Ele deu cuidadosamente um passo atrás.
O Sybold, suas mandíbulas enormes entreabertas, seus caninos gotejando saliva, devolveu o olhar com seus olhos amarelos. Em sua boca estava a ovelha perdida de Thor: balindo, pendurada de cabeça para baixo, a metade de seu corpo atravessada pelos caninos. Já quase morta. O Sybold parecia deleitar-se em matar, tomando seu tempo; parecia ter prazer em torturá-la.
Thor não pôde resistir aos gritos. A ovelha se retorcia indefesa e ele se sentia responsável.
O primeiro impulso de Thor foi dar a volta e correr, porém ele sabia que isso seria inútil. Essa besta poderia ultrapassar qualquer coisa. Correr iria apenas provocá-la. E ele não podia permitir que sua ovelha morresse assim.
Ele ficou congelado de medo e sabia que de algum modo tinha de entrar em ação.
Seus reflexos se apoderaram dele. Ele lentamente se inclinou e da bolsa dele, extraiu uma pedra, colocando-a em sua atiradeira. Com a mão trêmula a enrolou, deu um passo adiante e atirou.
A pedra navegou pelo ar e alcançou seu objetivo. Um tiro perfeito. Atingiu a ovelha em seu globo ocular, indo direto para seu cérebro.
A ovelha se desvaneceu. Morta. Thor tinha poupado o animal de seu sofrimento.
O Sybold olhava enfurecido porque Thor havia matado seu brinquedo. Ele lentamente abriu suas imensas mandíbulas e soltou a ovelha, que caiu com um baque no chão da floresta. Então o Sybold pôs seus olhos em Thor.
Ele rugiu, era um profundo e maligno som que procedia da sua barriga.
Quando se dirigiu para atacá-lo, Thor, com o coração batendo forte, colocou outra pedra em seu estilingue, retrocedeu e se preparou para disparar mais uma vez.
O Sybold irrompeu a correr, movendo-se mais rápido do que qualquer coisa Thor já tinha visto em sua vida. Thor deu um passo à frente e atirou a pedra, rogando para que ela acertasse, sabendo que não teria tempo de atirar outra antes que a fera o alcançasse.
A pedra atingiu o olho direito da fera, estraçalhando-o. Foi um tremendo lançamento, do tipo que deixaria um animal menor abatido.
Mas esse não era nenhum animal menor. A fera era imparável. Urrava pelo dano sofrido, Mas nunca sequer abrandou. Mesmo sem um olho, mesmo com a pedra alojada em seu cérebro, continuou a investir despreocupadamente contra Thor. Não havia nada que Thor pudesse fazer.
Um momento depois, a fera estava sobre ele. Acabou com suas enormes garras golpeando seu ombro.
Thor gritava. Era como se três facas estivessem cortando sua carne ao mesmo tempo, o sangue quente jorrava dela imediatamente.
A besta o derrubou no chão, apoiando suas quatro patas sobre ele. Seu peso era imenso, era como ter um elefante sobre seu peito. Thor sentia que sua caixa torácica se esmagaria.
A besta jogou sua cabeça para trás, abriu bem as mandíbulas enormes, exibindo seus caninos e começou a baixá-los em direção à garganta de Thor.
Quando ela fez isso, Thor estendeu a mão e agarrou seu pescoço; era como agarrar um sólido músculo. Thor mal podia aguentar. Seus braços começaram a tremer quando as presas desceram ainda mais. Ele sentiu o hálito quente da fera em sua cara. Sentiu a saliva gotejando pelo seu pescoço. Um barulho veio de dentro do peito do animal, queimando as orelhas do Thor. Ele sabia que morreria.
Thor fechou os olhos.
Por favor, Deus. Dá-me forças. Permite-me lutar contra esta criatura. Por favor. Eu te imploro. Eu farei qualquer coisa que me pedires. Eu estarei sempre em dívida.
