“Deixe-me ajudar.” Elden disse dando um passo à frente.
Com sua enorme massa muscular Elden se elevava sobre eles, ele estendeu a mão e puxou a corrente, conseguindo levantar a bola de ferro no ar, sozinho. Thor estava espantado. Os outros se uniram a ele e todos eles puxavam juntos a âncora, trinta centímetros de cada vez até que finalmente conseguiram subi-la por cima da varanda, para o convés.
O barco começou a se mover, balançando um pouco nas ondas, mas permanecia atascado na areia.
“As varas!” Reece disse.
Thor se virou e viu duas varas de madeira, de cerca de seis metros de comprimento cada, colocadas ao longo dos lados do barco e então ele percebeu para que elas serviam. Ele e Reece correram até elas, ele pegou uma, enquanto Conval e Conven agarraram a outra.
“Quando nos soltarmos.” Thor exclamou. “… Vocês deverão levantar as velas!”
Eles se inclinaram, meteram as varas na areia e empurraram com todas as forças; Thor gemia com o esforço. Aos poucos, o barco começou a se mover, mas apenas um pouquinho. Enquanto isso, Elden e O’Connor correram para o meio do barco e puxaram as cordas para levantar as velas de lona, eles levantavam as velas com esforço, uns trinta centímetros a cada movimento. Felizmente havia uma brisa forte e enquanto Thor e os outros empurravam cada vez mais aquele barco surpreendentemente pesado para fora da areia, as velas se içavam cada vez mais alto e começaram a inflar-se com o vento.
Finalmente, o barco balançou abaixo deles e deslizou para a água, flutuando, leve. Os ombros de Thor tremiam com o esforço. Elden e O’Connor levantaram as velas a todo mastro e logo estavam singrando o mar.
Todos eles soltaram um grito de triunfo enquanto colocavam as varas de volta no lugar e correram para ajudar Elden e O’Connor a sujeitar as cordas. Krohn uivou ao lado deles, animado com tudo.
O barco estava à deriva e Thor correu para o leme, O’Connor ia ao lado dele.
“Quer ficar ao leme?” Thor perguntou a O’Connor.
O’Connor sorriu de orelha a orelha.
“Eu adoraria.”
Eles começaram a ganhar velocidade real, cruzando as águas amarelas do Tartuvian com o vento em suas costas. Finalmente, eles estavam se movendo e Thor respirou fundo. Eles estavam partindo.
Thor se encaminhou para a proa, Reece ia ao lado dele, enquanto isso Krohn surgiu entre eles e encostou-se na perna de Thor, Thor estendeu a mão e acariciou sua pele branca e macia. Krohn se inclinou e o lambeu; Thor pegou um pequeno saco e tirou dele um pedaço de carne para Krohn, quem o abocanhou rapidamente.
Thor olhou para o vasto mar diante deles. O horizonte distante estava salpicado de navios negros do Império, seguramente eles seguiam seu caminho para o lado do Anel dos McCloud. Felizmente, eles estavam distraídos e não era possível que estivessem à procura de um barco solitário que se dirigia para o seu território. O céu estava claro, o vento soprava forte por trás deles e eles continuaram a ganhar velocidade.
Thor olhou em volta e se perguntava sobre o que os aguardava. Ele se perguntava quanto tempo levaria até que chegassem até as terras do Império e o que poderia estar esperando para recepcioná-los. Ele se perguntava como eles iriam encontrar a espada, como tudo isso acabaria. Ele sabia que tudo estava contra eles, mas ainda se sentia animado por finalmente estar de viagem. Ele estava emocionado por terem chegado tão longe e realmente ansioso para recuperar a Espada.
“O que acontecerá se ela não estiver lá?” Perguntou Reece.
Thor se virou e olhou para ele.
“A espada.” Reece acrescentou. “O que acontecerá se ela não estiver lá? Ou se ela estiver perdida? Ou se foi destruída? Ou até mesmo se nós nunca chegarmos a encontrá-la? Afinal de contas, o Império é muito vasto.”
“E se o Império já descobriu como lidar com ela?” Perguntou Elden com sua voz profunda, chegando perto deles.
“E se a gente encontrá-la, mas não puder trazê-la de volta?” Perguntou Conven.
