Loti grita e salta para trás assustada, e Darius arrebenta as correntes, libertando-a enquanto o som distinto de metal corta o ar. Ela fica parada – livre, com as algemas ainda em volta de seu pescoço e a corrente pendurada na frente de seu peito.
Darius se vira e vê um olhar de igual perplexidade no rosto do capataz do Império, que observa tudo montado em sua cela na zerta. Os soldados que caminham ao seu lado também param, chocados ao verem Darius.
Darius fica ali com os braços tremendo e segurando a espada de aço diante dele, determinado a não demonstrar medo enquanto fica entre eles e Loti.
"Ela não pertence a vocês," Darius grita com a voz trêmula. "Ela é uma mulher livre. Somos todos livres!"
Os soldados olham para o capataz.
"Garoto," ele fala para Darius, "você acaba de cometer o maior erro de sua vida."
Ele faz um gesto para os soldados, que erguem suas espadas e partem para cima de Darius.
Darius continua segurando a espada com mãos trêmulas sem recuar e, ao fazer isso, sente a presença de todos os seus ancestrais. Ele sente a presença de todos os escravos que haviam sido mortos observando-o de algum lugar, dando-lhe forças para resistir, e começa a sentir um forte calor crescendo dentro dele.
Darius sente seu poder oculto começando a despertar, querendo ser invocado. Mas ele não quer fazer isso. Ele deseja lutar homem contra homem, ganhando deles como qualquer outro homem faria; usando todo o treinamento que havia recebido junto com seus companheiros. Ele quer ganhar como um homem, lutar como um homem com armas de verdade e derrotá-los num confronto de acordo com as regras deles. Ele sempre havia sido mais rápido que os garotos mais velhos, com suas espadas longas de madeira e seus corpos musculosos – mesmo contra garotos com o dobro de seu tamanho. Ele continua firme no lugar, e se prepara à medida que os soldados avançam em sua direção.
"Loti!" ele grita sem olhar para ela, "CORRA! Volte para a vila!"
"NÃO!" ela responde.
Darius sabe que precisa fazer alguma coisa; ele não pode simplesmente ficar ali esperando que eles o alcancem. Ele sabe que precisa surpreendê-los, fazendo algo que eles não possam prever.
Darius de repente ataca, escolhendo um dos soldados e correndo na direção dele. Eles se encontram no meio da trilha de terra, e Darius solta um grande grito de batalha. O soldado golpeia com a espada na direção da cabeça de Darius, mas Darius ergue sua espada e bloqueia o golpe, e suas espadas soltam faíscas ao se encontrarem; aquele é o primeiro impacto de metal contra metal que Darius havia sentido. A lâmina é mais pesada do que ele havia pensado, o golpe do soldado mais forte do que ela tinha previsto, e ele sente a vibração – sente todo o seu braço tremendo, do seu cotovelo até seu ombro. Aquilo tudo o pega desprevenido.
O soldado rapidamente dá outro golpe, tentando acertar Darius pelo lado, mas Darius se vira e bloqueia o golpe mais uma vez. Aquilo não é como duelar com seus irmãos; Darius tem a sensação de estar se movendo mais devagar do que o normal, e começa a sentir o peso da espada. Ele precisa de mais tempo para se acostumar com tudo aquilo. É como se o soldado estivesse se movendo duas vezes mais rápido do que ele.
O soldado dá mais um golpe, e Darius percebe que não será possível enfrentá-lo golpe a golpe, e que terá que recorrer à suas outras habilidades.
Darius dá um passo para o lado, desviando do golpe ao invés de tentar bloqueá-lo, e então bate com o cotovelo no pescoço do soldado. O golpe acerta em cheio e o homem engasga e cambaleia para trás, levando a mão ao pescoço. Darius ergue o punho de sua espada e bate com força nas costas expostas do soldado, derrubando-o de cara no chão.
Ao mesmo tempo, o outro soldado o ataca, e Darius vira e ergue sua espada, bloqueando o golpe que o soldado dá na direção de seu rosto. Mas o soldado continua avançando, derrubando Darius com força no chão.