E então algo aconteceu. Thor sentiu um calor tremendo brotar de dentro de seu corpo, correndo em suas veias como um campo de energia fluindo através dele. Ele abriu os olhos e viu algo que o surpreendeu: das palmas de suas mãos emanava uma luz amarela e com elas ele empurrou para trás a garganta da fera, inacreditavelmente, ele foi capaz de igualar sua força e mantê-la à margem. Thor continuou a empurrar até que ele na verdade estava empurrando a fera para trás. Sua força crescia e ele sentiu a energia disparar como uma bala de canhão – instantes mais tarde, a besta saiu voando para trás, Thor, tinha enviado-a a uma distância de uns trinta metros. Ela caiu de costas.
Thor sentou-se, ainda não compreendia o que tinha acontecido…
A besta recuperou-se e ficou de pé. Então, em um acesso de ira, arremeteu novamente – Mas dessa vez, Thor se sentia diferente. A energia fluía através dele; sentiu-se mais poderoso do que ele jamais tinha sido.
Quando a fera saltou no ar, Thor agachou-se, agarrou-a pela barriga e jogou-a pelos ares, deixando seu próprio ímpeto propulsá-la.
A fera voou através do bosque, colidiu com uma árvore e desabou no chão.
Thor olhava, espantado. Ele tinha acabado de arremessar um Sybold?
A fera piscou duas vezes, então olhou para Thor, levantou-se e investiu novamente.
Dessa vez, quando a besta atacou, Thor agarrou-a pela garganta. Ambos caíram no chão, a besta em cima de Thor. Mas Thor rolou e ficou em cima dela. Thor a sujeitou, esganando-a com ambas as mãos; a besta continuou tentando levantar a cabeça e cravar suas presas nele. Mas falhou. Thor, sentindo uma nova força, aferrou suas mãos e não a deixou livrar-se. Ele deixou o curso de energia seguir através dele. E logo, surpreendentemente, ele sentiu-se mais forte do que a fera.
Ele estava estrangulando o Sybold até a morte. Finalmente, a besta se extinguiu.
Thor não a largou antes que passasse mais um minuto.
Ele levantou-se lentamente, sem fôlego, olhando para baixo, olhos arregalados, sustentando seu braço ferido. O que havia acabado de acontecer? Teria ele, Thor, realmente matado um Sybold?
Ele sentiu que era um sinal, desse dia e de todos os dias vindouros. Ele sentiu que algo memorável tinha acontecido. Ele tinha acabado de matar a fera mais famosa e temível de seu Reino. Sozinho. Desarmado. Não parecia verdade. Ninguém iria acreditar nele.
Ele sentiu o mundo girar enquanto se perguntava que classe de poder havia tomado conta dele, o que isso significava; quem ele realmente era… As únicas pessoas conhecidas que possuíam um poder assim eram os Druidas. Mas seu pai e sua mãe não eram Druidas, Então ele não poderia ser um.
Ou poderia?
Sentindo a presença de alguém atrás dele, Thor virou-se e viu Argon ali parado, olhando para o animal. “Como chegou aqui?”Thor perguntou, espantado…
Argon ignorou-o.
“Você presenciou o que aconteceu?” Thor perguntou ainda descrente. “Eu não sei como consegui fazer isso.”
“Mas você sabe.” Argon respondeu. “Bem no fundo, você sabe. Você é diferente dos outros.”
“Foi como… uma onda de energia.” Disse Thor. “Como uma força que eu não sabia que tinha.”
“O campo de energia.” Disse Argon. “Um dia você irá conhecê-lo muito bem. Você até mesmo poderá aprender a controlá-lo.”
Thor apertou o ombro; a dor era insuportável… Ele olhou para baixo e viu sua mão, coberta de sangue. Ele se sentia um pouco tonto, preocupado com o que aconteceria se ele não conseguisse ajuda.
Argon deu três passos para frente, estendeu a mão, agarrou a mão livre de Thor e colocou-a firmemente na ferida. Ele a manteve ali, inclinou-se para trás e fechou os olhos.
Thor sentiu uma cálida sensação percorrer seu braço. Dentro de segundos, o sangue pegajoso da sua mão se secou e ele sentiu que sua dor começava a desaparecer.
Ele olhou para baixo e não compreendia isso: ele estava curado… Tudo o que restava eram três cicatrizes no lugar que havia sido cortado pelas garras – mas elas estavam fechadas e parecia que já tinham muitos dias. Não havia mais sangue.
Thor olhou para Argon com total