pareço fria?” Ela se aproximou ainda mais. “Ou eu pareço quente? Você se lembra daquele calor, Eri? Em algum momento, você deveria vir me visitar, eu lembraria a você quão agradável eu sou aos olhos e ao toque.”
Com um suspiro de frustração, Eriqwyn franziu o cenho e afastou a mão de Shade do seu braço. “Você vai se dirigir a mim com o respeito da minha posição.”
“Oh,” Shade ronronou com um sorriso irresistível, “mas eu respeito sua posição.” A ponta da sua língua serpenteou entre os dentes. “Cada uma delas.”
Eriqwyn abriu caminho e se afastou.
“Te vejo em breve!” Shade gritou atrás dela.
Dagra agarrou seu pingente Avato e sussurrou uma oração para a Díade e seus profetas enquanto se arrastava pela grama baixa, ainda úmida do aguaceiro do dia anterior. Para o oeste, uma cadeia de colinas varria ao longo do horizonte, a mais leve visão do oceano pairando sobre seus picos. Para o leste, bambus e capim se projetavam do pântano carregado de neblina como campanários de templos minúsculos, enquanto globos fantasmagóricos de fogo-de-fada flutuavam serenamente acima da mortalha branca.
Eles haviam seguido o pântano durante o resto do dia anterior e quando o pântano finalmente deu lugar a terras mais firmes ao sul, Jalis mandou parar para a noite e eles dormiram sob as estrelas. Desde o amanhecer eles mantiveram um ritmo constante, esperando que o vasto pântano finalmente acabasse para que eles pudessem se dirigir para o interior e voltar para a Estrada do Reino. À medida que a primeira hora da manhã se estendia para a segunda e terceira, Dagra sentia cada vez mais como se uma presença esmagadora preenchesse a charneca.
Não era o espaço aberto que o enervava nem o potencial de qualquer perigo físico; ele era um freeblade, afinal de contas e se as coisas ficassem muito difíceis, eles sempre poderiam voltar. O que o perturbava era a atmosfera ímpia que começou quando eles entraram nas Terras Mortas e que somente tinha piorado desde então. Ele mal podia sentir