Darius sente suas costelas sendo esmagadas pelo soldado que cai em cima dele, ambos deitados no chão no meio de uma nuvem de poeira. O soldado deixa sua espada de lado e leva as mãos ao rosto de Darius, tentando arrancar seus olhos.
Darius segura os pulsos do homem, impedindo-o de feri-lo, mas perdendo sua força a cada minuto. Ele sabe que precisa agir rápido.
Darius ergue um joelho e gira o corpo, conseguindo virar o homem de lado. Com o mesmo movimento, ele estica o braço e extrai uma longa adaga que o soldado carrega no cinturão – e rapidamente a enfia no peito do homem ao mesmo tempo em que os dois rolam no chão de terra.
O soldado grita e Darius continua deitado em cima dele, e vê o homem morrer diante de seus olhos. Darius fica ali, paralisado – chocado. Aquela é a primeira vez que ele mata um homem. Aquela tinha sido uma experiência surreal, e Darius se sente vitorioso e triste ao mesmo tempo.
Darius ouve um grito atrás dele e, saindo de seu devaneio, se vira para encarar o soldado que ele havia derrubado no chão e que agora está em pé e correndo na direção dele. O soldado ergue a espada e dá um golpe no rumo da cabeça de Darius.
Darius espera – concentrado, e então desvia no último segundo e o soldado passa tropeçando por ele.
Darius se abaixa, retira a adaga do peito do soldado morto e se vira, e quando o soldado volta a atacá-lo, Darius – de joelhos, se inclina e arremessa a adaga.
Ele assiste enquanto a adaga atravessa o ar e finalmente se aloja no coração do soldado, perfurando sua armadura. O próprio aço do Império – melhor do que todos os outros – acaba de ser usado contra eles. Talvez, Darius pensa, eles devessem fazer armas menos afiadas.
O soldado se ajoelha com os olhos arregalados e então cai para o lado, morto.
Darius ouve um grito alto atrás dele e se levanta rápido, e ao se virar se depara com o capataz desmontando de sua zerta. Ele faz uma careta e joga sua espada no chão, partindo para cima de Darius com um grito de guerra.
"Agora serei obrigado a matar você com minhas próprias mãos," ele grita. "Mas eu não vou simplesmente matá-lo, eu vou torturar você e toda a sua família e sua vila inteira, bem lentamente!"
Ele ataca Darius.
Este capataz é obviamente um soldado melhor que os outros – mais alto e mais forte, e sua armadura é superior. Ele é um guerreiro endurecido, o maior guerreiro que Darius já havia enfrentado. Darius tem que admitir sentir medo daquele terrível adversário – mas ele simplesmente se recusa a demonstrar suas emoções. Em vez disso, ele está determinado a enfrentar seu medo, recusando-se a se permitir ser intimidado. Ele é apenas um homem, Darius repete para si mesmo. E todos os homens podem ser derrotados.
Todos os homens podem ser derrotados.
Darius ergue sua espada ao mesmo tempo em que o capataz parte para cima dele, golpeando com sua grande espada que brilha sob a luz enquanto ele a segura com as duas mãos. Darius desvia e bloqueia; o homem golpeia de novo.
De um lado para o outro, o soldado dá golpes e Darius bloqueia, e o barulho de metal invade seus ouvidos à medida que faíscas voam ao seu redor. O homem o empurra cada vez mais para trás, e Darius precisa de todas as suas forças apenas para bloquear seus golpes. Ele é forte e rápido, e Darius está preocupado demais apenas em se manter vivo.
Darius se defende de um golpe um segundo tarde demais, e grita de dor quando o capataz consegue atingi-lo e acaba cortando o seu braço. É apenas um ferimento superficial, mas a dor é real e Darius sente o sangue escorrendo – seu primeiro ferimento em uma batalha – e fica atordoado.
É um erro. O capataz tira vantagem de sua distração e o golpeia com sua manopla. Darius sente uma dor profunda no maxilar quando o metal encontra seu rosto e, ao ser jogado diversos metros para trás, ele curiosamente pensa que nunca mais vai parar no meio de uma batalha para verificar seus ferimentos.
Ao sentir o gosto de sangue em seus lábios, a fúria toma conta de Darius. O capataz – partindo para cima dele mais uma vez, é grande