O grupo ficou ali, oprimido por tudo o que estava diante deles, pelo mar de perguntas sem resposta. Aquela viagem era uma loucura, Thor sabia.
Uma loucura.
CAPÍTULO QUATRO
Gareth passeava sobre os pisos de pedra da biblioteca de seu pai, era uma pequena câmara no último andar do castelo, a qual seu pai havia mantido com muito carinho. Gareth pouco a pouco estava se encarregando de reduzi-la a pedaços.
Gareth ia de estante em estante puxando para baixo os volumes preciosos, livros antigos encadernados em couro que estavam na família há séculos. Ele destroçava as encadernações e rasgava as páginas em pedacinhos. Enquanto ele os jogava pelos ares, eles caíam sobre sua cabeça como se fossem flocos de neve, se aderiam ao seu corpo e a baba que escorria pelo seu rosto. Ele estava determinado a destroçar até a última coisa daquele lugar que seu pai tanto havia amado, um livro de cada vez.
Gareth correu para uma mesa de canto, pegou seu cachimbo de ópio e com as mãos trêmulas inalou fortemente o que restava nele, precisando de uma tragada mais do que nunca, naquele momento. Ele estava viciado e fumava cada minuto que podia, determinado a bloquear as imagens de seu pai. Elas o perseguiam em seus sonhos e agora faziam isso até mesmo quando ele estava acordado.
Quando Gareth baixou o cachimbo, ele viu seu pai de pé diante dele, seu aspecto era o de um cadáver em decomposição. Cada vez que o cadáver aparecia estava mais deteriorado, era mais osso do que carne; Gareth desviou o olhar da terrível visão.
Gareth costumava tentar atacar a imagem, mas ele aprendeu que isso não adiantava nada. Então, agora ele apenas virava a cabeça e olhava constantemente para longe. Era sempre a mesma coisa: o seu pai usava uma coroa enferrujada, sua boca estava aberta, seus olhos o fitavam com desprezo e seu dedo sempre esticado apontava acusadoramente para ele. Sob aquele olhar terrível, Gareth sentia que seus próprios dias estavam contados, sentia que era apenas uma questão de tempo até que ele se juntasse ao pai. Gareth odiava vê-lo mais do que qualquer coisa. O benefício extra que Gareth obteve ao assassinar seu pai tinha sido o fato de que ele não precisaria ver o rosto dele novamente. Mas agora, ironicamente, ele o via mais do que nunca.
Gareth virou-se e atirou o cachimbo de ópio na aparição, na esperança de que se ele o jogasse com rapidez suficiente, o cachimbo poderia realmente atingi-la.
Mas o cachimbo simplesmente voou pelos ares e bateu contra a parede, despedaçando-se. Seu pai ainda estava ali e olhava para ele.
“Essas drogas não irá ajudá-lo agora.” Seu pai ralhou.
Gareth não aguentou mais. Ele avançou para a aparição com as mãos estendidas pronto para arranhar o rosto de seu pai; mas como sempre, ele não encontrou nada além de ar. Dessa vez ele saiu tropeçando pelo quarto, colidiu com força na mesa de madeira de seu pai e desabou no chão junto com ela.
Gareth rolou no chão, sem fôlego, ele olhou para cima e viu que tinha cortado seu braço. O sangue escorria pela sua camisa, ele olhou para baixo e percebeu que ainda usava o camisolão com a qual tinha dormido durante dias; na verdade, ele não tinha trocado de roupa há semanas. Ele olhou de relance para o seu reflexo e viu que seu cabelo estava totalmente desgrenhado; ele parecia um bandido qualquer. Uma parte dele mal podia acreditar que tinha caído tão baixo. Mas outra parte dele já não se importava mais. A única coisa que restava dentro dele era um desejo ardente de destruir – destruir qualquer resquício de seu pai, ou do que ele alguma uma vez havia sido. Ele gostaria de ver aquele castelo arrasado e com ele toda a Corte do Rei. Seria a vingança pelo tratamento que ele havia suportado quando criança. As lembranças estavam presas dentro dele como um espinho que não podia sair. A porta do escritório de seu pai se abriu de par em par e por ela passou correndo um dos assistentes