Então Riley percebeu. Não se tratava de um palhaço de verdade. Era uma mulher normal vestida de palhaço. Duas mulheres tinha sido vestidas e maquilhadas desta forma bizarra, e assassinadas.
Crivaro acrescentou, “E foi aí que se tornou num caso do FBI e nós fomos chamados.”
“Exatamente,” Disse Dahl, olhando à sua volta para os destroços espalhados pelo campo. “Decorreu uma festa de carnaval aqui durante alguns dias. Saiu no sábado. É daí que vem todo este lixo – o campo ainda não foi limpo. Ontem à noite, um homem da vizinhança veio para aqui com um detetor de metais à procura de moedas. Encontrou o corpo que estava coberto por aquela lona na altura.”
Riley virou-se e viu que Crivaro a observava com atenção.
Estaria apenas a certificar-se de que ela não faria nada de errado?
Ou estaria ele a monitorizar as suas reações?
Riley perguntou, “Esta mulher foi identificada?”
Um dos polícias disse, “Ainda não.”
Crivaro acrescentou, “Estamos concentrados numa participação de pessoa desaparecida em particular. Ontem de manhã, uma fotógrafa profissional chamada Janet Davis foi dada como desaparecida. Tinha estado a tirar fotografias no Parque Lady Bird Johnson na noite anterior. A polícia pensa que poderá ser ela. O Agente McCune está com o marido neste momento. Talvez nos consiga ajudar a identificá-la.”
Riley ouviu o som de veículos a parar. Olhou e viu que um par de carrinhas de estações de televisão tinha estacionado.
“Raios,” Disse um dos polícias. “Tínhamos conseguido esconder a questão das vestes de palhaço em relação ao outro crime. Será que a devemos cobrir?”
Crivaro soltou um grunhido de aborrecimento ao ver uma equipa de notícias a sair de uma das carrinhas com uma câmara. A equipa apressou-se na direção do campo.
“É demasiado tarde para isso,” Disse ele. “Eles já viram a vítima.”
Quando outros veículos dos meios de comunicação social se aproximaram, Crivaro e o médico-legista mobilizaram os polícias para tentarem manter os jornalistas o mais longe possível da fita amarela.
Entretanto, Riley olhou para a vítima e questionou-se…
Como é que ela morreu?
Não podia perguntar a ninguém naquele momento. Todos estavam ocupados a lidar com os jornalistas que faziam perguntas de forma ruidosa.
Riley inclinou-se cuidadosamente sobre o cadáver, ao mesmo tempo que repetia para si…
Não toques em nada.
Riley viu que os olhos e boca da vítima estavam abertos. Já vira antes aquela mesma expressão de medo.
Lembrava-se demasiado bem do aspeto das suas duas amigas mortas em Lanton. Acima de tudo, lembrava-se da imensa quantidade de sangue no chão dos quartos quando encontrara os corpos.
Mas ali não havia sangue.
Viu o que parecia serem pequenos cortes no rosto e pescoço da mulher, discerníveis debaixo da maquilhagem branca.
Qual o significado daqueles cortes? Não eram suficientemente amplos para terem sido fatais.
Também reparou que a maquilhagem estava aplicada de um modo atabalhoado e estranho.
Ela não se pintou a si própria, Pensou.
Não, outra pessoa o havia feito, talvez contra a vontade da vítima.
Então Riley sentiu uma estranha mudança na sua consciência – algo que não sentia desde aqueles dias terríveis em Lanton.
Arrepiou-se ao perceber o significado daquela sensação.
Estava a ter acesso à mente do assassino.
Ele vestiu-a assim, Pensou.
Provavelmente vestiu-lhe o fato depois de morta, mas ainda estava consciente quando lhe pintara o rosto. A julgar pelos seus olhos abertos, tivera consciência do que lhe estava a acontecer.
E ele gostara disso, Pensou. Ele gostara do seu terror ao pintá-la.
Riley agora também compreendia o porquê daqueles pequenos cortes.
Ele provocou-a com uma faca.
Ele atormentou-a – fê-la pensar na forma como a ia matar.
Riley ergueu-se. Sentiu outra vaga de náusea acompanhada de uma tontura e quase caiu, mas alguém a agarrou pelo braço.
Virou-se e viu que Jake Crivaro a impedira de cair.
Olhava diretamente para os seus olhos. Riley sabia que ele compreendia exatamente o que ela acabara de experimentar.
Numa voz rouca e horrorizada, Riley disse-lhe…
“Ele pregou-lhe um susto de morte. Ela morreu de medo.”
Riley ouviu Dahl soltar um som de surpresa.
“Quem lhe disse isso?” Perguntou Dahl, caminhando na direção de Riley.
Crivaro respondeu-lhe, “Ninguém lhe disse. É verdade?”
Dahl encolheu ligeiramente os ombros.
“Talvez. Ou pelo menos algo semelhante se for como a outra vítima. A corrente sanguínea de Margo Birch estava cheia de anfetaminas, uma dose fatal que fez com que o coração colapsasse. Aquela pobre mulher deve ter vivido momentos de terror mesmo até ao suspiro final. Teremos que fazer exames de toxicologia nesta nova vítima, mas…”
Suspendeu o que ia dizer e então perguntou a Riley, “Como é que soube?”
Riley não fazia ideia do que dizer.
Crivaro disse, “É o que ela faz. É por isso que está aqui.”
Riley estremeceu perante aquelas palavras.
Será que isto é algo em que quero ser boa? Perguntou a si própria.
Pensou se não deveria afinal ter mesmo entregue aquela carta de demissão.
Talvez não devesse estar ali.
Talvez não devesse participar daquilo.
Tinha a certeza de uma coisa – Ryan ficaria horrorizado se soubesse onde ela se encontrava naquele momento e o que estava a fazer.
Crivaro perguntou a Dahl, “Seria muito complicado o assassino ter acesso a esta anfetamina em específico?”
“Infelizmente,” Respondeu o médico-legista, “seria fácil comprá-la na rua.”
O telefone de Crivaro tocou. Olhou para o visor. “É o Agente McCune. Tenho que atender.”
Crivaro afastou-se para atender a chamada. Dahl continuou a olhar para Riley como se ela fosse alguma espécie de aberração.
Talvez tenha razão, Pensou.
Entretanto, Riley conseguia ouvir algumas das perguntas que os jornalistas colocavam.
“É verdade que o assassinato de Margo Birch foi igual a este?”
“Margo Birch estava vestida e pintada da mesma forma?”
“Porque é que o assassino veste as suas vítimas como palhaços?”
“Trata-se de um assassino em série?”
“Haverá mais crimes semelhantes?”
Riley lembrou-se do que um dos polícias acabara de dizer…
“Tínhamos conseguido esconder a questão das vestes de palhaço em relação ao outro crime.”
Era óbvio que os rumores já circulavam ainda